Misericórdia e Misericordismo: o novo Papa Leão XIV entre o Vaticano II e Trento, por Giovanni Cavalcoli O.P.

Misericórdia e Misericordismo: o novo Papa Leão XIV entre o Vaticano II e Trento, por Giovanni Cavalcoli O.P.

Alta Linguagem

Texto introdutório (Alta Linguagem): o seguinte texto do dominicano Giovanni Cavalcoli trata dos desafios que, na visão do autor, terão de ser enfrentados para colocar a Igreja num bom caminho, segundo a visão do padre dominicano. Distinguir a misericórdia de Deus do misericordismo e laxismo que é, segundo o texto, algo muito comum no modernismo atual que a Igreja enfrenta.

Misericórdia e Misericordismo

O novo Papa Leão XIV entre o Concílio Vaticano II e o Concílio de Trento

Um dos grandes temas do pontificado do Papa Francisco, como todos sabem, foi o da misericórdia. Nesse aspecto, o Papa não fez senão alimentar uma atmosfera espiritual que permeia todos os documentos do Concílio Vaticano II, o qual fez compreender como nunca antes a amplitude da misericórdia do Pai por nós, pecadores perdidos, concedida gratuitamente como remédio para a desgraça do pecado original.

É preciso, no entanto, notar que o movimento ecumênico promovido pelo Concílio em relação aos luteranos foi mal interpretado por uma tendência modernista que resultou, não na aproximação dos luteranos à Igreja Católica, mas na rendição de muitos católicos às heresias de Lutero, sem, por isso, quererem renunciar ao nome de católicos. O ponto crucial em torno do qual é necessário dissipar o equívoco parece ser o conceito luterano da misericórdia divina, evidentemente equivocado, pois produz frutos de pecado, e não de misericórdia.

O Papa Leão encontra-se diante da difícil tarefa de enfrentar seriamente e resolver essa complexa e intrincada questão da misericórdia divina, sobretudo em sua relação com a justiça, que contaminou a moral católica contemporânea e, por consequência, os costumes.

Os modernistas conseguiram apresentar o Concílio Vaticano II como uma correção do Concílio de Trento, enquanto a operação correta a ser feita, para não fracassar a obra reformadora do Vaticano II, é justamente mostrar a atualidade e a utilidade da posição tridentina frente a Lutero. Poucos hoje lembram que a assimilação das propostas reformadoras válidas de Lutero não precisou esperar o Vaticano II, pois já havia começado com o Concílio Tridentino. O qual, por sua vez, nos deixou uma magistral correção dos erros de Lutero, erros esses que, infelizmente, os luteranos ainda hoje não acolheram totalmente, e que os modernistas se recusam a aceitar, chegando à ousadia de acusar o Concílio Tridentino de não ter compreendido Lutero.

Uma tarefa importante que se apresenta para o Papa Leão, a fim de trazer paz à Igreja dividida entre passadistas e modernistas, será fazer compreender que o verdadeiro ecumenismo promovido pelo Vaticano II, para conter a difusão dos erros de Lutero também entre os católicos, deve recuperar a referência tridentina a Lutero. E se é verdade que o Concílio Tridentino foi severo demais, também é verdade que o Vaticano II possui uma tendência bonística,[1] para o qual é necessário preciso encontrar um equilíbrio num pontificado orientado para um progresso na continuidade.[2]

São Paulo mal interpretado por Lutero

É necessário então que nos detenhamos brevemente sobre Lutero. O interesse de fundo da teologia de Lutero, e o drama de sua vida atormentada, como sabemos, foi o de poder estar certo de ser perdoado e amado por Deus, não obstante sua condição de pecador; o desejo de experimentar a misericórdia de Deus em um contexto psicológico angustiado como era o seu, caracterizado por uma falsa convicção de não poder agir livremente e de não poder se libertar do sentimento de culpa, de modo a chegar à sua famosa doutrina da justificação, segundo a qual Deus cobre o pecado mas não o apaga, fingindo não vê-lo. Deus, portanto, concederia o perdão e a salvação ao pecador que continua, não arrependido, a pecar e a sentir remorso pela culpa cometida.

É essa sua doutrina do arbítrio escravo, que nasce de uma falsa interpretação da passagem onde São Paulo parece afirmar que sua vontade está prisioneira do pecado:

«há em mim o desejo do bem, mas não a capacidade de realizá-lo; com efeito, não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. [...] Vejo em meus membros uma lei que faz guerra à lei da minha mente e me torna escravo da lei do pecado que está nos meus membros» (Rm 7, 22-23).

Dessas palavras de São Paulo parece de fato resultar que Paulo sustente que o pecador, filho de Adão, perdeu a livre vontade de fazer o bem, como se sua vontade fosse contra si mesma: no momento em que quereria fazer o bem, a vontade escrava se determina para o mal.

