Nota introdutória,
Este é um dos grandes escritos de Lachmann, neste, o economista austríaco busca contextualizar e fazer uma abordagem histórica de uma recente controvérsia com relação a sua época: a controvérsia entre as escolas de Cambridge e a assim chamada escola Neoclássica. Lachmann aborda a relação do pensamento de cada um, denominado de "macroeconômico", com a economia de mercado -- de um lado Cambridge, crítica à economia de mercado e supostos herdeiros do legado e Keynes, do outro os neoclássicos que tendem a uma posição mais amigável quanto a economia de mercado, mas que, por um problema de método, estão fadados a ceder às críticas de Cambridge. As observações de nosso economista são observações críticas, de um austríaco, olhando por fora uma controvérsia, em sua totalidade, e criticando de forma minuciosa certos pontos comuns a ambas as escolas: todas com foco na noção de equilíbrio geral e demais pressuposições metodológicas. Ao final do texto, são traçadas consequências para política econômica, que, como diz o próprio editor do original, são pesadas para o leitor desavisado.
Traduzido por Junior Percebon
O Pensamento Macroeconômico e a Economia de Mercado
Um ensaio sobre a negligência das microfundações e suas consequências
Sumário
“Uma multidão de perspectivas”
As escolas de “Cambridge” e “neoclássica”
Pressuposição de macroequilíbrio
III. FORMALISMO MACROECONÔMICO COMO UM ESTILO DE PENSAMENTO
A. A CONTRARREVOLUÇÃO “NEORRICARDIANA”
Defesas da boca para fora às microfundações
Macroformalismo adotado por ambas as escolas
B. Uma Breve História da Controvérsia
IV. A NATUREZA DOS LUCROS E “A” TAXA DE LUCRO
Competição implica taxas variantes de lucro
O equilíbrio de longo prazo é inatingível
A “Taxa social de retorno” de Solow
“Abordagem do planejador” ao investimento
Lucros são um fenômeno de desequilíbrio
Controvérsia da taxa de lucro / taxa de juro
a) Uma taxa de equilíbrio (escola neoclássica)
b) Distinção entre as duas taxas (Escola de Cambridge)
A absurdidade do conceito da “taxa normal de lucro”
V. CRESCIMENTO DE ESTADO CONSTANTE?
Políticos e a taxa de crescimento
A ideia da “economia uniformemente progressiva” do Cassel
Nem todos os planos podem ser bem-sucedidos
Nenhum espaço para as expectativas individuais na macroeconomia
A “época de ouro” de Cambridge
Mal-investimento inevitável no crescimento econômico
Crescimento de equilíbrio é uma ideia baseada em equívoco
VI. A FORÇA DESEQUILIBRANTE DO PROCESSO TÉCNICO
Progresso técnico na macroeconomia
O progresso técnico é imprevisível
Os mercados são “o árbitro final”
VI. CONCLUSÕES PARA A POLÍTICA ECONÔMICA E O FUNCIONAMENTO DA ECONOMIA DE MERCADO
- Política de rendas
- Crescimento Econômico
- Progresso técnico
-
Principais conclusões
i. Macroagregados
ii. Política monetária
iii. Escola de Cambridge
iv. Escola neoclássica
v. Labor, capital e expectativas
PERGUNTAS SUGERIDAS PARA DISCUSSÃO
PREFÁCIO
Os Hobart Papers têm a intenção de contribuir um riacho de comentários autoritativos*, independentes e lúcidos ao entendimento e à aplicação da economia. A preocupação característica deles é o uso óptimo de recursos escassos e a extensão à qual isso pode ser conseguido pelos mercados dentro de uma estrutura legal e institucional apropriada. Os primeiros 50 foram publicados de 1960 a 1970. Os segundos 50 na década de 1970 continuarão o estudo central dos mercados e do ambiente criado pelo governo.
O juro no funcionamento dos mercados explica a abordagem essencialmente microeconômica, isto é, o estudo de indivíduos, famílias, firmas e outros pequenos grupos homogêneos como compradores e vendedores.[1] Diversos Hobart Papers foram o trabalho de economistas de destaque quem têm usado a técnica de macroeconomia, isto é, o estudo do comportamento de agregados tais como a renda nacional, despesa e produção. A economia compreende micro e macro elementos, mas seus relacionamentos são raramente clarificados. Desde a década de 1930, economistas que têm seguido a abordagem de uns 40 anos de idade de J. M. Keynes têm frequentemente parecido dizer, ou pensar, que a macro tem substituído, ou é superior a, ou é distinta de, a microeconomia. E esta confusão tem por muitos anos se traduzido em alguns livros didáticos e em escritos “populares” para leigos. O University Economics[2], o qual deveria ser mais conhecido na Grã-Bretanha, dos Professores Armen, A. Alchian e William R. Allen põe a análise macroeconômica das flutuações em emprego, renda nacional e output* em seu trecho como “contando com os teoremas básicos da teoria micro”.
No Hobart Paper n.º 55[3] o Sr. Douglas Rimmer ilustrou os resultados enganosos da aplicação impensada de conceitos macroeconômicos aos países em desenvolvimento. Nesse Hobart Paper os métodos de pensamento e a análise de macroeconomia e os macroeconomistas mais importantes são adicionalmente examinados pelo Professor L. M. Lachmann para ver até que ponto eles rendem hipóteses válidas sobre a atividade humana e as prescrições para políticas. Ele divide a macroeconomia em duas escolas principais: a primeira, os neo-Ricardianos, liderada em Cambridge (Inglaterra) pelos Professores Joan Robinson, Piero Sraffa e Nicholas Kaldor; e a segunda, a escola neoclássica, representada principalmente pelos Professores Paul Samuelson, Robert Solow e o Sir John Hicks. Em um artigo recente,[4] o Professor James Tobin é altamente crítico da Escola de Cambridge na Inglaterra e defensor da Cambridge nos EUA; neste Paper o Professor Lachmann é severamente crítico de ambos. Ele acha as análises de ambas as escolas defeituosas com base em que elas têm perdido de vista as fundações microeconômicas do comportamento econômico. Ainda que aqueles economistas que parecem ser críticos da Escola de Cambridge alegam ter herdado a abordagem microeconômica dos economistas neoclássicos tais como Leon Walras e Vilfredo Pareto, o Professor Lachmann argumenta que eles não têm plenamente incorporado os essenciais da economia neoclássica e que os pensamentos deles é nada menos defeituoso do que aquele da Escola de Cambridge.
Para ir às raízes dessas diferenças fundamentais no pensamento dos economistas, o Professor Lachmann teve de conduzir uma discussão altamente teórica que será mais fácil para economistas do que para iniciantes ou para não economistas. Quanto mais fundamentais as diferenças, e os discutíveis erros, no pensamento econômico, mais abstrato o raciocínio precisa ser. Se os macroeconomistas têm usado um raciocínio pobre e emergido com más recomendações, é essencial reexaminar os fundamentos dos seus métodos. Nenhuma maneira fácil há de captar as conclusões deles sem um esforço para entender como e por que eles pensam como pensam. Este Hobart Paper é, portanto, mais teórico do que a maioria tem sido, mas os recém-chegados à economia e leigos o acharão recompensador se perseverarem nos seus esforços para o entender, porventura em uma segunda ou terceira leitura, porque as implicações para a política poderiam ser radicais.
Se o Professor Lachmann estiver correto, muito do pensamento dos economistas nos últimos 40 anos tem enganado* uma geração ou duas de estudantes, professores, popularizadores de economia na imprensa e radiodifusão, homens de negócios e políticos. Pois a inferência seria que a macroeconomia tem uma função útil a atuar no pensamento e na política econômicos somente se suas microeconomias subjacentes forem entendidas. Ela é usada com segurança por economistas que estão constantemente cientes da subestrutura das decisões individuais na compra e venda; ela é insegura nas mãos de economistas que acham que isso substitui a subestrutura, ou que é suficiente pressupor que indivíduos, ou entidades individuais como famílias e firmas, agirão da maneira que conforma às leis, regras, tendências ou generalizações macroeconômicas tipicamente feitas sobre o comportamento de grandes grupos tais como um país, uma economia, ou uma sociedade como um todo.
O leitor que for mestre na análise do Professor Lachmann descobrirá que as implicações para a política são sem dúvidas abrangentes. O Professor Lachmann brevemente indica as conclusões errôneas que têm sido tiradas da macroeconomia para políticas correntes nos países ocidentais: o controle de rendas e salários como um meio de ser mestre em inflação, no gerenciamento do crescimento econômico, assegurando o progresso técnico, e na política monetária requerida para uma sociedade aberta e progressista.
A análise do Professor Lachmann é erudita, mas as implicações de sua abordagem são revolucionárias: para o ensino de economia, para a autoridade com a qual os economistas oferecem conselhos, para o respeito com que elas são tidas pela indústria, governo e sociedade em geral.
O Instituto gostaria de agradecer o Professor Armen A. Alchian e os outros economistas pela leitura de um primeiro rascunho e por oferecer comentários e sugestões que o autor tem levado em conta nas suas revisões finais. Sua constituição requer que ele desassocie seus Curadores, Diretores, e Conselheiros da análise e das conclusões de seus autores; mas isso oferece o estudo do Professor Lachmann aos economistas de todas as escolas, e aos não economistas quem beneficiam ou sofrem com seus pensamentos e conselhos, como uma reavaliação arrazoada de uma escola de pensamento que tem dominado a economia por décadas.
