Nota introdutória, Vitor G. Calado
Este texto de Lachmann busca tratar da controvérsia de Cambridge, criticando tanto o lado dos economistas neoclássicos com suas teorias de equilíbrio quanto o lado neo-ricardiano de Sraffa, Robinson e outros pela grave falta do subjetivismo na análise econômica. O característico do estágio do pensamento econômico na época deste escrito era, segundo o próprio autor, de confusão. A partir da crítica às duas posições dominantes, Lachmann propõe à sua maneira, e com suficiente rigidez, uma terceira coisa: economia austríaca. Delineando os posicionamentos distintivos dessa escola que nasceu na época das teorias de Menger.
Economia austríaca na presente crise do pensamento econômico
[Retirado de Capital, Expectations, and the Market Process, Parte I, cap. II]
Ludwig Lachmann
Traduzido por José Aldemar Santos Pereira Júnior
1.
No atual estado confuso do pensamento sobre problemas econômicos, já pode ser a hora de estabelecer um esboço sucinto de uma posição que nós podemos, com alguma justificação, denotar como “austríaca”.
Isso tem de ser feito numa situação de agitação considerável. Enquanto a contrarrevolução Ricardiana de nossos dias tem, assim, fracassado bastante em apresentar quaisquer novos insights que sejam originais ou convincentes, as forças neoclássicas invocadas para resistir já parecem estar desalinhadas.[1]
Talvez esse seja um fenômeno temporário devido à breve investida com que os atacantes conduziram suas incursões; talvez isso seja uma trair um senso de insegurança, refletindo uma consciência de fraqueza de suas posições.
Em outro lugar nós aprendemos, menos de três décadas após a morte de Keynes, sobre uma crise na economia keynesiana. E se um pensador tão perspicaz como o Professor G. L. S. Shackle escolhe dar a sua obra mais madura, Epistemics and Economics, o subtítulo: Critique of Economic Doctrines (Cambridge: Cambridge University Press, 1972), a implicação de que as coisas não estão bem com mais de uma doutrina é digno de nota.
A principal razão para um pronunciamento austríaco é que, caso contrário, uma contribuição possivelmente interessante para a discussão de alguns problemas atualmente em disputa pode ocorrer por padrão. Mas existem outras razões, algumas das quais lidaremos mais tarde.
Uma delas surge do fato que, enquanto uma certa corrente de pensamento Austríaco tem, ao longo das últimas poucas décadas, se fundido com, e embutido, aquilo que vem a ser chamado de síntese neoclássica, alguns austríacos têm recusado considerar isso como uma união feliz. Eles e seus herdeiros podem sentir que a necessidade do divórcio é forte agora.
Há, no entanto, também uma questão contra tal pronunciamento austríaco. Sua força se dá a partir de um desgosto pelo que muitos considerarão como um empreendimento de divergência interna. A visão amplamente aceita é que “escolas de pensamento” pertencem ao estágio de adolescência de uma disciplina.
Temos escutado dizer que há apenas boa e má economia, portanto não haveria lugar para a economia austríaca. Uma disciplina madura, dizem-nos, continua a fundir o que é de melhor nas contribuições de várias escolas e a descartar o resto. Tal síntese pode não ser fácil de conquistar, mas nós não devemos fazer coisa alguma para prejudicá-la.
Parece-nos, entretanto, que a validade de tais visões depende da época em que se vive. Há, na história do pensamento econômico, épocas de convergência e épocas de divergência[2].
O período entre 1890 e 1914, a época de Fisher, Marshall, Pareto, e Wicksell, na qual a síntese neoclássica nasceu, era uma época de convergência na qual rios fluíam de diversas fontes e se misturavam para formar uma corrente maior.
A nossa, ao contrário, é uma época de divergência. Já descrevemos a cena na qual debates de alto nível na teoria econômica são buscados hoje com uma considerável turbulência.
Quando facções já são existentes, quem é que pode ser incriminado por aderir a alguma delas? Onde os ares estão cheios de clamores de rivais, quem pode ser censurado por levantar uma voz de dissidência? Numa época de convergência, um empreendimento como o nosso pode ser desaprovado; numa época de divergência, nossa dissidência dificilmente poderá ser condenada.
2.
O fato que o Sir John Hicks deu ao seu recente livro Capital and Time o subtítulo A Neo-Austrian Theory [Oxford: Clarendon Press, 1973] aumenta a confusão reinante sobre nossa cena metodológica.
Enquanto isso constitui um obstáculo, ao mesmo tempo nos dá uma oportunidade de exibir certos aspectos do pensamento austríaco ao contrastá-los com o bem articulado pensamento de um grande contemporâneo. Pois ao confrontar esse livro o economista “austríaco” de nossos dias está compelido a afirmar que ele não é neo-austríaco no sentido hicksiano; e, é claro, ele tem de explicar por que ele não o é antes de poder elaborar sua própria contribuição positiva.
