Até mais, Papa Francisco; por Giovanni Cavalcoli O.P.

Até mais, Papa Francisco; por Giovanni Cavalcoli O.P.

Até mais, Papa Francisco

Dizem que o Papa Francisco “voltou ao Pai”, não, o Papa Francisco foi ao Pai, apresentou-se ao juízo de Deus, justo e misericordioso. Apenas Cristo, ao ascender aos céus, voltou ao Pai, pois, sendo Filho de Deus gerado antes de todos os séculos, havia saído do Pai. Já Francisco, como toda criatura humana, não “saiu” do Pai, mas foi criado por Deus do nada. Agora, porém, vive para sempre na casa do Pai.

Papa Francisco nos precedeu no lugar aonde nós, cristãos, desejamos ir: à casa do Pai. Portanto, ele não voltou, pois nunca ali esteve antes. A casa do Pai não nos é um déjà vu, mas um lugar que olhos humanos jamais viram. “Ele seguiu adiante”, como dizem os Alpini italianos sobre os companheiros mortos em combate.

Foi comovente seu último passeio entre a multidão, dias atrás, na Praça São Pedro. Parece que ele não deu ouvidos ao conselho médico de se manter em máximo repouso e, talvez, esse esforço final lhe tenha sido fatal. Vejo esse gesto generoso extremo como a doação de sua vida, na condição física de não poder mais falar ou agir como antes. Uma despedida final, como se pressentisse o fim.

Francisco encerrou sua batalha contra o demônio, da qual ele mesmo nos falou tantas vezes, vivendo-a certamente em primeira pessoa, pois ninguém daria instruções tão concretas sem tê-la experimentado. Como bom jesuíta, foi nosso diretor espiritual.

Agora, Francisco repousa em paz junto a Jesus, de quem foi vigário. E se ele sempre pediu orações por si, agora continuamos a rezar por sua alma, enquanto ele reza por nós. Em breve, esperamos revê-lo na alegria dos santos. Deixou-nos para preparar-nos um lugar, pois, onde ele está, poderemos estar também nós, que acolhemos sua guia na Terra como vigário de Cristo.

Seu último discurso no Angelus de Páscoa foi sua obra-prima de todos seus discursos. Revelou um Francisco purificado e refinado pelo sofrimento. Expressou sentimentos nobilíssimos, lançou um olhar universal sobre toda a humanidade, como verdadeiro pai comum de todos os povos, com atenção sincera às guerras atuais, com um olhar amplo, elevado e sereno, para além da morte, para a ressurreição em Cristo, com confiança nos recursos de todos, participação na dor dos que mais sofrem e dos que sofreram injustiças, abandono nas mãos de Deus, exortação ao diálogo e à deposição das armas, esperança invencível no auxílio divino e apelo à conversão dos nossos pecados.

Algo que nos agrada é a chegada de mensagens de condolências, de elogios admirados e de tom laudatório ao seu pontificado e à sua ação humanitária, especialmente em favor da justiça e da paz, por parte de chefes de Estado, líderes religiosos e políticos do mundo inteiro.

Talvez haja algum motivo para preocupação, já que Cristo nos alertou para não ficarmos satisfeitos com o fato de todos falarem bem de nós, porque é isso que o mundo faz com os falsos profetas, enquanto João, por sua vez, nos alerta que é sinal de um bom cristão ser odiado pelo mundo. Uma suspeita que podemos ter é que certos elogios são egoístas e apropriados para aqueles que gostariam de instrumentalizar o Papa.

E de fato, se considerarmos a vida dos santos, começando pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, notaremos que todos eles sofreram ou foram perseguidos nas mãos dos inimigos de Cristo. Ora, não digamos que não há inimigos de Cristo hoje. Podemos, todavia, dizer que desta vez eles não se fizeram ouvir. Por quê? Creio que há duas explicações: ou porque têm medo ou porque são desdenhosos.

Em todo caso, é indubitável que um dos principais méritos deste pontificado foi conferir ao papado um prestígio talvez nunca antes visto no plano dos valores humanos universais, de modo a atrair a atenção e a estima dos homens de boa vontade pertencentes às mais diversas nações, povos, agrupamentos, culturas e religiões.

Qual voz entre os líderes mundiais, mais do que a do Papa Francisco, foi capaz de inspirar respeito por sua sabedoria, equilíbrio e imparcialidade, para além de qualquer interesse terreno ou político, em relação ao árduo, dramático e extremamente delicado problema da paz e da justiça no mundo e entre as nações?

Onde me parece que algumas observações precisam ser feitas sobre o pontificado do Papa Francisco é no campo do governo da Igreja, que há sessenta anos é agitada pelo doloroso conflito e pela escandalosa competição entre passadistas e modernistas. Acredito que o Papa Bento XVI conseguiu fazer uma obra mediadora entre um e outro, mas me parece que Francisco não conseguiu levar adiante a obra de Bento, devido à sua tendência à excessiva indulgência para os modernistas e à severidade excessiva com os passadistas.

Em segundo lugar, Bento não se limitou a propor a implementação do Concílio Vaticano II e a se opor à hostilidade dos passadistas em relação a ele, mas fez uma distinção muito importante entre interpretações verdadeiras e falsas do Concílio, além de reconhecer que na parte pastoral havia pontos discutíveis.

O Papa Francisco não abordou nem um nem o outro discurso, limitando-se a dizer drasticamente que quem não aceita o Concílio está fora da Igreja, com o resultado de não reconhecer a parte correta da crítica passadista ao bonismo do Concílio e de favorecer os modernistas que se apresentam como arautos do Concílio, enquanto são seus falsificadores.

Creio que o próximo Papa terá de retomar os pontos positivos do papado de Francisco, como a promoção dos valores humanos da fraternidade, da igualdade, da liberdade, da misericórdia, do pluralismo, do diálogo, da ecologia, mas, ao mesmo tempo, retomar o trabalho interrompido de Bento XVI, com mais compreensão para com os tradicionalistas e pisar no freio com os modernistas.

Superando um pastoralismo pedestre e atarefado, é preciso redescobrir a sensibilidade doutrinal de um São Paulo VI ou de um Pio XII, para o bem da própria pastoral, a qual, privada da preocupação com a verdade, permanece presa no labirinto da história e nas armadilhas do relativismo e da mundanidade.

Eu também sugeriria recuperar a sensibilidade de São João Paulo II, o Papa eslavo, pela reconciliação do Ocidente com o Oriente, em particular é preciso que os povos europeus, especialmente os povos eslavos, redescobrissem suas raízes cristãs que precedem o segundo milênio, quando todos os cristãos europeus estavam em comunhão com Roma.

Pe. Giovanni Cavalcoli

Fontanellato, 21 de abril de 2025

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