Junho de 1973 Editor
O AUTOR
Ludwig M. Lachmann nasceu em Berlim em 1906 e estudou em Berlim e Zurique. Em 1930 ele obteve o diploma de Doctor rerum politicarum na Universidade de Berlim. Em 1933 ele vinha à Inglaterra, onde fez trabalho de pesquisa em teoria econômica na Escola de Londres de Economia e teve o Leon Research Fellowship na Universidade de Londres de 1938 até 1940. Ele era o Chefe Interino do Departamento de Economia do (então) Colégio Universitário de Hull desde 1943 a 1948. Em 1949 foi para a África do Sul como Professor de Economia e História Econômica na Universidade de Witwatersrand, Johanesburgo. Ele se aposentou no final de 1972. Era Presidente da Sociedade Econômica da África do Sul desde 1961 até 1963 e tem sido um membro de Conselho dela desde 1950.
As publicações do Professor Lachmann incluem Capital and its Structure (Bell, 1956); The Legacy of Max Weber (Heinemann, 1970); artigos em jornais acadêmicos, particularmente “Economics as a Social Science” (Inaugural Lecture), 1950; “The Science of Human Action” (Economica, Novembro de 1951); “Mrs Robinson on the Accumulation of Capital” (South African Journal of Economics, Junho de 1958); “Sir John Hicks on Capital and Growth” (South African Journal of Economics, Junho de 1966); e contribuições ao festschriften para economistas eminentes, especialmente “Methodological Individualism and the Market Economy” no Erich Streissler et. al. (eds.), Roads to Freedom: Essays in honour of Friedrich A. von Hayek (Routledge & Kegan Paul, Londres, 1969), e “Ludwig von Mises and the Market Process” no Toward Liberty (Institute for Humane Studies, Menlo Park, California, Vol. II, 1971). A maioria desses escritos concerne às fundações analíticas da economia de mercado e a pergunta de até que ponto a economia moderna provê uma figura apropriada dela.
GLOSSÁRIO
ARBITRAGEM — ação pela qual preços diferentes pelo mesmo bem em mercados diferentes são trazidos à uniformidade, por exemplo, pela compra dos corretores da bolsa londrinos de uma ação em Paris e vendendo-a em Londres sempre que o preço parisiense for menor do que o preço londrino.
EX ANTE — EX POST (antes — depois) — as ações econômicas parecem diferentes, quando elas acontecem, daquilo que elas pareciam quando planejadas.
ECONOMIA DE TROCA — uma economia em que bens existentes são trocados mas nenhuma produção acontece.
FORMALISMO — um estilo de pensamento de acordo com o qual entidades abstratas são tratadas como se fossem reais. Em contraste com o Subjetivismo (página 09).
HOMOGENEIDADE — HETEROGENEIDADE ("MALEABILIDADE") — um agregado, tal qual um estoque de capital, pode consistir de elementos que são todos parecidos como os pingos de água em um lago*. Se assim for, eles são homogêneos, se não, eles são heterogêneos.
DECISÃO DE INVESTIMENTO, QUE ESPECIFICA — uma decisão de construir uma casa ou um barco envolve tornar uma quantidade de dinheiro em um objeto concreto e específico. Esta decisão não pode ser revertida.
CALEIDO-ESTÁTICO — “A economia está na postura particular que prevalece, porque expectativas particulares, ou melhor, fórmulas acordadas particulares sobre o futuro, são no momento amplamente aceitas. Estas podem mudar tão velozmente, tão completamente, e em tão ligeira provocação como o frouxo, efêmero mosaico do caleidoscópio. Uma torção da mão, um pedaço de ‘notícia’, pode despedaçar uma figura e substituí-la por outra diferente” (G. L. S. Shackle, A Scheme of Economic Theory, Cambridge, 1965, p. 48).
APRENDENDO FAZENDO — aprendendo pela experiência prática ao invés de livros ou palestras. Conhecimento técnico adquirido na oficina. Isso leva tempo.
MAL-INVESTIMENTO — investimentos os quais acabaram sendo um fracasso, renderam menos lucro do que se esperava. Veja também Ex Ante — Ex Post.
EFICIÊNCIA MARGINAL DO CAPITAL — “A relação entre o rendimento prospectivo de um capital-ativo e o preço de oferta ou o custo de substituição dele, isto é, a relação entre o rendimento prospectivo de mais uma unidade daquele tipo de capital e o custo de produzir aquela unidade, provê-nos com a eficiência marginal de capital daquele tipo.” (J. M. Keynes, General Theory, p. 135).
FUNÇÃO DE PRODUÇÃO NEOCLÁSSICA — um teorema neoclássico em que a quantia produzida total é considerada como uma função de insumo total de capital e labor*, uma que rende retornos constantes a um aumento proporcional em todos os insumos.
Uma versão é a
FUNÇÃO COBB-DOUGLAS — uma função de produção homogênea linear, na qual a elasticidade da substituição entre capital e labor é sempre um.
ECONOMIA DE PRODUÇÃO — uma economia em que, distinta duma economia de troca, os bens têm de ser produzidos assim como trocados.
SUBJETIVISMO — O postulado de que todos os fenômenos econômicos e sociais têm de ser tornados inteligíveis pela explicação deles em termos de escolhas e decisões humanas. Em contraste ao FORMALISMO (acima).
PROGRESSO TÉCNICO — é dito estar encarnado quando cada nova invenção requer uma nova “‘máquina” para lhe dar expressão. Está desencarnado quando seus resultados podem ser incorporados a todas as máquinas velhas para que a idade de uma máquina tenha nenhum efeito sobre sua eficiência.
FUNÇÃO DE PROGRESSO TÉCNICO, DE KALDOR — uma macrofunção que torna os resultados de progresso técnico dependentes da taxa de investimento bruto (abaixo, p. 42).
ABORDAGEM TECNOCRÁTICA À TEORIA DE CAPITAL, DE SOLOW — “O Solow classifica as teorias de capital como ou tecnocráticas ou descritivas. Elas são tecnocráticas quando as questões de planejamento e alocação (e também o socialismo) são discutidas, e são descritivas quando usadas em uma explicação do funcionamento do capitalismo.” (G. C. Harcourt, Some Cambridge Controversies in the Theory of Capital, Cambridge University Press, 1972, p. 93.)
ECONOMIA DE BEM-ESTAR— “A economia de bem-estar social é o estudo do bem-estar dos membros de uma sociedade como um grupo, na medida em que ele é afetado pelas decisões e ações de seus membros e pelas agências acerca das variáveis econômicas”. (D. M. Winch, Analytical Welfare Economics, Penguin Modern Economic Texts, 1971, p. 13.)
I. INTRODUÇÃO
Nos nossos dias a economia de mercado está sob implacável e pesada crítica. Algumas destas críticas são devidas à ignorância. Algumas mostram um grau notavelmente alto de habilidade e sofisticação. Este Paper é dedicado a uma avaliação crítica de algumas das mais sofisticadas ideias mobilizadas neste debate.
“Uma multidão de perspectivas”
Ninguém pode alegar, é claro, que a economia de mercado pode ser vista somente por um tipo de perspectiva superior a todas as outras, que ela requer para o entendimento pleno dela um esquema analítico próprio, ou que algum corpo particular de pensamento pode-se dizer que a “representa”. No estudo do mundo social há uma boa quantidade a ser dita sobre uma multidão de perspectivas e estilos de pensamento, cada qual iluminando um aspecto do problema sob investigação. Permanece verdade, no entanto, que algumas dessas perspectivas são aptas a borrar as feições* essenciais do objeto de estudo e distorcer nossa visão. Em tais casos temos o direito de afirmar que alguns estilos de pensamento são inadequados aos seus assuntos.
No que se segue, tentaremos mostrar que tais estilos inadequados de pensamento são proeminentes em um debate contemporâneo entre economistas em que a natureza da economia de mercado, a maneira em que ela funciona e os resultados que ela alcança, estão em questão.
II. O GRANDE DEBATE
Por quase duas décadas agora uma controvérsia tem continuado de uma maneira violenta nos níveis mais altos da teoria econômica, particularmente na teoria de capital e crescimento, que tratam de algumas feições essenciais da economia de mercado, na qual as ações humanas que dão surgimento e prestam significado a essas feições são ignoradas. De tempos em tempos os concorrentes se endereçarão às solicitações uns aos outros de “afirme suas pressuposições claramente”, mas essas injunções sempre parecem se aplicar às variáveis macroeconômicas, tais como rendas, quantia produzida ou investimento, usadas aqui como instrumentos de combate; elas nunca se estendem aos tipos de ações, aos planos de milhões de consumidores e produtores, cujos resultados principalmente não pretendidos essas variáveis deveriam simbolizar.[5]
As escolas de “Cambridge” e “neoclássica”
Esta é, de jeito nenhum, a única feição curiosa da situação em que a controvérsia acontece. Um dos concorrentes, a “Escola de Cambridge”, como nós a chamaremos, é fortemente crítica da economia de mercado. Em sua visão, o modo de distribuição da renda nacional entre salários e lucros é indeterminada, isto significa que os lucros não são um tipo de renda “economicamente necessária” e que, na prática, podem quase indefinidamente ser espremidos* com impunidade pela tributação. Decerto, os lucros retidos são necessários para o crescimento econômico, mas o pagamento dos dividendos, e, na verdade, qualquer consumo pelos não trabalhadores, são considerados desnecessários![6] Poderíamos chamar essa escola de pensamento de “pós-marxista”, se não fosse por Marx e Engels, a própria ideia de que o modo de distribuição de renda sob o capitalismo é indeterminado teria sido abominável.