Na realidade, o discurso de Paulo, tomado como soa, é uma absurdidade, porque é impossível que uma vontade queira simultaneamente o bem e o mal. Na verdade, este é um dos trechos mais infelizes da linguagem paulina, levada aos paradoxos, e infelizmente sobre um tema de importância primária, que é o da relação da vontade do homem pecador com o pecado.

Paulo quer simplesmente dizer, como explicará o Concílio de Trento, a dificuldade de o homem pecador realizar sempre o bem, e portanto a debilidade de sua vontade, mas não que o homem tenha perdido o livre-arbítrio, como falsamente entende Lutero e como lhe reprovará o Concílio de Trento, o qual dirá que, com o pecado original, o livre-arbítrio não foi destruído a ponto de nos tornarmos bestas, mas foi ferido ou debilitado, de modo que ainda conseguimos fazer algum bem, mas com as forças que nos restaram e, por causa da inclinação da concupiscência, não conseguimos, sem a graça, realizar todos os atos bons necessários para nos salvarmos.

Portanto, quando Paulo pede a Deus para ser «libertado de seu corpo votado à morte» (v.24), ele não pede de modo algum para ser libertado de sua vontade criada por Deus—o que seria absurdo—; ele não quer absolutamente pedir a Deus, como mal-interpreta Lutero, que substitua sua graça e sua vontade à vontade humana dele, tida como insuperavelmente e irreparavelmente má e, por isso, inutilizável; mas, ao contrário, pede para ser libertado dos defeitos de sua vontade, da tendência de sua vontade ao pecado, e que lhe seja permitido, com a ajuda da graça, observar sempre e perfeitamente a lei divina, cumprir todo o bem que deve cumprir tanto no plano natural quanto no sobrenatural.

Lutero, ao contrário, entende a misericórdia divina que liberta do pecado como concessão incondicionada de sua graça, sem que seja necessário que o pecador se esforce com sua vontade para se corrigir e fazer o bem, porque tais esforços seriam inúteis. O homem, segundo Lutero, é assim dispensado da obrigação impossível de observar a lei; lhe é permitido continuar pecando, com a certeza de que se salvará mesmo assim, contanto que creia apenas que Deus o perdoa.

A graça, princípio da fé, não serve, segundo Lutero, para dar força à nossa vontade para se converter e observar os mandamentos, mas simplesmente nos garante a salvação, a qual valida o mal que inevitavelmente continuamos a fazer, mal que, nesse ponto, torna-se algo normal e, portanto, se transforma em bem. A Deus não interessa que obedeçamos aos seus mandamentos, Ele nos deixa livres para fazer o que quisermos, porque sabe que não conseguimos; estamos dispensados; basta que creiamos e confiemos sempre no seu perdão.

De tal modo, os pecados que inevitavelmente o homem continuará a cometer já não são mais pecados, se por pecado se entende uma ação merecedora de castigo, mas tornam-se desculpados por Deus e considerados como justiça. Os sofrimentos desta vida já não têm mais valor expiatório e reparador, ainda que em união com Cristo, porque Ele já fez tudo e nós não temos nada a acrescentar. Daí, segundo Lutero, a inutilidade e até mesmo o abominável caráter da Missa.

O cristão, assim, age em ordem à sua salvação não usando sua vontade inútil, mas exclusivamente movido pelo Espírito Santo, e frui de uma liberdade suprema que já não é aquela inexistente da vontade humana, o livre-arbítrio que não é livre, mas é a própria liberdade divina, pela qual ele, filho de Deus, é livre para fazer o que quiser com a certeza de estar fazendo a vontade de Deus.

Dessa concepção errada da misericórdia e da liberdade, pela qual Deus se torna cúmplice do pecado e não o pune, deriva o misericordismo e o liberalismo modernos, que nada mais são do que uma extensão à humanidade inteira da experiência pessoal de Lutero e do conceito que ele formou de sua própria trajetória pessoal.

Assim, enquanto Lutero continuava acreditando na existência de condenados, reservando a si e a seus seguidores a certeza da salvação, os misericordistas de hoje, acreditando compreender ainda melhor, na linha de Lutero, a grandeza da misericórdia divina, teriam considerado contrária à misericórdia divina a justiça punitiva divina, com o resultado de conceber um Deus injusto, que aprova o pecado e peca ao deixá-lo impune.

Os estragos do misericordismo

Lutero abre o caminho para os modernos misericordistas quando, interpretando a justiça da qual fala São Paulo em Romanos 5 como misericórdia, amplia indevidamente essa identificação, que vale apenas para essa passagem, à concepção geral da misericórdia, com a consequência de negar que Deus castigue as culpas, já que é claro que não cabe à misericórdia, mas à justiça, a imposição da pena.