Mas o próprio fato de ele ter de justificar sua recusa em seguir Hicks o permite fazer com que seu leitor fique gradualmente familiarizado (de um modo que de outra forma não poderia ser chamado como tal) com algumas ideias austríacas, primeiro por mostrar que elas não se encaixam no molde hicksiano, depois por demonstrar seus usos positivos ao compreender um mundo dinâmico. Isso, então, torna possível examinar o mesmo objeto sucessivamente de vários ângulos.
Esse não é o local para fazer uma resenha do notável livro do Sir John.[3] Nem mesmo nos ocorre fazer justiça a isso como uma tentativa de esclarecer algumas de nossas confusões contemporâneas.
Tudo o que nos interessa mostrar aqui é que uma grande porção do que nos é oferecido como neo-austríaco está em desacordo com o que devemos considerar como princípios austríacos.
Não foi sem motivo que Menger considerou a teoria de Böhm-Bawerk como “um dos maiores erros já cometidos”[4]. Böhm-Bawerk era, pelo menos em sua teoria do capital e juros, um ricardiano. Ele se interessava pelo capital tão somente como um receptáculo de fluxo de juros, ele ricardianamente perguntou por que e como os donos dos “produtos intermediários” conseguem traçar uma renda permanente de suas riquezas como se elas fossem fator dos proprietários. Ele encontrou uma resposta ricardiana para essa questão.
Hicks seguiu Böhm-Bawerk ao enfatizar a dimensão temporal da produção, mas também emprega um tipo de análise sequencial como fornecedora das linhas causais para traçar o desdobramento gradual dos efeitos da inovação tecnológica sobre a distribuição de renda e crescimento.
É mostrado a nós como, com o passar do tempo, esses efeitos gradualmente se mostram como estágios sucessivos da produção. O tempo aqui é tanto a dimensão de produção quanto a dimensão na qual os efeitos da mudança se evidenciam.
A fim de alcançar a sequência de análise e formular uma teoria da “travessia” de um caminho de equilíbrio para outro, Hicks tem de fazer duas hipóteses, a saber, expectativas estáticas e a existência de apenas um bem.
A primeira significa que os agentes em seu modelo sempre anseiam que o futuro seja exatamente como o presente. A objeção Austríaca quanto a essa hipótese repousa não simplesmente sobre sua falta de realismo, por mais impressionante que seja.
Podemos realmente imaginar empregadores que, apesar de experienciar continuamente o aumento das taxas salariais, não obstante sempre anseiam que seus custos salariais futuros sejam os mesmos do presente? Muito pior é essa hipótese impedir efetivamente aquilo que, do ponto de vista austríaco, são alguns dos problemas mais importantes concomitantes à mudança nunca venham à tona.
A economia austríaca reflete uma visão “subjetivista” do mundo. A natureza subjetiva das preferências humanas é a sua raiz. Mas, num mundo de mudanças, o subjetivismo das expectativas é talvez ainda mais importante que o subjetivismo das preferências.
A hipótese de “expectativas estáticas”, todavia, significa não simplesmente que expectativas como forças autônomas causando mudança econômica são ignoradas de forma que um mecanismo de outras forças podem ser exibidos em sua “forma pura” mas também que a diversidade de expectativas, o padrão de expectativas inconsistentes mantidas por diferentes indivíduos ao mesmo tempo, que nós encontramos no mundo real, não podem sequer ser notados.
Expectativas estáticas significam nada além de as mentes de todos os agentes operando segundo um padrão idêntico e ao mesmo tempo. Uma das conquistas da revolução subjetivista é, assim, escancaradamente anulada.
A outra hipótese de Hicks, o mundo com apenas uma mercadoria, não é menos aberta à objeção de um ponto de vista austríaco. Mas como uma crítica disso também teve uma parte proeminente na contrarrevolução neo-ricardiana, ao menos em um estágio, isso será mais convenientemente tratado em nossa próxima sessão.
Uma vez que o rótulo de “neo-austríaco” tem sido antecipado por Hicks por sua própria corrente teórica, nós somos incapazes de nomear o ponto de vista a ser elucidado aqui como “neo-austríaco”.
Poderíamos talvez chamá-lo de neo-mengeriano, à lá Mises, ou mesmo paleo-austríaco. Cada um desses seria um rótulo estranho. Confiamos que se, no que se segue, simplesmente chamarmos isso de austríaco sem um epíteto o leitor compreenderá o que queremos dizer com isso.
3.
Desde que Sraffa, em 1960, deu o sinal, o ataque à teoria geral de equilíbrio Pareto-Walrasiana tem permanentemente ganhado terreno.[5] De um ponto de vista austríaco o forte viés antisubjetivista do movimento neo-ricardiano é naturalmente razão suficiente para se opor a ele.
Um estilo de pensamento econômico no qual não há espaço para preferências humanas, muito menos preferências temporais, dificilmente é aceitável para os herdeiros de Menger.