Críticas severas à economia de mercado são, é claro, nada novo. Durante os séculos de suas existências elas vieram de muitos lados e foram feitas em muitas ocasiões. Mas até agora a economia de mercado também sempre encontrou expoentes preparados de muitos lados e níveis, em particular entre os mais eminentes pensadores econômicos de cada época. Quando por volta da virada do século, aquilo que veio a ser conhecido por escola “neoclássica” de pensamento econômico ganhava proeminência, dois de seus excepcionais pensadores, Pareto e Gustav Cassel, devotaram uma boa parte de seus esforços ao esposar da economia de mercado e lançaram algumas críticas vigorosas às ideias coletivistas. Eugen von Böhm-Bawerk que, como um “austríaco” -- deveríamos por ventura não incluir nesta escola -- ficou do mesmo lado.
Aquilo que é esquisito sobre a presente situação é que enquanto a Escola de Cambridge assaltava as feições essenciais da economia de mercado, seus oponentes, que têm pegado emprestado o nome “neoclássicos”, têm mostrado nenhum desejo forte de aceitar esta parte de suas heranças, a saber, esposar a economia de mercado. Decerto, suas reivindicações à herança neoclássica não estão incontestadas. A Professora Joan Robinson sempre se referiu a eles como a escola “neoneoclássica”. Mas está claro que tais contemporâneos eminentes como os Professores Paul Samuelson e Robert Solow, conquanto certamente se consideravam herdeiros de Leon Walras e Vilfredo Pareto, não desejavam incorrer-se nesses estorvos de suas heranças. Por ventura, para os seus modos de pensar, tais estorvos não existiam.
As razões para essa atitude não hão de ser encontradas na reticência acadêmica rumo aos acontecimentos do dia e época próprios de alguém. O Professor Solow recentemente não sentiu compunção alguma em denunciar as pretensões de uma boa parte de aquilo que se chama de “economia radical”.[7] O Professor Samuelson nunca foi conhecido por sua reticência indevida quando se trata de deixar o mundo saber suas visões sobre esta ou essa questão tópica. Em edições sucessivas do seu famoso livro-texto ele tem, na verdade, dado a tais questões espaço e atenção crescentes.
As razões hão de ser parcialmente encontradas no grau de distanciamento do “modelo” que forma a casca de seus pensamentos advindo dos processos cotidianos do mercado, um distanciamento do qual eles não podem senão estar bem cientes, mas parcialmente em uma estranha fraqueza, uma indisposição de desafiar as bases dos pensamentos de seus oponentes.[8]
Em primeiro lugar, o modelo neoclássico pressupõe competição perfeita, que em nosso mundo dificilmente existe, embora na economia industrial do século XIX a predominância do mercador de atacado na maioria dos mercados produzisse resultados não totalmente dissimilares disso. Ademais, dentro do corpo de pensamento que veio a ser conhecido como a economia de bem-estar[9] e pela qual alguns membros da escola neoclássica chegaram a tomar um interesse, um lugar proeminente é ocupado pela noção de um “Óptimo de Pareto”, uma posição de equilíbrio geral “ideal” baseada em competição perfeita, livre acesso a todos os mercados e igual conhecimento compartilhado por todos os participantes. Qualquer pessoa que se sinta compromissada a este “ideal” naturalmente compararia as situações de mercado do mundo real com isso e as achariam carecentes. Desta maneira nosso juízo sobre o mundo como ele é chega a depender não meramente do mundo como desejaríamos que ele fosse, isto que é bastante adequado e, de certa forma, inevitável. Ele chega a depender de uma comparação com um estado ficcional de equilíbrio o qual ninguém ainda explicou como poderia ocorrer na realidade. Após alguns exercícios penosos na manipulação das macrovariáveis de nosso modelo, tais como rendas, quantia produzida ou investimento, a questão de quais ações humanas as mantém existindo desaparece de vista, e podemos nos permitir estabelecer o mundo ficcional de nosso modelo como um critério pelo qual ajuizamos o mundo como ele realmente é. Claramente, entretanto, este encantamento com a economia de bem-estar não pode ser considerada como uma explanação completa da atitude da escola neoclássica à economia de mercado.
A controvérsia acontece em uma atmosfera mental estranha. A estranheza não é totalmente devida ao nível de abstração, alto como é, sobre o qual as duas escolas rivais se movem. É frequentemente dito que o que é um nível permissível de abstração depende do problema em pauta, e que todo pensador precisa ser permitido a exercer o critério dele em tais questões. Pode ser que sim, mas até recentemente duas regras tinham geralmente sido observadas nesse contexto. A primeira, a qual o Cassel em particular costumava enfatizar, é que desde o nível inicial de abstração, independentemente do quão alto, é preciso ser possível gradualmente aproximar-se da realidade por uma sequência de aproximações envolvendo a modificação das pressuposições iniciais. No próprio início de um argumento tem de ser decidido quais pressuposições serão modificadas mais tarde e quais não. A segunda regra trata de a partir do que se pode abstrair e do que não. Os essenciais caem nesta categoria. No discutir de um sistema de ação, por exemplo, não temos o direito de abstrair das fontes da ação humana, os propósitos procurados por indivíduos e os planos em que eles se exprimem, pela pressuposição de que seus modus operandi sejam conhecidos e, portanto, previsíveis. O estranho caráter da atmosfera em que nossa controvérsia acontece deve-se, não um pouco, ao fato de que essas duas regras são mais frequentemente honradas na quebra do que na observância*.
Pressuposição de macroequilíbrio
As duas escolas rivais de pensamento conduzem seus argumentos dentro do contexto de equilíbrio macroeconômico. Isso significa que as forças econômicas, o modo de interação o qual está em questão, são forças econômicas de longo prazo que refletem o movimento de certos agregados econômicos, como investimento ou exportações, de composição aparentemente imutáveis. O campo de moção dessas forças é o “sistema econômico” como um todo. As origens microeconômicas dessas forças não estão sob discussão pelas nossas duas escolas rivais. A relevância dessas pressuposições ao funcionamento da economia de mercado cujas operações elas, afinal, deveriam refletir exigem algum comentário imediato.
No mundo real não há equilíbrio, embora certamente haja forças equilibrantes de vários graus de força e velocidade de operação. Elas operam com graus variantes de facilidade em esferas diferentes. Elas encontram obstáculos de vários tipos. Em geral, podemos dizer que quanto mais velozmente as forças que coordenam puderem fazer seus trabalhos, mais fortes as chances de que um estado de equilíbrio seja alcançado. Por conseguinte, nos grandes mercados financeiros internacionais nos quais a arbitragem[10] vale a pena, e contanto que os movimentos de capital sejam não atrapalhados, o equilíbrio pode ser estabelecido dentro de uma questão de horas. Por outro lado, nos lugares em que bens de capital duráveis e específicos atuam um papel proeminente nos mercados, o atingimento do equilíbrio se torna precário porque pode levar um longo tempo antes que seja necessária a substituição deles, e, enquanto isso, novas mudanças provavelmente afetarão os outros elementos da situação.
É desnecessário dizer, mas como nós repetidamente teremos de enfatizar, o equilíbrio macroeconômico, isto é, o equilíbrio do sistema econômico como um todo, é um conceito mais problemático do que o equilíbrio de mercado. O equilíbrio do indivíduo, lar ou da firma, é uma noção muito mais simples do que ambos e é quase sinônimo à ação racional. Todo mundo sabe por experiência que ele não pode ter esperança de ser bem-sucedido em um curso de ação a menos que ele seja capaz de coordenar os vários atos dos quais isso consiste. A consistência do plano é sempre uma condição necessária do sucesso. Quanto menor a microunidade, mais firmemente baseado é o conceito de equilíbrio. Precisamos não esquecer que, sempre que passamos da esfera de ação controlada por uma mente, em um lar ou uma firma, para a esfera de ação em que diversas mentes têm de tomar suas orientações de umas às outras enquanto cada uma está perseguindo seus próprios interesses, como em um mercado, encaramos um agrupamento formidável de problemas da existência a qual demasiados economistas parecem estar ditosamente inscientes. Discutir um problema dentro de um contexto de equilíbrio geral precisa significar consignar-se da fé à força primaz das forças equilibrantes operando na situação sob discussão. Do mesmo modo, precisa-se considerar “que obstáculos que pode haver no caminho ao equilíbrio” são superáveis, e que “as forças desequilibrantes” são muito fracas para perturbar o resultado. Mas como sabemos que em todo tal encontro as forças equilibrantes sempre irão, no fim pelo menos, ganhar a vantagem?
A negligência das fundações microeconômicas de magnitudes agregadas, por outro lado, significa que o jogo está sendo jogado com um conjunto de macrovariáveis como fichas rumo a cujas origens, isto é, as ações individuais, precisamos não inquirir. O que é mais importante, temos de tomar a composição molecular constante das fichas, a magnitude numérica invariante dos agregados, como certas. As macrovariáveis, decerto, serão afetadas pela operação de uma sobre a outra, dentro do campo das forças de equilíbrio, mas nunca, parece, pelas forças que operam dentro de cada uma delas. É fácil imaginar o que acontecerá se as teorias baseadas em tais pressuposições forem aplicadas em circunstâncias de mudança inesperada rápida, em que a composição constante contínua dos agregados, por exemplo, quantias produzidas que foram produzidas por várias indústrias, podem, de jeito nenhum, ser tomadas como certas.