Dessa forma, o misericordismo, ao negar que Deus castigue, confunde aquilo que Deus fez com aquilo que, se quisesse, poderia efetivamente ter feito ou querido. Com efeito, segundo a Divina Revelação, Deus quis não impedir o mal de culpa e quis positivamente o mal de pena como sanção do pecado.

Contudo, se considerarmos aquilo que, se quisesse, poderia efetivamente ter feito, devemos dizer que Deus poderia ter criado criaturas pessoais conduzindo-as àquela mesma glória que Cristo nos obtém, sem passar pela queda do pecado, mas de modo imediato, fazendo-as realizar um ato de plena obediência a Deus.

O misericordismo nasceu entre aqueles católicos que interpretaram mal o ecumenismo com os luteranos, porque não souberam ligar o Concílio Vaticano II ao que o Concílio de Trento havia ensinado para corrigir as heresias de Lutero. O Concílio esclarece, a esse respeito, alguns conceitos: a graça, o livre-arbítrio, a predestinação, a eleição, o mérito.

É preciso recuperar os valores esquecidos

A predestinação. Deus, segundo um desígnio inescrutável de sua misericórdia, concebido desde a eternidade e infalivelmente eficaz, destina alguns à glória celeste purificando-os do pecado e movendo, com a graça, o seu livre-arbítrio, de modo que por ele o predestinado em estado de graça se converte do pecado à justiça, observa os mandamentos, realiza obras boas e adquire em Cristo o mérito de entrar no paraíso.

Os que não são predestinados são aqueles que, embora tenham recebido o chamado universal à salvação e tenham tido a possibilidade concreta de se salvar, pois Deus coloca à disposição de todos os meios da salvação e quer salvar a todos, por culpa própria rejeitam a oferta divina e, como consequência, são punidos com a pena eterna.

A eleição. Segundo o que Cristo nos revela, Deus, dentre a totalidade das criaturas humanas castigadas em consequência do pecado original, escolhe um certo número de pessoas, que Ele salva conduzindo-as à vida eterna (Mt 24, 22.31; Lc 18,7). Mas é necessário ter presente que mesmo os salvos ou predestinados à salvação vão para o paraíso por sua livre escolha. Então, como se dá isso? Deus escolhe aqueles cuja vontade Ele move a escolher Deus como seu sumo bem e fim último. Os que não são escolhidos rejeitam, por culpa própria, a graça que Deus lhes oferece, sem que nesse rejeitar Deus tenha parte alguma, ao contrário do ato de aceitação da graça, que é um ato livre do livre-arbítrio, mas causado e movido por Deus. [Báñez]

A doutrina da predestinação pareceria favorecer o fatalismo,[3] segundo o qual Deus decretaria desde a eternidade a salvação de alguns e a condenação de outros, sem levar em conta a escolha dos homens; o livre-arbítrio não teria nenhum papel no destino do homem, de modo que aquele que é destinado ao paraíso poderia pecar à vontade na certeza de que, de todo modo, salvar-se-ia, enquanto aquele destinado ao inferno, por mais virtuoso que fosse, iria para o inferno.

Essa doutrina não é muito diversa da de Lutero. A diferença está apenas no fato de que se reconhece o exercício do livre-arbítrio: o homem pode escolher entre o bem e o mal. Mas é igual à de Lutero ao negar que o livre-arbítrio tenha parte na obra da salvação, na qual quem age é só Deus.

Deve-se evitar também uma doutrina voluntarista da predestinação. É preciso dizer que, se Deus quer salvar alguns e não outros, Ele o faz em nome de sua sabedoria e como ato voluntário fundado nela, e não por sua simples vontade, independentemente da sabedoria. De fato, Deus quer algo porque é um bem verdadeiro, e não que algo seja um bem simplesmente porque Deus o quer. Dizer que Deus quer sem sabedoria, observa São Tomás, é uma blasfêmia. Portanto, se Deus escolhe estes e não aqueles, há um porquê. O único ponto é que esse porquê só Ele conhece.

O mérito. É necessário que o Papa Leão volte a nos lembrar que não podemos nos salvar sem mérito. Como diz a Escritura, não podemos nos apresentar diante de Deus de mãos vazias. Se enterrarmos o talento recebido em vez de fazê-lo frutificar, não poderemos obter salvação. Nós nos salvamos apenas com a condição de que tenhamos observado os divinos mandamentos. Para se salvar, não basta a fé: são necessárias as obras. O saber é essencial, mas é inútil se faltam a práxis e o amor. O amor deve ser um amor real, não apenas pensado. Por outro lado, não há verdadeira liberdade que não seja efeito da verdade. A justiça é efeito da obediência à lei, mas supondo que o agente frua da graça de Cristo.