Mas algumas das armas que os neo-ricardianos têm usado em seus ataques à cidadela neoclássica são um dos maiores interesses intrínsecos ao estudante do campo de batalha intelectual. Elas poderiam vir a ser úteis para outros propósitos. Valerá a pena nosso tempo olhá-las mais de perto e ver o que nós aprendemos delas.
De uma fonte comum na obra de Wicksell, duas grandes correntes da teoria do capital surgiram ao longo dos últimos cinquenta anos. Uma é a distinta linha Austríaca que encontramos manifestada na obra do Professor Hayek, em Prices and Production (London: George Routledge, 1931); em “The Maintenance of Capital” (Economica 2 [Agosto, 1935]: 141-276); and in The Pure Theory of Capital (London: Routledge & Kegan Paul, 1941). Aqui a ênfase está na importância de movimentos de preços relativos e na impossibilidade de aferir investimento sem um critério para a manutenção de um estoque de capital heterogêneo.
A outra linha encontra proeminente expressão na bem conhecida crítica da teoria de capital neoclássica da professora Joan Robinson. Aqui, os problemas enfatizados por Hayek são ignorados.
O fato de que, em todos esses anos, não houve, sem nenhuma exceção notada abaixo, praticamente contato algum entre essas duas correntes é, obviamente, apenas outro reflexo da presente crise do pensamento econômico.
No que se segue, tentamos mostrar que uma busca afiada das implicações de alguns argumentos usados no curso da contrarrevolução neo-ricardiana nos levará a lugares remotos, distante da solidez das montanhas da macroeconomia, e a adentrar campos nos quais o que acontece depende da ação individual e das expectativas, que, é claro, não precisam ser consistentes.
No percurso dessa busca, uma das principais fontes de inspiração keynesiana fica bastante manchada. Três exemplos servirão ao nosso propósito.
- Desde que a professora Joan Robinson proclamou “a generalização da Teoria Geral” como o objetivo dela, os economistas de Cambridge afeiçoados por serem descritos como “neo-ricardianos” assumiram um interesse na teoria do crescimento. Nesses esforços a noção de investimento, o famoso I = S [Investment = Saving, Investimento = Poupança] de Keynes, naturalmente tem um papel proeminente. Como pode seu uso ser reconciliado com o, agora aceito, fato de que fora do equilíbrio de longo prazo um estoque de capital mensurável não existe? A resposta típica é que investimento é um fluxo, não um estoque, e, assim, está isento de tais objeções. Mas essa resposta se aplica apenas para o investimento bruto, não àquela parte que diz respeito ao crescimento. Podemos isolar esse último elemento sem ter de nos preocupar com a manutenção do estoque de capital?
Keynes definiu “o investimento do período” como “o acréscimo ao equipamento de capital como um resultado das atividades produtivas do período”[6].
Mas se não podemos mensurar esse equipamento de capital, como iremos saber o que constitui um acréscimo a isso? Assumir que, no curto período de tempo, o capital é por definição constante e assim proporcionar um terreno firme para nossa atividade de acréscimo, seria ignorar a inocência pré-wickseliana da definição marshaliana.
O fato estranho consiste na suposta magnitude macroeconômica mensurável “I” [Investimento] ter de ser mensurada por meio de outra magnitude baseada na valoração subjetiva.
Keynes estava bem consciente do problema. Ele explicitamente concordou com o Professor Hayek “que o conceito de poupar e investir sofrem de uma correspondente vagueza”[7], mas acrescentou que isso se aplica apenas à poupança líquida e ao investimento líquido, uma vez que eles dependem da valoração subjetiva.
Em comparação, “poupança e investimento, que são relevantes para a teoria do emprego, estão livres desse defeito, e são capazes de definição objetiva”.[8]
Na verdade, logo aprendemos que isso não é bem assim. Pois a própria noção de Keynes de investimento, comparado com o contaminado “investimento líquido”, é definido como investimento bruto menos custo de uso, como A1 - U. No “Apêndice sobre Custo de uso” Keynes admite que o “custo de uso parcialmente depende das expectativas quanto ao nível futuro dos salários” e que “é o sacrifício esperado do benefício futuro envolvido no uso presente que determina a quantidade do custo de uso”.[9]
Então, o investimento keynesiano, afetado pelo custo de uso, não é de forma alguma “capaz de definição objetiva”. O custo do usuário depende das expectativas, que são tão subjetivas quanto as preferências. Investimento torna-se tão “objetivo” quanto o estoque de capital.
- De Ricardo ao professor Pasinetti, a diferença entre uma “economia de grãos clássica” e um mundo multimercadorias tem sido frequentemente usada como uma base para argumentos críticos de todos os tipos. Tem sido um padrão da crítica sobre a teoria de Böhm-Bawerk que, a fim de demonstrar a maior produtividade da produção indireta [roundabout], precisamos, enquanto ponto de referência, de um sistema de preços invariante às mudanças nos juros e salários, que são resultado necessário da produção indireta. Além disso, num mundo multimercadorias o fundo de subsistência precisa consistir de bens salariais na precisa proporção em que os assalariados desejam gastar suas rendas neles, do contrário haverão ganhos e perdas de capital. A principal crítica de Pasinetti à “taxa de retorno sobre os custos” de Irving Fisher tem sido que o sistema de preços de um mundo multimercadorias implica numa taxa de lucro uniforme, e que “explicar” a taxa de retorno sobre o capital em termos de oportunidades de lucro inerente em tal sistema de preço não é uma explicação válida.