Chamaremos o estilo de pensamento que se exprime em pressuposições tais como essas e que é comum a ambas as nossas facções concorrentes de formalismo macroeconômico.[11] Podemos falar do formalismo sempre que uma forma de pensamento matutada em um certo contexto, a fim de lidar com um problema existente imediatamente, é mais tarde usado em outros contextos sem a devida consideração às suas limitações naturais. Tentaremos mostrar que isso é precisamente o que tem acontecido ao conceito de equilíbrio no pensamento econômico de nossa época.
III. FORMALISMO MACROECONÔMICO COMO UM ESTILO DE PENSAMENTO
Embora o estilo de formalismo macroeconômico se exprime nos escritos de ambas as nossas escolas rivais, elas chegaram a adquiri-lo de maneiras diferentes e evidentemente não igualmente se sentem à vontade com ele. Não podemos falhar de notar que os membros da Escola de Cambridge manejam essas armas não somente com muito mais confiança, mas também com muito mais competência, energia e entusiasmo. Podemos suspeitar que uma razão, pelo menos para a destreza com a qual os vemos manusear os instrumentos do formalismo macroeconômico, tem de ser procurada na circunstância de que isso possibilita a eles se livrarem dos indivíduos, das diferenças entre suas mentes, e da desigualdade dos homens em geral. Seus oponentes, a escola Samuelson-Solow neoclássica, açulada por nenhum tal desejo, pode ter abraçado este estilo de pensamento por outras razões e provavelmente em um humor de inocência, mas não conseguiram escapar das consequências das suas escolhas. Tendo embarcado nisso eles impotentemente se derivam mais e mais para longe da costa microeconômica.
A Escola de Cambridge tem repudiado a revolução marginalista da década de 1870 e considera o subjetivismo[12], o estilo de pensamento o qual devemos a utilidade marginal e as expectativas, na melhor das hipóteses, como uma aberração. A Professora Joan Robinson na primeira página do Prefácio do The Accumulation of Capital diz que
“A Análise Econômica, servindo por dois séculos para conquistar um entendimento da Natureza e Causas da Riqueza das Nações, tem sido tapeada* com outra noiva — uma Teoria de Valor.”[13]
O Sr. Piero Sraffa, o pensador mais original da Escola de Cambridge, quem tem provido a inspiração para o trabalho da maioria dos outros, deu ao seu livro o característico subtítulo Prelúdio a uma Crítica da Teoria Econômica.[14]
A. A CONTRARREVOLUÇÃO “NEORRICARDIANA”
Os membros da Escola de Cambridge são melhores descritos como ricardianos dos tempos atuais.[15] Pela razão dada acima não podemos chamá-los de pós-Marxistas. Eles preferem o rótulo de neokeynesianos, mas podemos ter receios sobre isso. Keynes, apesar de todo o seu interesse em macroeconomia, pouco deveu a Ricardo e por toda a sua vida permaneceu um subjetivista[16] que se recusou a lançar o incentivo a investir no molde de uma macrovariável tal como o princípio de aceleração. Ele negou qualquer interesse no equilíbrio de longo prazo e substanciou essa negação apontando que no longo prazo estaremos todos mortos.
O principal objetivo da Escola de Cambridge dos dias presentes parece ser uma tentativa de desfazer os resultados da revolução marginalista e ocasionar uma contrarrevolução ricardiana. Por uns cem anos economistas têm tomado como certo que aquilo que acontece em uma economia de mercado depende em última instância das preferências e expectativas subjetivas de milhões de indivíduos exprimindo-se na oferta e demanda por bens, serviços e ativos financeiros. Se aceitamos esta abordagem estamos compelidos a prestar muita atenção às diferenças entre as preferências humanas e a divergência de expectativas. Se não, estamos presumivelmente livres para voltar nossas atenções aos fatos supostamente “socialmente objetivos”. Em um mundo em que as diferenças de preferências e as divergências de expectativas não importam há, é claro, espaço nenhum aos empreendedores.
Para os neorricardianos a distribuição das rendas, admitidamente um termo ricardiano, parece ter nenhum significado exceto dentro dos termos estreitos de “classes da comunidade”. Como as rendas são, por exemplo, distribuídas entre os donos de capital não parece interessá-los. Que pessoas pertencentes à mesma “classe” possam agir de muitas maneiras diferentes na mesma “situação objetiva”, que pode haver nenhuma competição sem que alguns competidores sejam malsucedidos enquanto outros sejam bem-sucedidos — todos esses são fatos não congênitos ao pensamento neorricardiano. Para eles, a ação econômica sempre significa a resposta de um “agente típico” a uma “dada” situação. Homens agem exclusivamente em suas capacidades como “trabalhadores”, “capitalistas” ou “senhorios”. A ação espontânea não existe. Os homens não realmente agem no mundo ricardiano, eles meramente reagem às circunstâncias em que eles por acaso se encontram. É, por conseguinte, dificilmente surpreendente que a compreensão neorricardiana das maneiras em que uma economia de mercado funciona é um tanto limitada, e o subjetivismo é visto como nada senão uma aberração do verdadeiro caminho do pensamento econômico. Pode-se dizer que Ricardo pensava essencialmente em termos de equilíbrio de longo prazo. Então não é surpreendente descobrir que o formalismo macroeconômico é um estilo de pensamento agradável pois é apropriado* aos seus discípulos dos dias atuais.
Defesas da boca para fora às microfundações*
De tempos em tempos, contudo, descobrimos que defesas da boca para fora são feitas às microfundações do fenômeno econômico. O retorno ao estilo clássico de pensamento requer um esforço penoso, e um século de subjetivismo tem compreensivelmente deixado profundos traços nas mentes de nossos pretensos ricardianos, que eles parecem incapazes de apagar completamente. Até encontramos a verdade ocasionalmente reconhecida de que o macroequilíbrio requer explanação causal em termos de escolha e decisão humana.[17]
Mas essas admissões nunca são permitidas a afetar suas práticas analíticas. Quando se trata de explicar processos econômicos somos frequentemente contados, por exemplo, que “empreendedores” fazem decisões de investimento, “rentistas” põem suas riquezas em uma forma ou outra, enquanto consumidores consomem o que resta do PNB. Estereótipos atuam na peça como agentes econômicos. Os eventos econômicos são o resultado de algum tipo de processo coletivo de tomada de decisão, o modus operandi o qual nunca é explicado. Seres imaginários tomam o lugar de pessoas reais.
A atitude de seus oponentes neoclássicos ao formalismo macroeconômico é muito mais difícil de descrever. Como walrasianos eles dificilmente podem ser alheios às microfundações da macroteoria. Não foi uma das conquistas de Walras precisamente isto, a saber, ter fundido os eventos econômicos do nível do indivíduo, mercado e sistema dentro de um corpo de pensamento, e ter descoberto na noção de equilíbrio o conceito unificante, o instrumento que nos permite ver o fenômeno micro assim como o macroeconômico como elementos de um todo orgânico? Mas a força das modas intelectuais prevalentes não é facilmente resistida, suas admirações por Keynes e seus trabalhos é forte (a maioria deles gostam de pensar a si mesmos como keynesianos), e a facilidade com que as macrovariáveis keynesianas, tais como emprego ou investimento, parecem prestar-se à medida estatística tem os induzido a olhar para as investigações econométricas como um meio de verificar suas teorias. Na verdade, quanto mais duramente pressionados pelos seus oponentes, mais eles se tornaram inclinados a olhar para os econometristas para sua vindicação última. A tentativa, por um lado, de agarrar-se firmemente aos atos de escolha e decisão como a fundação do fenômeno econômico, enquanto, ao mesmo tempo, apresenta-se sua teoria em uma forma “operacionalmente significativa”, isto é, estatisticamente mensurável, naturalmente acabou sendo uma fonte de fraqueza que seus oponentes neorricardianos não têm falhado em explorar*.
Macroformalismo adotado por ambas as escolas
Assim, as duas escolas rivais chegaram a abraçar o formalismo macroeconômico como seus estilos comuns de pensamento por diferentes razões, a Escola de Cambridge por convicção interna, os neoclássicos ofuscados pelo brilho do sucesso keynesiano. Advindo desta diferença tem se seguido uma diferença de atitude em relação ao modo de verificação e realismo das pressuposições. Os formalistas neoclássicos estão inclinados a considerar o realismo das pressuposições como menos importante contanto que elas nos permitam fazer “previsões testáveis”. Por muito tempo eles evidentemente consideraram a conformidade da série estatística nos EUA, e em outros lugares, à função Cobb-Douglas[18] como evidência empírica para a teoria neoclássica de distribuição.[19] Em seu De Vries Lectures[20] de 1963 o Professor Solow utilizou séries estatísticas para tal corroboração, e em seu Growth Theory (1970)[21] ele faz o mesmo para apoiar a noção de “crescimento constante”.
Naturalmente seus oponentes têm, ultimamente, virado os seus fogos a essas posições fracas. Por conseguinte, a Professora Robinson tem mostrado que, precisamente na medida em que a teoria neoclássica estiver firmemente baseada em microfundações, estiver fundamentada em, e deveria prestar expressão a, atos individuais de escolha e decisão, ela desafia a verificação estatística.