Isso significa que existe um duplo plano de méritos: uma coisa é o mérito simplesmente humano, pelo qual, em virtude de uma obra nossa, merecemos perante os homens e pelos homens; e outra coisa é o mérito sobrenatural, participação nos méritos de Cristo, mérito pelo qual, sustentados pela graça, merecemos perante Deus e por Deus um aumento da graça e o próprio paraíso.

Esse segundo tipo de mérito, como diz o Concílio de Trento seguindo Santo Agostinho, é ele mesmo dom da graça e efeito da predestinação. Crer que se pode merecer a graça com o simples mérito humano é heresia pelagiana, mas crer que se pode merecê-la após ter recebido a graça é verdade de fé. Existe, portanto, uma graça preveniente que causa o mérito e existe uma graça consequente que é aquela que obtemos merecendo em estado de graça.

Tudo isso não exclui de forma alguma a primazia e a gratuidade da graça, ou seja, o fato de que a iniciativa da obra salvífica cabe à graça, que por isso é chamada de preveniente. Mas o Concílio de Trento especifica, contra Lutero, que o consentimento do livre-arbítrio é necessário na obra da nossa justificação, porque Deus quer que colaboremos com a graça nessa obra. Por isso, nossa salvação, da nossa parte, é merecida por nós e prêmio de nossas obras; mas, da parte de Deus, é gratuita.

Liberdade e livre-arbítrio. É necessário recuperar o verdadeiro conceito de liberdade humana, que em Lutero primeiro, e depois no idealismo alemão, assume dimensões desproporcionais, sendo assimilada à absolutez da liberdade divina. Como é sabido, Lutero exagera ao sublinhar a corrupção do livre-arbítrio e sua sujeição ao pecado e à paixão.

Isso lhe era cômodo, pois assim se poupava do trabalhoso esforço ascético de autodomínio e autocorreção. Só que, procedendo desse modo, não podemos obter aquele domínio do Espírito sobre a carne e aquela reconciliação da carne com o Espírito, que é o objetivo da vida cristã.

O pessimismo luterano quanto à impotência do livre-arbítrio, além de favorecer uma conduta relaxada, pareceria favorecer uma conduta quietista, como a promovida por Molinos no século XVII. Por isso, causa espanto o fato de que Lutero, em sua atividade reformadora, tenha desdobrado uma atividade intensíssima e múltipla, quase prodigiosa, tenha se submetido a esforços imensos, tenha demonstrado uma vontade fortíssima e capaz de realizar escolhas importantes e até históricas.

Como se explica tudo isso? Pela convicção que Lutero tinha de ser um instrumento do Espírito Santo e, portanto, que tudo o que dizia, fazia e decidia era querido pelo Espírito. A pergunta que, no entanto, surge em nós é se na difusão de suas heresias, na sua rebelião contra o Papa, na sua obra de devastação da Igreja, agia realmente o Espírito Santo ou talvez algum outro espírito não exatamente santo.

Uma tarefa para o Papa Leão

A reforma conciliar certamente trouxe bons frutos, que foram promovidos pelos Papas do pós-concílio até Francisco, mas, como é sabido, ela também foi em parte desatendida e deformada pela interpretação que os modernistas deram a ela, uma vez que a contrapuseram à obra do Concílio de Trento, cometendo nisso um grave erro, que está na origem dos males da Igreja atual. Em vez de contrapor, era necessário conjugar. Em vez de encontrar uma ruptura, era preciso evidenciar a continuidade, como dizia Bento XVI.

Como referência para um juízo mais maduro sobre Lutero, o Papa poderia tomar como base de partida a Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial, de 3 de outubro de 1999, elaborada pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Nela, constata-se a correção de alguns erros de Lutero, como o da dupla predestinação, o da comparação do Papa com o anticristo, a negação do livre-arbítrio, a convivência da graça com o pecado mortal, a recusa das boas obras. Todavia, ainda falta o reconhecimento da necessidade do mérito para se obter a salvação, da necessidade da penitência, da distinção entre pecado e concupiscência, do valor dos sacramentos, dos dogmas marianos, da harmonia da fé com a razão e da natureza com a graça.

 

Pe. Giovanni Cavalcoli

 

Fontanellato, 10 de maio de 2025

 

Notas



[1] Ver meu opúsculo L’eresia del buonismo. Il buonismo e i suoi rimedi, Edizioni Chorabooks, Hong Kong, 2017.

[2] Ver meu livro Progresso nella continuità. La questione del Concilio Vaticano II e del post-concilio, Edizioni Fede&Cultura, Verona, 2011.

[3] Ver a coletânea de escritos de vários autores, entre os quais o subscritor deste texto, organizada por Francesco Baccilieri, Fatalisti allo sbaraglio. Come orientarsi con la propria e l’altrui sorte, Edizioni Le Comete Franco Angeli, Milão, 2012.

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