Parece-nos, entretanto, que o argumento pode ser transformado e usado para evidenciar não apenas a inconsistência de certas conclusões contidas na base da teoria de equilíbrio, ou mesmo de um dispositivo heurístico tal como a “taxa de retorno sobre os custos” de Fisher, mas também a fraqueza da noção de “sistema de preços” num mundo de mudanças.
Num mundo no qual os preços dependem da oferta e da demanda numa multidão de mercados, um sistema de preços constante é quase inconcebível. Preços relativos mudam todos os dias por uma razão ou outra, por mudanças no conhecimento que podem ocorrer em ambos os lados do mercado, por exemplo.
Um ricardiano poderia dizer que essas flutuações diárias são em torno de um nível de equilíbrio determinado por “forças subjacentes” como tecnologia e nível salarial, mas, à parte a tecnologia em mudança, ele pode dizer aquilo apenas caso considere a demanda como uma força efêmera.
Tão logo consideramos a demanda como um “dado”, alterações de preços diárias refletem mudanças nos dados.
Concluímos que um sistema de preço que implica uma taxa uniforme de lucro e taxa uniforme de salário não pode existir.
As forças que tendem a acarretar isso sempre serão mais fracas que as forças de mudança. Para a explicação dos fenômenos observados numa economia de mercado isso é inútil.
O mercado é um processo contínuo, não um estado de coisas “dado”. Taxas divergentes de lucro num mundo multimercadorias são resultado de mudança e causa de ainda mais mudança.
- Num mundo de uma única mercadoria o estoque de capital é homogêneo e fisicamente mensurável. Num mundo multimercadorias o estoque perde essa propriedade e se torna heterogêneo. Aqui, como vimos no caso dos fundos de subsistência de Böhm-Bawerk, surge o problema de sua composição ou estrutura. Onde vários bens de capital são duráveis e específicos, o estoque nunca terá sua “composição de equilíbrio”. Alguns bens de capital, quando esgotados, não serão substituídos por réplicas. Esse fato, é claro, apresenta um obstáculo à construção de qualquer teoria de equilíbrio de capital que se adeque a um modelo de equilíbrio geral. Mal seria uma surpresa se a maioria dos economistas neoclássicos escolhessem ignorar esse fato inconveniente. Alguns têm se levado a imaginar que eles descobriram um substituto para a ausente teoria da estrutura de capital numa teoria de consumo intertemporal – uma teoria de capital sem capital.
Para os neo-ricardianos o problema ao menos parecia existir. Nos escritos de Pasinetti encontramos referências ocasionais a isso. “Duas técnicas podem muito bem ser tão próximas quanto se deseje numa escala de variação da taxa de lucro, e ainda assim os bens de capital físicos que elas requerem podem ser completamente diferentes.”[10] Em sua resposta ao dr. Dougherty ele explicitamente descreve isso como “um dos resultados importantes do debate da recomutação da técnica.”[11] Em sua discussão bizantina com Professor Solow ele escreve, “As duas situações a e b que Solow compara diferem não apenas pelo único bem de consumo que ele toma por hipótese mas também por toda a estrutura de bens de capital”.[12]
Uma estrutura de capital é uma totalidade ordenada. Como ela vem a existir? O que a sustenta frente a mudança, em particular, a mudança inesperada? Essas são questões que agora pedem nossa atenção.
Uma estrutura de capital é composta da combinação de capital de várias firmas, nada disso é uma simples réplica miniaturizada da estrutura completa. O que faz com que se adequem nessa estrutura? Onde quer que tenhamos esperança de encontrar respostas para essas questões, deve ficar claro que elas não podem ser encontradas dentro do campo da macroeconomia.
Combinações de capital, os elementos da estrutura de capital, são formados pelos empreendedores. Sob pressão das forças de mercado, os empreendedores têm de reembaralhar as combinações de capital em intervalos, bem como têm de variar suas linhas de inputs e outputs.
Mudança na distribuição de renda é apenas uma dessas forças. “Recomutação de capital” num mundo de capital heterogêneo é simplesmente um exemplo do reembaralhamento da combinação do capital existente.
No campo da teoria do capital, a crise do pensamento econômico tem levantado uma situação recheada de ironias. Os neo-ricardianos descobriram uma gama de problemas com os quais são incapazes de lidar, uma vez que isso só pode ser feito num micronível, um nível ao qual seus comprometimentos macroeconômicos não lhes permite descer.