“Estatísticos conseguem descobrir de uma maneira geral aproximada, para uma situação particular, a razão* capital/quantia-produzida em valores de dólares e a parcela de lucro no valor em dólar da quantia produzida líquida, para que eles consigam estimar a taxa ex post geral de lucro sobre o capital. Eles não conseguem descrever aquilo que estava nas mentes dos diretores das firmas ou nas pranchetas de desenho dos engenheiros quando as escolhas foram feitas e as quais levaram à criação do existente estoque de equipamento de capital. Ainda menos conseguem eles dizer que escolhas teriam[22] sido feitas se a taxa de lucro tivesse sido diferente daquilo que era.”[23]
A crítica dela aqui é direcionada, é verdade, a somente uma das posições neoclássicas, nomeadamente, a dita “função de produção neoclássica”.[24] Mas isso claramente precisa se estender a qualquer teoria baseada na escolha individual entre alternativas. Quanto mais firmemente um argumento macroeconômico está ligado à sua microfundação de escolha e decisão, menos ele se presta à verificação estatística. Já que a gama de escolha presente nas mentes dos tomadores de decisão desafia a medida estatística, nenhuma teoria que liga eventos observáveis, como quantias produzidas ou preços, à escolha e decisão é, neste sentido, “testável”. As circunstâncias que influenciam as decisões exprimem suas reflexões mentais nos planos. Toda ação econômica é, em primeiro lugar, a fabricação e execução dos planos econômicos. Desde que haja nenhuma estatística de planos nada há com que os econometristas possam correlacionar suas medidas.
Uma teoria expressada em termos de equilíbrio não pode ser testada por medidas tomadas em um mundo de contínuo desequilíbrio. Qualquer esperança de que as forças desequilibrantes, das quais em nossa teoria temos abstraído, iriam, no mundo real, operar de tal maneira a compensar umas às outras e produzir um resultado líquido de zero e então render equilíbrio, é evidentemente bastante infundado na razão ou experiência. No mundo real em que os estatísticos têm de trabalhar, alguns mercados estarão em equilíbrio a qualquer momento, outros em desequilíbrio. Por conseguinte, o “sistema econômico como um todo” nunca está em equilíbrio. Como podem as medidas econômicas tomadas em tais circunstâncias tanto verificar quanto falsificar as teorias de equilíbrio do tipo neoclássico?
A sombra Ricardiana
A escola de Cambridge, ao apontar as fraquezas da posição metodológica de seus oponentes neoclássicos, nada tem feito para fortalecer as suas próprias fundações. É claro que eles são incapazes de pular sobre suas sombras ricardianas*. As expectativas não se encaixam no esquema analítico deles e tem que ser mantidas ao comprimento de um braço*. A variabilidade das preferências humanas, talhadas pela experiência e guiadas pela difusão de conhecimento de um indivíduo ao outro, de mercado a mercado, de país a país, é ignoradíssima, embora, decerto, suas consequências não possam sempre sê-la. Para os ricardianos o consumidor não existe de maneira alguma. O mundo deles é um mundo de produção e distribuição. O consumo não é uma atividade econômica. A demanda dos consumidores tem efeito nenhum sobre preços. Para os formalistas neoclássicos o consumidor existe, mas a existência dele é um tanto sombria. Apenas suas preferências, permanentes por pressuposição, não o curso de suas ações, são consideradas de algum interesse aos economistas. Uma vez que suas escalas de preferência tenham sido totalmente registradas ele estará dispensado ao reino das sombras e será avisado a nunca retornar. É característico do estilo formalístico de pensamento que aqueles que o têm assimilado* se tornam incapazes de conceber a ação humana espontânea, distinto da reação aos eventos de fora.
Nós tentaremos mostrar que nessa controvérsia ambas as escolas de Cambridge e neoclássica são prevenidas, pelas suas pré-concepções de equilíbrio, de entender a natureza dos processos de mercado da realidade. Elas são tentadas a considerar como “macrovariáveis” o que são, na realidade, os resultados cumulativos de milhões de ações individuais. Já que essas ações microeconômicas não são necessariamente repetidas no dia a dia, ainda menos de ano a ano, temos nem sequer uma razão para acreditar na constância agregativa das macrovariáveis ao longo do tempo.
B. Uma Breve História da Controvérsia
A controvérsia começou em 1953 com um ataque frontal da Sra. Robinson à “função de produção neoclássica” como uma macrovariável designada a mostrar a quantia produzida como uma função de insumo de capital e labor.[25] Ela mostrou que não há algo como uma quantidade de capital, assim nenhum insumo mensurável disso. Em 1956, ela apresentou um modelo de uma teoria de crescimento (com e sem progresso tecnológico) sem capital mensurável.[26] Alguns apertos foram encontrados lá, as quais a eminente autora obteve êxito em resolver com elegância e facilidade. As expectativas foram efetivamente descartadas pela pressuposição de que todo mundo sempre espera que o futuro seja como o passado. Os efeitos das mudanças na demanda dos consumidores foram obviados pela pressuposição de que o estoque de capital sempre tinha (mas como?) exatamente aquela composição requerida pela composição do “maço” dos bens de consumo que os consumidores demandavam. Embora a possibilidade de mal-investimento, desta forma consideravelmente restrita em qualquer caso, fosse lhanamente* admitida que existe mesmo assim, fomo-nos dados a entender que, de modo geral, o estoque de capital corrente representava o resultado cumulativo de todas as decisões de investimento tomadas no decorrer dos séculos. O capital era heterogêneo e por conseguinte não mensurável, mas essa heterogeneidade teve efeito nenhum no processo de acumulação.
A próxima fase foi alcançada em 1960 com a publicação do livro do Sr. Sraffa.[27] A atmosfera do equilíbrio de longo prazo ricardiano é aqui onidifusa. Desde a primeira página até a última, encontramo-nos em um mundo em que todo mercado está sempre em equilíbrio. Nenhuma palavra é desperdiçada para dizer-nos como tal equilíbrio pode ser atingido na realidade ou o que aconteceria se ele fosse disturbado. Sua conclusão mais importante é o caráter indeterminado da distribuição das rendas entre salários e lucros em tal modelo. Os instrumentos da análise marginal foram embotados. Desta conclusão se segue também “que não há algo como ‘quantidade de capital’ que exista independentemente da taxa de lucro”.[28]
No capítulo XII do livro dele, “Switch in Methods of Production”, o Sr. Sraffa discutiu a possibilidade de usar o mesmo método de produção em mais de uma taxa de lucro. Isto deu surgimento a o que veio a ser conhecido como a “Controvérsia do Reswitching”, que o lado neoclássico, por um tempo, considerou como o coração da questão, mas o qual podemos agora ver que foi um mero episódio. Portanto, lidaremos com isso muito brevemente. Aqui a Escola de Cambridge venceu uma vitória clara. Eles foram capazes de estabelecer que, como o Sr. Sraffa tinha dito, as técnicas de produção não são unicamente relacionadas aos “preços relativos de fatores”. A mesma técnica de produção pode ser a mais lucrativa de se usar em uma taxa de lucro mais baixa bem como em uma mais alta, enquanto outras podem ser mais lucrativas em um faixa intermediária. Não temos, portanto, o direito de pressupor uma variação contínua de técnicas de produção consequentes das mudanças na taxa de lucro, por exemplo, de tal maneira que conforme a taxa de lucro cai mais e mais as técnicas de “capital intensivo” serão escolhidas. A princípio um retorno à técnica anteriormente usada em uma taxa maior de lucro é sempre possível. Se isso irá realmente ocorrer dependerá da tecnologia disponível. Por conseguinte, a mesma bomba de água que era a mais lucrativa de se usar quando a taxa de juro era de 9 por cento pode, novamente, ser a mais lucrativa a 5 por cento enquanto que as outras são mais qualificadas entre e por cento. O lado neoclássico tinha originalmente negado essa possibilidade.
Ultimamente, a controvérsia tem tomado um novo rumo. O ponto de virada é claramente visível no famoso artigo de 1969 do Dr. Luigi Pasinetti.[29] A passagem de abertura inambiguamente indica o objetivo real do ataque dele.
“Sempre que um novo resultado emerge, em qualquer campo teórico, é natural olhar para trás na teoria tradicional e verificar se, ou a que extensão, as noções recebidas podem ainda ser usadas ou terão de ser abandonadas. O resultado da discussão recente sobre o problema das mudanças de técnicas parece ter começado um processo deste tipo às ferramentas analíticas usadas na teoria de capital.”
A Escola de Cambridge, por todo o período da ofensiva, agora tenta mostrar que a taxa de juro (ou lucro) é tão indeterminada dentro do sistema neoclássico quanto dentro do modelo neorricardiano de Sraffa. Eles asseveram que, contrário à visão do Professor Solow, nenhuma taxa assim pode ser encontrada como uma variável dependente dentro de um sistema de preços de equilíbrio; que, se for usada em tal sistema, ela tem de ser determinada de fora dele. Para a economia de mercado da realidade isso significa que, já que não há nenhuma produtividade marginal de capital para governar a taxa de lucro, a distribuição das rendas entre os lucros e salários é economicamente indeterminada. Os lucros podem ser espremidos pelo sindicato ou pela ação governamental com nenhum resultado inesperado e inconveniente, exceto, possivelmente, na taxa de crescimento.
É em este ponto que precisamos entrar na referta*. Lucros são uma feição essencial da economia de mercado. Será que a controvérsia lança alguma luz sobre a necessidade do lucro? Porventura nós seremos capazes de iluminar alguns aspectos muito esquisitos da posição compartilhada por ambas as escolas concorrentes se nós tentarmos elucidar a natureza dos lucros, suas funções na economia de mercado, as circunstâncias que dão surgimento a eles e aquilo que modifica as magnitudes deles.
IV. A NATUREZA DOS LUCROS E “A” TAXA DE LUCRO
Deve haver mais do que alguns economistas que, quando lendo os trabalhos do Ricardo ou Marx, ou de seus discípulos dos dias atuais, encontraram-se indagando-se: “em que lugar exatamente deveríamos procurar, na vida real, um homólogo à taxa de lucro?” Trabalhadores auferem salários, dizem-nos, e donos de capital recebem lucros. Todos nós sabemos em que lugar procurar o real homólogo aos salários. Embora assalariados aufiram taxas salariais as quais podem diferir bastante, em circunstâncias ordinárias um assalariado de uma dada categoria pode esperar auferir uma taxa salarial de mais ou menos dada magnitude a qual pode variar entre certos, mas finitos, limites. Com os lucros nem uma temos nem uma tal indicação de suas futuras magnitudes.
Lucro é a diferença entre o preço pelo qual uma mercadoria é vendida e o custo dele ao vendedor. Tais diferenças podem assumir qualquer magnitude, incluindo uma negativa. As perdas são, de jeito nenhum, incomuns nos negócios, embora nenhuma firma poderia as sustentar no longo prazo.
Competição implica taxas variantes de lucro
Lucros são uma feição essencial da economia de mercado. Cada firma tenta maximizar seus lucros sobre algum período de ação o qual pode ser pequeno ou longo. Esse período pode variar conforme as circunstâncias mudam. Mas independentemente de como o alvo seja definido, cada ação precisa contribuir para o atingimento dele. A firma precisa se empenhar para lucrar em cada transação que ela incorre. Um dono de capital investe seu capital no lugar em que ele tem esperança de obter a maior taxa de retorno líquido. Mas a motivação da ação e o sucesso da ação dessa forma motivada não são, de modo algum, a mesma coisa. É possível descrever o funcionamento de uma economia de mercado em termos da orientação universal de suas mentes empreendedoras ativas aos lucros máximos; é absurdo fazer isso em termos de sucesso universal. A própria natureza da competição, outra feição essencial da economia de mercado, torna o sucesso de todos os planos impossível. Assim, encontramos firmas malsucedidas lado a lado com as bem-sucedidas, até dentro da mesma indústria ou região. Encontramos mal-investimento lado a lado com investimentos de capital que têm sido bem-sucedidos além das mais ousadas expectativas daqueles quem os fizeram. Não há, portanto, algo como uma taxa de lucro, há somente taxas de lucro que podem amplamente se diferenciar.
Essa situação tem, é claro, algo a ver com a heterogeneidade de capital, uma propriedade do estoque de capital que atua um papel na controvérsia com a qual estamos preocupados, mas a sua verdadeira significância existe além daquela da mera heterogeneidade física. Se pressupormos que todo capital seja homogêneo (uma pressuposição que Keynes compartilhou com Ricardo e Böhm-Bawerk, bem como a maioria dos economistas neoclássicos mais velhos) pode haver somente uma taxa de lucro. Mas conquanto a heterogeneidade física de capital seja uma causa da variedade de lucros que encontramos na realidade, ela não é a única causa. Duas máquinas completamente idênticas, usadas em duas diferentes fábricas, não podem, de maneira alguma, ser igualmente lucrativas aos seus donos. Por conseguinte, até a homogeneidade de capital não acarreta uma taxa uniforme de lucro. Pois o lucro amontoa, no primeiro caso, a uma combinação de capital, o estoque de composição variável mantida por uma firma, e a sua imputação a cada um dos componentes dela é frequentemente uma questão de alguma complexidão.[30] Este fato, todavia, serve, além disso, para prejudicar a noção de uma taxa uniforme de lucro.
O equilíbrio de longo prazo é inatingível
Para Ricardo, é claro, o originador da ideia, a taxa uniforme de lucro era simplesmente um corolário do livre acesso a todos os mercados. Se as taxas fossem diferentes todo capital fluiria afora dos ramos menos lucrativos da indústria e acumularia naqueles mais lucrativos, por conseguinte ocasionando um nível uniforme de lucratividade. Isto é uma propriedade do equilíbrio de longo prazo. Mas no nosso mundo em que tanto capital é durável e específico, essas forças equilibrantes, o triunfo final com o qual o Ricardo contava, podem operar apenas lentamente, embora, é claro, segundo taxas variantes em diferentes setores do sistema. Quando elas podem operar apenas lentamente, entretanto, é muito provável que elas sejam ultrapassadas pelas forças desequilíbrantes da mudança inesperada, e a posição de equilíbrio de longo prazo nunca será alcançada. Quanto mais rápido as forças equilibrantes puderem fazer seus trabalhos, mais poderemos contar com elas e vice-versa. Tudo isso demonstra, em primeiro lugar, o quão replenas com perigo estão todas as teorias de equilíbrio quando aplicadas a um mundo em que o triunfo de nossas forças equilibrantes, até o triunfo final delas, não pode de modo algum ser tomado como certo. Em segundo lugar, o nosso argumento mostra que a estrutura do estoque de capital, em termos de durabilidade e especificidade, não pode, mais do que a sua composição em termos das combinações mencionadas acima (uma categoria microeconomia em qualquer descrição!), ser ignorada com impunidade, até em um argumento macroeconômico como aquele preocupado com a tendência à uniformidade de todas as taxas de lucro.
Há, é claro, mercados em que o mecanismo ricardiano opera com velocidade e sucesso grandes, e nos quais o equilíbrio é, via de regra, estabelecido veloz e eficientemente. Isso é naturalmente possível somente dentro da estrutura geral da economia de mercado. Podemos mencionar aqui toda a gama de mercados financeiros. Nos mercados de empréstimos a arbitragem irá velozmente ocasionar uma estrutura de taxas de juros. Há a Bolsa de Valores, um mercado para garantias encarnando títulos às ações em combinações de capital, e desta forma para fluxos de renda futuros esperados, em que um equilíbrio de preços de ativos acarretando um equilíbrio de rendimento às classes de ativos do mesmo grau de risco, é estabelecida todo dia. Tal equilíbrio de rendimento, entretanto, nada tem a ver com o que os ricardianos, jovens e velhos, querem dizer com a taxa de lucro. Isso não é idêntico, também, à taxa de retorno sobre custos[31] de Fisher, a versão neoclássica do conceito ricardiano. Pelo contrário, o que acontece em uma economia de mercado é que o mercado ocasiona um estado de coisas em que as diferenças nas taxas de retorno para diferentes tipos de capitais (construções, máquinas, estoques de bens) investidos em diferentes empreendimentos são compensados pelos ganhos e perdas de capitais, de tal maneira a tornar esses ativos de diferentes lucratividades sobre o capital originalmente investido neles, igualmente atrativos aos detentores de riqueza presente. O mercado é, por conseguinte, um dispositivo engenhoso para deixar os passados serem passados* e nos compelir a direcionar toda a nossa força mental para deslindar os segredos do futuro. A taxa de rendimento (dividendo e ganhos) sobre todas as ações para as quais o mercado irroga um igual grau de risco têm, é claro, de ser igual, mas isso nada diz sobre a taxa de retorno do capital originalmente investido nelas.
Podemos também imaginar um sistema de mercados intertemporais tais como o Keynes anteviu[32], no qual bens presentes possam ser trocados por bens futuros assim como uns pelos outros. Uma “taxa própria de juro” chegaria a existir em cada mercado, mas uma taxa geral prevaleceria no fim, de tal maneira que não seria mais lucrativo carregar um estoque de madeira do que um de carvão. Essa taxa geral de juro iria, é claro, refletir a “preferência temporal” do mercado como um todo da mesma maneira que os preços da Bolsa de Valores refletem o grau de aversão ao risco ou a preferência do mercado como um todo. Novamente, entretanto, essa taxa de equilíbrio de troca intertemporal tem nada a ver com a taxa de lucro ricardiana. Os ricardianos contemporâneos dificilmente acharão que isso é de seus agrados. Considerando as atitudes hostis deles para com o subjetivismo (eles detestam a utilidade e negligenciam as expectativas sempre que possível), é improvável que eles concedam um status alto a uma magnitude econômica refletindo a preferência temporal, outra atitude subjetiva. O conceito precisa ser suspeito a eles precisamente porque ele assenta em uma fundação microeconômica firme.
Podemos alvitrar, por outro lado, que essa taxa de equilíbrio de troca intertemporal é mais ou menos o que a escola neoclássica do Samuelson, Solow, e outros querem dizer com “a taxa de juro”. Se assim for, dois pontos têm de ser levantados. O primeiro: esse conceito tem um significado claro e não ambíguo somente dentro do contexto de uma economia de troca intertemporal, mas não necessariamente em uma economia em que processos demorados de produção acontecem e equipamento durável é usado. Nisso podemos, na verdade temos de, pressupor que os estoques carregados de cada uma das nossas mercadorias estão em tamanho de equilíbrio. Sem estoques de equilíbrio não pode haver nenhum preço de equilíbrio. Mas em uma economia com equipamento de capital específico e durável isso é dificilmente exequível. Precisa haver no estoque alguns “fósseis” — bens de capital produzidos há muito tempo, em uma situação bastante diferente da de hoje, que não seriam substituídos em suas formas presentes se eles fossem destruídos por acidente. Em outras palavras, em de uma economia de produção tal como conhecemos, o estoque de capital nunca tem sua composição de equilíbrio. Em de uma economia de pura troca não há razão alguma pela qual ela não deveria ter isso.