Seus oponentes neoclássicos entretanto, enquanto não incomodados por tais escrúpulos, preferem, ao invés disso, ignorar esses problemas completamente. Voltam-se então a uma teoria de capital sem capital.
4.
Substanciar a dissidência Austríaca dos economistas neoclássicos não é uma tarefa fácil. Como notamos acima, algumas linhas austríacas de pensamento têm surgido no mainstream daquilo que podemos chamar de síntese neoclássica.
Alguns pensadores Austríacos estavam bastante contentes em ver sua escola perder sua identidade dentro dessa união mais ampla. Outros se sentiram menos felizes quanto a isso.
Uma razão, menos superficial do que poderia parecer, de por que nossa tarefa é difícil, repousa na necessidade de fazer o leitor ver o estabelecimento neoclássico presente e suas doutrinas principais numa perspectiva que não é sua própria, uma na qual pupilos nas melhores escolas não são ensinados a ver no mundo econômico, sem mencionar os produtos da indústria de livros didáticos, e que, assim, provavelmente ser é familiar ao leitor.
Por enquanto, a maioria dos economistas têm aprendido que o mundo visto pela perspectiva ricardiana é diferente do mundo visto na, digamos, perspectiva samuelsoniana. Mas outras perspectivas são possíveis.
Podemos, por exemplo, ver ambas perspectivas mencionadas como simples variantes de um estilo de pensamento que poderíamos descrever como formalismo clássico tardio. É uma característica de seu modo de pensar que para o mesmo as manifestações da ação humana espontânea aparece na aparência de entidades formais, a existência contínua da qual pode apenas ser assegurada ao impor restrições sobre a espontaneidade.
A fim de sustentar objeções austríacas às doutrinas neoclássicas, devemos então elucidar uma “terceira perspectiva” enraizada no subjetivismo. Mas quando falamos que o problema central aqui é proveniente de uma abordagem diferente do problema do conhecimento e sua relevância para a ação econômica, muitos leitores poderiam recusar a nos seguir naquilo que eles considerariam como um campo da filosofia.
Nessas circunstâncias será melhor começar indicando duas áreas que não estão em disputa, apesar do que algumas vezes foi dito no passado. O professor Jaffé, em sua resenha do volume Carl Menger and the Austrian School of Economics (ed. J. R. Hicks e W. Weber [Oxford: Oxford University Press, 1973]), fala “os austríacos, que não estavam interessados na precisão matemática da determinação do preço de equilíbrio à la Walras, mas antes procuraram pelo intervalo dentro do qual qualquer preço seria vantajoso para ambos lados dos participantes das trocas.”[13]
É o suficiente dizer que a introdução da noção de núcleo nos recentes escritos neoclássicos tem removido esse ponto de disputa.
Segundo, a diferença tem algumas vezes sido traçada por uma preferência por análise processual por parte dos austríacos e por análise de equilíbrio pelos economistas neoclássicos, uma diferença entre análise “genético-causal” e análise “funcional”.[14]
Mas essa diferença não é essencial de nenhuma forma no que diz respeito ao estilo de pensamento. Um tipo de teoria de equilíbrio que emprega análise de processo para mostrar como vários equilíbrios são alcançados é bastante concebível. A “travessia” do Sir John Hicks vem prontamente em mente.
Forjar cadeias de causação não está além do poder da mente neoclássica. não vimos nenhuma razão por que as tentativas agora feitas em tais quadrantes de “exigir de nossa noção de equilíbrio que ela deva refletir o caráter sequencial da economia atual” poderiam não ter sucesso.[15] Se eles conseguissem, o problema seria eliminado.
O real problema é muito mais profundo. Pegamos um primeiro lampejo disso quando, com uma mente crítica e um ar de inocência, seguimos a introdução típica para a teoria de equilíbrio geral.
Somos apresentados a três classes de “dados”: gostos, recursos, e conhecimento, que servirão como nossas “variáveis independentes”. Isso é, obviamente, muito desconcertante, na medida em que conhecimento não “existe” da mesma forma que rios e máquinas escrever existem. Como vamos determinar aquela mudança no conhecimento que simplesmente compensaria uma mudança nos recursos de modo a preservar uma situação de equilíbrio já existente? E qual é a significância econômica dos gostos e recursos que ninguém conhece?
Uma reflexão mais minuciosa mostra que o que se quer dizer aqui como conhecimento enquanto “dado” é simplesmente conhecimento técnico acerca do uso dos recursos, enquanto gostos e recursos tais como são conhecidos por cada participante no mercado. Quando eles mudam, o fato é por sua vez conhecido por todo o mercado, e isso não constitui uma mudança separada de dados. Tal conhecimento universal de mercado por cada participante é simplesmente tomado como garantido.
A economia neoclássica, então, opera com dois tipos de conhecimento; um aparece como uma variável independente e o outro não. Nos escritos neoclássicos, desde conselhos presidenciais até livros didáticos, esse fato nunca é mencionado.