A “Taxa social de retorno” de Solow
Em segundo: se isso é o que a escola neoclássica quer dizer com “a taxa de juro”, ela ainda há de dizer. A “taxa social de retorno” do Professor Solow, decerto, é uma taxa intertemporal, mas em um mundo de uma mercadoria. Nossa taxa de equilíbrio requer ajustamentos de preços intertemporais para ser estabelecida. No modelo soloviano não há preços que poderiam mudar. E também a taxa de retorno dele parece se aplicar a uma economia de produção, não uma de troca, sem fósseis. Mas em uma economia de produção em que estoques não são de tamanho de equilíbrio há nenhum lugar para uma taxa de equilíbrio de troca intertemporal.
Em resumo, o modelo do Professor Solow é irrelevante à economia de mercado. Ele não está alheio a isso:
“Pode ser alegado que uma teoria de capital erigida sobre bases de planejamento não tem relevância alguma no comportamento verdadeiro de qualquer economia capitalista real. Esse argumento tem frequentemente sido feito, com considerável sucesso, contra a teoria de preço competitivo e estático. É improvável que a teoria de capital seja imune a mesma reclamação.”[33]
É difícil de ver como, então, ele pôde escrever na própria próxima página “[eu] suponho que o meu ponto de vista poderia ser descrito como uma amalgamação moderna de Wicksell e Irving Fisher.”[34] Estes dois pensadores estavam preocupados com a economia de mercado e tentaram elucidar os problemas de investimento que surgem dentro dela. Eles nunca, de nosso conhecimento, olharam para eles “do ponto de vista do planejamento”. Eles sabiam que em uma economia de mercado todas as mudanças econômicas, e assim o investimento, em primeiro lugar, exprimem-se nas mudanças de níveis de preços relativos. O mundo de uma mercadoria como um dispositivo auxiliar, decerto, não era desconhecido a eles. Mas eles eram sábios o suficiente para não deixar as coisas aí.
Mas isso não é tudo. No sistema de Fisher, a taxa de retorno sobre os custos é intimamente ligada à taxa de juro que, por sua vez, reflete a preferência temporal. É pela comparação das duas que o investidor decide quais projetos perseguir.
“Abordagem do planejador” ao investimento
Na teoria de juro do Fisher, os elementos subjetivos e objetivos, a preferência temporal e as oportunidades de investimento são, por conseguinte, igualmente parelhos. (É claro, até tais oportunidades, existindo como expectativas nas mentes dos investidores, são, estritamente falando, elementos subjetivos, mas o Fisher escrevia antes das expectativas entrarem na economia moderna nos anos 1930). O Professor Solow deliberadamente ignora o elemento subjetivo de preferência temporal e, na escolha da “abordagem do planejador”, concentra-se nas oportunidades de investimento supostamente objetivas para calcular sua taxa de retorno sobre investimento.
O caso é instrutivo porque ele destaca algumas características do estilo de pensamento do formalismo neoclássico.
Em primeiro lugar, ele robora o parecer de que só se faz defesas da boca para fora às fundações microeconômicas. Esses economistas podem muito bem reconhecer, de uma maneira geral, a significância das preferências e expectativas humanas na vida econômica. Entretanto, quando se depara com problemas sérios (e para o Professor Solow a “taxa de retorno” é o problema central da teoria de capital), a preferência temporal é ignorada e uma visão “tecnocrática” é tomada.[35]
Em segundo lugar, quando confronta um problema sério na economia de mercado, a mente neoclássica parece ser incapaz de ver isso na perspectiva de poupadores e investidores, aqueles que na realidade têm de resolver isso. Isso precisa ser visto, ao invés, na perspectiva de um planejador hipotético. Concluímos que os economistas que propõem tais receitas não estão realmente interessados em como a economia de mercado funciona e que aqueles que estão têm pouco a aprender advindo de elas.
Em qualquer caso, a taxa intertemporal geral de troca provê somente um nível de piso. Evidentemente nenhuma taxa mais baixa de lucro é possível. A isto podemos adicionar que, em um mercado de empréstimo em que instituições financeiras, razoavelmente caras de gerir, são emprestadores importantes, as taxas de juro precisam estar altas o suficiente para as possibilitar de cobrirem seus custos. Tanto que, seguindo o Sir John Hicks, um economista neoclássico eminente, podemos assumir a partir preferência pela liquidez do Keynes[36]. Isso nos provê com outro, e provavelmente maior, nível de piso.
Mas em qualquer situação normal em uma economia de mercado, lucros estão, é claro, consideravelmente em excesso neste nível, e emprestadores de capital ajustarão suas demandas para aquilo que eles sentem que aqueles quem pegam emprestado são capazes de pagar. Precisa haver, é claro, equilíbrio no mercado de empréstimo. A demanda é governada pelos lucros que espera-se ser auferidos sobre o capital no presente completamente móvel (“capital livre”, a “disposição de capital”* do Cassel) quando ele é investido, e isto, por sua vez, depende da constelação das diferenças de preço-custo, presentes e esperadas.
Lucros são um fenômeno de desequilíbrio
Lucros são auferidos sempre que haver diferenças de preço-custo. Eles são, por conseguinte, um típico fenômeno de desequilíbrio, impermanente, continuamente mudadiço quanto as suas origens e magnitudes, afetadas por mudança matutada (inovação) bem como por mudança não designada emanando de movimentos de população, mudanças na demanda etc. Lucros são uma renda permanente fluindo das fontes sempre mudadiças, como os lucros de um restaurante em que um diferente conjunto de fregueses escolhem um diferente conjunto de pratos do cardápio todo dia. A existência do poder de monopólio, independentemente do quão importante seja como uma fonte dos lucros, faz nenhuma diferença para a nossa descrição porque, no longo prazo, com aquilo que estamos aqui preocupados, o poder de monopólio não é mais permanente do que quaisquer outras fontes de lucro.
A erosão das diferenças de preço-custo é açulada por muitas forças e podem assumir numerosas formas. A pressão da competição por vendedores rivais não é, de modo algum, a única tal força. Sindicatos e produtores de partes de componentes e outros insumos podem exercer pressão sobre os lucros. Consumidores, concitados pela força da moda, ou por razões próprias (por exemplo, tédio), podem se afastar daquilo que costumava ser um produto bem-sucedido.
Tudo isso significa que a magnitude dos lucros, em cada período, é talhada principalmente por forças de curto período. A todo tempo uma força de longo prazo tendendo a eliminar essas diferenças de preço-custo está trabalhando. No equilíbrio de longo prazo, em que, por definição, as forças equilibrantes têm finalmente prevalecido sobre todas as forças de disrupção, não há lucro algum. A persistência dos lucros em uma economia de mercado é devida à persistência do desequilíbrio em algum setor do sistema econômico. Como em um caleidoscópio, a constelação de forças operando no sistema como um todo é sempre mudadiça. Como na interpretação de Keynes do Professor Shackle, caleido-estático[37] em vez de equilíbrio estático é, portanto, corretamente considerado como o método de análise apropriado à realidade da economia de mercado.[38]
Duas conclusões relevantes ao nosso tema seguem daquilo que tem sido dito. A primeira: as sempre elusivas e fugitivas diferenças preço-custo que são a fonte de todos os lucros podem ter nenhum lugar no mundo de equilíbrio de longo prazo, no qual as duas escolas rivais ambas se compromissam com. Uma taxa de equilíbrio de lucro é, por conseguinte, uma contradição em termos.
A segunda: os lucros são preeminentemente um fenômeno microeconômico. As bases deles hão de ser encontradas primariamente no sempre mudadiço padrão de diferenças preço-custo em uns mil mercados diferentes. Sem entender essa microfundação do fenômeno não conseguimos entender a essência dele. Certamente não deveríamos ser capazes de formular uma teoria geral dos lucros sem isso. Uma teoria macroeconômica de lucro pode, portanto, fazer pouco sentido.
Controvérsia da taxa de lucro / taxa de juro
Após todas essas elucidações que nós retornemos a nossa controvérsia. Nela, duas perguntas estão em questão entre os concorrentes. Há uma taxa de lucro e uma taxa de juro, ou as duas em equilíbrio coincidem? E essas duas taxas, ou esta taxa, seriam determinadas?
Na primeira pergunta, os neoclássicos defendem que no equilíbrio pode haver somente uma tal taxa de retorno, a “taxa social de retorno” do Professor Solow, uma taxa de equilíbrio intertemporal de troca.[39] Como vimos, tal taxa, se for, de alguma maneira, significativa em uma economia de produção, precisa estar baseada na preferência temporal e constituiria na realidade um mínimo de todas as taxas possíveis. A visão neoclássica precisa, portanto, querer dizer que, no longo prazo, quando todas as possibilidades produtivas tiverem sido exaustadas, a taxa de juro será inteiramente determinada pela preferência temporal. Tal posição evidentemente requer uma economia estacionária e é incompatível com o crescimento.