Em comparação, a economia austríaca não toma nenhuma forma de conhecimento como garantida. Para ela, o mercado aparece como um processo contínuo no curso do qual o conhecimento possuído por alguns participantes se difunde para os demais, enquanto novo conhecimento é adquirido por alguns, e alguns conhecimentos prévios se tornam obsoletos.
O leitor agora entenderá por que nós falamos que o problema do conhecimento está no fundo de nossa disputa.
É desnecessário dizer que é possível modificar o rigor da suposição sobre o conhecimento universal do mercado, e isso tem sido feito recentemente. O padrão de conhecimento de mercado limitado então se torna um novo “dado”. Mas tal hipótese de forma alguma afeta a verdadeira fraqueza do modelo de equilíbrio, que é que conhecimento de qualquer que seja o tipo é aqui tratado como um dado externo e não como, ao menos parcialmente, um produto do processo de mercado.
Poderia o conhecimento de mercado existir independentemente do que acontece no mercado? Alguns aspectos do problema são melhor elucidados ao se referenciar duas afirmações feitas pelo professor Hahn em sua recente palestra inaugural: “Direi que um agente está aprendendo se sua teoria não é independente do dado ‘t’. Essa será uma condição do agente estando em equilíbrio que ele não está aprendendo.”[16]
É difícil conceber totalmente a gama de implicações aqui enfrentadas. Falando estritamente, isso significa que o equilíbrio num ponto do tempo é o único equilíbrio possível, uma vez que ele não envolve aprendizado.
Podemos duvidar, no entanto, se é isso que ele quis dizer. Pois se assim for, como pode esse tal equilíbrio sempre “refletir o caráter sequencial de economias atuais?” Então precisamos assumir que o professor Hahn encara algumas sequências temporais nas quais nada é aprendido por qualquer participante e outras nas quais algo é aprendido.
Desnecessário dizer, a variedade anterior não pode existir. Tempo e conhecimento estão vinculados. Tão logo permitamos que o tempo passe, permitimos que o conhecimento mude. O padrão do conhecimento nunca se engessa.
É dito a nós também que “os homens práticos e teóricos mal treinados em todos os lugares do mundo não entendem o que eles estão afirmando ser a questão ao afirmar um papel coerente e benéfico para a mão invisível”.[17] Aqui Hahn lamentavelmente não sabe que aqueles que ele critica concebem o mercado em termos muito diferentes do seu.
O que Hahn quer dizer é que apenas num sistema de mercado com mercados intertemporais perfeitos, incluindo “mercados futuros contingentes”, o ótimo de Pareto poderia ser alcançado.
No mundo real, no qual existem apenas uns poucos mercados antecipados, e praticamente nenhum para bens industriais, nenhum ótimo pode ser alcançado. Economistas “mal treinados”, também conhecidos como “austríacos”, não têm o direito de reivindicar o ótimo de Pareto para a economia do mundo real.[18]
Mas os austríacos não estão fazendo tal afirmação, e Hahn simplesmente não entende suas posições. Ele tacitamente assume que todos, como seus discípulos bem treinados, identificam a economia de mercado com um modelo de equilíbrio geral. Mas, para os austríacos, o mercado é um processo competitivo, não um estado de coisas dado.
Nenhum modelo de equilíbrio geral, independentemente do grande número de mercados intertemporais que ele inclua, pode servir como um símile para o processo de mercado da realidade, e o ótimo de Pareto é no melhor dos casos uma ficção irrelevante.
Os mercados do mundo real, ao contrário, enquanto rapidamente constituindo uma totalidade ordenada, invariavelmente faz surgir forças coordenantes, refletindo assim e, ao longo do tempo, gerando mudanças no padrão de conhecimento.
Numa economia de mercado, como Professor Kirzner afirmou,
[...] em qualquer dado momento, uma enorme quantidade de ignorância se põe no caminho da completa coordenação das ações e decisões dos vários participantes do mercado. Inúmeras oportunidades de trocas mutuamente benéficas [...] são prováveis de existir de modo não percebido [...] Uma questão normativa levantada por Hayek é quão bem o mercado consegue reunir aqueles pedaços de informação descoordenados dispersos por toda a economia. A coordenação bem sucedida desses pedações de informação não pode fracassar em produzir atividade coordenada–trocas– beneficiando ambos participantes.[19]
Em sua defesa da economia de mercado, os economistas “mal treinados” podem ter uma questão fraca ou forte. Essa questão não pode ser refutada em referência a um ótimo fictício irrelevante a ela.
Evidentemente os processos de mercado da realidade exigem um estudo mais minucioso do que eles receberam até agora. Tudo que Hahn tem a oferecer a seus discípulos bem treinados é um argumento que insinua aos outros uma utopia que é lhe é muito própria.
A mente formalista, podemos notar, incapaz de conceber um mercado de outra forma que não como um conjunto de relações determinadas, é inútil quando confrontada com um conjunto de forças cuja interação não produz nenhum resultado determinado.
A objeção austríaca não se aplica ao uso da noção de equilíbrio como tal. Ela se aplica ao seu mal uso indiscriminado em três diferentes níveis: do indivíduo, do mercado, e do sistema econômico.
Equilíbrio do indivíduo, chefe de família ou firma, como uma expressão de ação consistente, é de fato uma ferramenta indispensável de análise.
Equilíbrio envolvendo ação planejada por mentes diferentes envolve problemas completamente novos.
Equilíbrio num simples mercado, tal como um mercado de grãos marshalliano, ainda tem seu uso.
“Equilíbrio da indústria” já é mais difícil de lidar.
Quando falamos de “equilíbrio geral”, simplesmente estamos hipotetizando que, dentre as forças de interação entre os mercados, forças equilibrantes são de poder esmagador e prevalecerão sobre todos os obstáculos.
Também, eles devem ser capazes de fazer seu trabalho rapidamente, antes de qualquer mudança nos dados aconteça. Equilíbrio geral é então possível num mundo estacionário. Equilíbrio num mundo de mudança requer hipótese peculiares.
Nos escritos neoclássicos, procuramos em vão por argumentos que sustentem tais hipóteses fortes. Por isso é característico do estilo do pensamento formalista que um conceito achado útil em um contexto é frequentemente separado de seu habitat natural e indiscriminadamente transplantado para solo de natureza diferente.
Esses são os usos da abstração para os pensadores descuidados.
5.
O leitor pode sentir que, ao invés do esboço prometido da posição austríaca, lhe foi apresentado com uma série de comentários críticos direcionados contra visões não austríacas. Ele pode exigir que lhe digam, em particular, o que deve tomar o lugar do modelo de equilíbrio geral como o paradigma central da teoria econômica.
Era necessário, entretanto, preparar por crítica extensiva o fundamento sobre o qual se ergue nossa estrutura.
Nossa tarefa construtiva será muito mais fácil. Nossas propostas positivas simplesmente seguem a direção de nossos comentários críticos. Ao considerar o equilíbrio em particular, tudo que precisamos fazer é deixar nossos pensamentos vagarem livremente ao longo das linhas indicadas no fim da seção anterior.
O que aconteceria, podemos nos perguntar, se revertessemos a ordem de significância atribuída às forças de equilíbrio e desequilíbrio respectivamente no pensamento neoclássico?
Se assumirmos que todas as forças de equilíbrio, longe de serem força esmagadora, devem cedo ou tarde sucumbir a obstáculos de vários tipos antes de ter alcançado seus “destinos”?
Num mundo no qual a mudança inesperada provavelmente ultrapassará as forças de equilíbrio, um mundo no qual conhecimentos novos continuamente surgem, enquanto os velhos conhecimentos se tornam obsoletos, isso nos parece a hipótese mais plausível.
Essa inversão da ordem de significância atribuída às várias forças de interação não podem deixar de afetar a perspectiva no qual vemos o curso dos processos de mercado.[20]
Para o pensamento neoclássico o equilíbrio é central; processos que podem ou não levar ao equilíbrio são subsidiários ao seu objetivo principal.
Para nós, ao contrário, processos de mercado refletindo a interação entre forças equilibradoras são a essência da questão, enquanto o equilíbrio por si mesmo, como Mises escreve, não é nada além de “uma noção auxiliadora empregada em seu contexto e vazia de qualquer sentido quando usada fora desse contexto.”[21]
Recusamos acreditar que as forças equilibradoras são sempre forças esmagadoras.
Nem todo ato no mercado é uma ação consistente. As ações de competidores são um exemplo óbvio. A noção de um “estado de competição”, perfeito ou não, no qual tais atos são tornados consistentes, não é simplesmente inútil como uma ferramenta de análise.
Isso apresenta um obstáculo à nossa compreensão da competição como um processo. Numa economia de mercado, em todos os momentos, como Professor Kirzner diz, “uma enorme quantidade de ignorância se põe no caminho da coordenação completa das ações e decisões dos vários participantes do mercado. Inúmeras oportunidades de trocas com benefício mútuo [...] são prováveis de existir sem serem percebidas”.
O processo de mercado, sendo claro, reduzirá tal ignorância. Mas, durante o próprio período no qual o conhecimento antigo se torna mais amplamente difundido, muito dele se torna obsoleto, e uma nova ignorância emerge simultaneamente com o novo conhecimento adquirido por alguns.
Economistas têm aprendido que algum progresso técnico é absorvido por meio do “aprender fazendo”.
Mas homens diferentes aprendem lições diferentes ao fazer o mesmo trabalho e incorporam o que eles têm aprendido em produtos diferenciados.
O mesmo se aplica ao conhecimento de mercado. Enquanto o processo de mercado competitivo leva à erosão de margens de lucro, ele também inspira alguns produtores a buscar segurança na diferenciação do produto. O processo de mercado não é uma via de mão única.
A imagem da ação econômica que surge de nossas reflexões é então aquela do mercado como um processo contínuo sem começo nem fim. O mercado marshalliano para bens individuais pode, por um tempo, encontrar seus respectivos equilíbrios. O sistema econômico nunca o encontra.
Esse processo é impulsionado por forças equilibradoras de interação intermercado que são, vez após vez, frustradas por mudanças no padrão de distribuição do conhecimento.
Essas mudanças por sua vez resultam em parte do impacto de forças exógenas, tais como o progresso da ciência e tecnologia; em parte das reações humanas aos eventos de mercado; também em parte da ação espontânea dos alertas mentais dos participantes inspirados, mas não compelidos, pelo que eles testemunham no cenário de mercado ao seu redor.
Notas
[1] Para uma reflexão um tanto turva desse estado de coisas, ver K. J. Arrow, "Limited Knowledge and Economic Analysis," American Economic Review 64 (Março 1974): 1-10; ver também F. H. Hahn, "The Winter of Our Discontent," Economica 40 (Agosto 1973): 322-30. Para uma imagem tão fiel quanto a situação permite, temos de nos voltar a John Hicks, Capital and Time (Oxford: Oxford University Press, 1973).
[2] “Os jovens economistas da década de 1920 não estavam fascinados, como aqueles das décadas anteriores, pelo grande fulgor de um grande foco de pensamento convergente no qual todos os economistas do mundo pareciam pôr suas iluminações mistas” (G. L. S. Shackle, The Years of High Theory [Cambridge: Cambridge University Press, 1967], p. 291).
[3] L. M. Lachmann, "Sir John Hicks as a Neo-Austrian," South African Journal of Economics 3 (Setembro 1973): 195-207.
[4] J. A. Schumpeter, History of Economic Analysis (Oxford: Oxford University Press, 1954), p. 847.
[5] Piero Sraffa, Production of Commodities by Means of Commodities: Prelude to a Critique of Economic Theory (Cambridge: Cambridge University Press, 1960).
[6] J. M. Keynes, The General Theory of Employment, Interest, and Money (New York: Harcourt, Brace & World, 1936), pp. 62-63.
[7] Ibid., p. 60.
[8] Ibid. Aqui, dessa vez, as duas linhas de teoria de capital mencionadas acima estavam em contato O contato produziu pouco além de confusão.
[9] Ibid., pp. 69-70; esp. 69n.
[10] Luigi Pasinetti, "Switches of Technique and the 'Rate of Return' em Capital Theory," Economic Journal 79 (Setembro 1969): 523.
[11] Luigi Pasinetti, "Reply to Mr. Dougherty," Economic Journal 82 (Dezembro 1972): 1352
[12] Robert Solow, "On the Rate of Return: Reply to Pasinetti," Economic journal 80 (Junho 1970): 429.
[13] William Jaffé, "Review of Carl Menger and the Austrian School of Economics," Economic journal 84 (June 1974): 401.
[14] Essa distinção foi elaborada por Hans Mayer em "Der Erkenntniswert der funktionellen Preistheorien," em Die Wirtschaftstheorie der Gegenwart, 4 vols. (Vienna, 1932), 2: 148-50. A expressão causal-genética Foi introduzida por Sombart (Werner Sombart, Die drei Nationalokonomien [Munique, 1930], p. 220).
[15] F. H. Hahn, On the Notion of Equilibrium in Economics (Cambridge: Cambridge University Press, 1973), p. 16.
[16] Ibid., p. 19.
[17] Ibid., p. 14.
[18] Encontramos o mesmo argumento nos comunicados presidenciais de K. J. Arrow perante a American Economic Association: “Mesmo como um estudante graduado, eu estava um tanto surpreso com a ênfase da eficiência alocativa dos socialistas de mercado, a não existência de mercados para bens futuros sob o capitalismo me parecia um objetivo muito mais óbvio”. (Arrow, "Limited Knowledge," pp. 5-6). Na ausência de mercados intertemporais, os homens perseguirão planos inconsistentes, alguns dos quais devem fracassar. Assim como alguns planos dos competidores, o que o argumento realmente mostra é a incompatibilidade do equilíbrio intertemporal com competição e não a vulnerabilidade do “capitalismo”.
[19] Israel M. Kirzner, Competition and Entrepreneurship (Chicago: University of Chicago Press, 1973), p. 217.
[20] “Essa será uma sociedade caleidoscópica, intercalando seus momentos ou intervalos de ordem, segurança e beleza com desintegração repentina e uma cascata de novos padrões. [...] Isso convida o analista a considerar a sociedade como constituída de um emaranhado de potências, e se perguntar, não o que será de seu percurso, mas o que seu percurso é capaz de ser no caso da ascensão dessa ou daquela ambição levada em consideração por esse ou aquele interesse”. (G. L. S. Shackle, Epistemics and Economics [Cambridge: Cambridge University Press, 1972], p. 76).
[21] Ludwig von Mises, Human Action: A Treatise on Economics (New Haven: Yale University Press, 1949), p. 352.