A Escola de Cambridge insiste em uma clara distinção entre a taxa de lucro e taxa de juro. “A taxa normal de lucro precisa estar nitidamente distinguida da taxa de lucro”, a Professora Joan Robinson nos diz:
“A recompensa do aguardo — a taxa de retorno sobre a riqueza rentista — é determinada no mercado monetário. Com as instalações que as instituições modernas provêm, colocações comercializáveis são muito menos arriscadas do que ativos produtivos; o nível de seus rendimentos é normalmente muito abaixo do que a taxa prospectiva de lucro que atrai investimento real.”[40]
Ela admite que:
“A taxa de lucro sobre capital é nem uniforme por toda uma economia, nem constante ao longo do tempo. Todavia, o conceito da taxa normal de lucro determinada por investimento e as propensões a poupar provêm a estrutura de uma teoria geral dentro da qual uma análise detalhada pode ser erguida”,
Um exemplo tão deleitável de non sequitur macroeconômico quanto poderíamos ter desejado.
A contínua existência separada das duas taxas é aqui aparentemente devida à incapacidade ou indisposição dos “rentistas” de tornar as riquezas deles em formas que os permitiriam compartilhar os lucros mais altos que seriam derivados dos ativos reais ou “produtivos”. Não é claro por que aqueles capazes de manipular os ativos financeiros deveriam, como uma “classe da comunidade”, ser incapazes de manipular os ativos reais. Se a aversão ao risco é a resposta, tem que ser apontado que ela, é claro, é uma propriedade das mentes individuais e dificilmente é uma característica de uma classe social. Poderia ser que outro lapso temporário ao subjetivismo, um pecado contra o espírito ricardiano, tem aqui enganado nossa autora a alcançar uma conclusão muito não ricardiana, nomeadamente, a contínua existência de duas taxas de retorno sobre capital?
Evidentemente as diferenças entre as duas escolas sobre esse ponto meramente reflete uma diferença no nível de abstração sobre o qual o argumento é conduzido. A taxa neoclássica de retorno se aplica estritamente somente a um mundo de uma mercadoria com troca intertemporal mas com nenhum crescimento. Logo que tentamos aplicá-la a uma economia de produção com mudança em um mundo multi-mercadorias, a unidade de a taxa de retorno desaparece. No lugar em que há muitas oportunidades de investimentos aparecendo em sucessão ao longo do tempo, há mais do que uma taxa de retorno. É verdade, é claro, que a cada momento a mais lucrativa delas atrairá todos os novos investimentos e constituirá a “eficiência marginal de capital” do Keynes.[41] Mas mesmo excetuado que isso seja uma questão de expectativas divergentes, com um padrão sempre mudadiço de lucros, essa magnitude, uma criatura do curto prazo keynesiano, está sujeita a mudança contínua, e as forças equilibrantes tendendo em direção a uma taxa uniforme são, por conseguinte, continuadamente ultrapassadas pelas forças de mudança. É somente pela aderência a um nível de abstração, que nos permite ignorar essas forças de mudança, que podemos, confiantes do triunfo final das forças equilibrantes, descansar. O formalismo neoclássico, malgrado sua aparentelada contagem com as fundações microeconômicas, é apto para achar as forças emanando delas na realidade frequentemente um tanto perturbadoras e inconvenientes. O edifício neoclássico de pensamento não é bem integrado.
A Escola de Cambridge, por outro lado, conduz o argumento aqui em um nível ligeiramente menor de abstração. As duas taxas são, agora, prevenidas de se fundir em uma por aquilo que nós descobrimos ser um dispositivo um tanto peculiar: uma das forças de equilíbrio, que tende a causar a igualdade da taxa de retorno para os ativos reais com a “taxa de retorno às riquezas dos rentistas”, é permanentemente presa. Podemos admirar a qualidade de despachada* da mente neorricardiana neste esforço de diminuir os níveis de abstração, mas é claro que esse fenômeno, assim como uma grande quantia de fenômenos similares, pode ser mais simples e plenamente explicado pela volta às fontes microeconômicas das forças macroeconômicas. No mundo real da economia de mercado há tantas multidões de taxas de lucro e taxas de juros que a possibilidade de que todas elas irão, um dia, fundir-se em uma única entidade parece remota. Nem, entretanto, é provável que elas se fundirão em duas tais entidades.
A absurdidade do conceito da “taxa normal de lucro”
Sobre a segunda questão, acerca do caráter determinado da taxa ou taxas, as conclusões opostas das duas escolas realmente seguem dos argumentos expostos acima. Os formalistas neoclássicos, como os herdeiros de Walras e Wicksell, têm pouca escolha senão considerar a taxa uniforme de juro deles como uma variável dependente do sistema de equilíbrio geral deles. Se ela não é determinada, nenhum preço também é.
A Escola de Cambridge igualmente se compromissa com a demonstração do Sr. Sraffa de que em um sistema ricardiano, assim que os salários forem permitidos subir acima do nível de subsistência, o modo de distribuição entre salários e lucros, e assim a taxa de lucro, é indeterminado. Em uma economia crescente, decerto, nas palavras da Sra. Robinson citadas acima, encontramos “o conceito da taxa normal de lucro determinada por investimento e as propensões de poupar”, que presumivelmente dá àquilo o caráter determinado desejado como um resultado de forças puramente macroeconômicas. A implicação evidentemente é que, para que a taxa de lucro se torne determinada requeremos uma economia peculiar, uma em um estado de crescimento de equilíbrio.
A noção de uma “taxa normal de lucro” em uma economia crescente é uma noção ainda mais absurda do que em uma sem crescimento. Lucros são um concomitante da mudança em uma economia de mercado. É difícil ver por que o crescimento como um tipo de mudança deveria ser capaz de engendrar rendas regulares de um tipo que, em outros casos de mudança, seria totalmente ausente. Devotos do formalismo macroeconômico, de qualquer origem intelectual, são compelidos a procurar razões nos lugares em que não há nenhuma para ser capaz de cismar em um nível de abstração em que as reais razões desaparecem de vista.
A sugestão pode ser feita que interpretamos “a taxa normal de lucro” não como um valor único, mas como o “equivalente” de toda uma faixa de valores, de todas as diferentes taxas de lucros auferidas na realidade por diferentes firmas. Ela “representaria” toda uma “estrutura de taxas de lucro” da mesma maneira que, para o Keynes, “a” taxa de juro “representaria” toda a estrutura de taxas de juros. Mas essa sugestão de nenhuma maneira serve para resolver o nosso dilema.
Em primeiro lugar, o argumento ricardiano requer um único valor de a taxa de lucros para entrar todos os preços, caso contrário a distribuição de renda não mais é unicamente determinada entre as “classes da comunidade”, nem é a estrutura de preços relativos.[42]
Em segundo lugar, “estrutura de taxas de juros” implica que todas as taxas individuais movimentam para cima e para baixo juntas. Com as taxas de lucro, como tentamos mostrar, não é assim. Nossa ideia de lucros como uma renda permanente fluindo de fontes mudadiças é incompatível com a ideia de uma “estrutura” permanente de tais fluxos.
V. CRESCIMENTO DE ESTADO CONSTANTE?
Discussões sobre as questões de crescimento econômico têm se tornado um passatempo favorito de nossa época. Entre leitores de jornais e telespectadores por todo o mundo, até entre alguns economistas, a noção de que nesta grande época nossa tornou-se possível resumir em um único número o resultado da atividade econômica dos grupos de indivíduos em países, regiões, ou indústrias, parece ser aceita como uma verdade autoevidente. Tais números são, então, usados como uma medida para comparações ao longo do tempo e, com gosto, entre países.[43] Em muitos círculos uma baixa taxa de crescimento do produto nacional bruto tem chegada a ser considerada como um sintoma de um mal-estar social.
Políticos e a taxa de crescimento
Políticos não têm falhado em notar esta novidade e foram céleres para tornar a taxa de crescimento uma arma na luta por poder. Por ventura fosse inevitável que após a adoção quase universal do pleno emprego como um objetivo da política econômica, um alta taxa de crescimento como uma promessa de eleição deveria se tornar um slogan político poderoso. Ela tem a atração adicional que, conquanto o emprego não possa ser mais pleno do que pleno, a taxa de crescimento pode ser mais alta do que “alta”.
A performance do crescimento da economia de mercado, mais uma vez, tornou-se um alvo de crítica. Marx e Engels, em 1847, previram o impendente colapso dela. 20 anos depois, no primeiro volume do Capital, Marx tentou mostrar que, no longo prazo pelo menos, ela não era viável. Outros 30 anos depois, o revisionismo marxiano surgia e começou a mudar sua base: a viabilidade do capitalismo não mais estava em questão. Que ele era incapaz de prosperar tanto quanto o progresso técnico que ele engendrava permitia estava agora a ser considerado como o seu crime principal. O teor da crítica radical da economia de mercado não tem mudado muito no nosso tempo. Ninguém pode negar que, em quase todos os aspectos, a performance da economia de mercado do Ocidente no vigésimo século tem sido muito impressionante. Mas seus críticos nunca careceram da engenhosidade de mensurá-lo com padrões que ele precisa falhar em alcançar. Que esses padrões são em grande parte fictícios pode não disturbar os economistas acostumados a cismar em um alto nível de abstração. Mas isso precisa disturbar aqueles manifestamente preocupados com o mundo real. Parece, para nós, que ao discutir as questões de crescimento a primeira tarefa do economista não é construir tipos ideais e descrever a localização do fenômeno de crescimento real pelas suas distâncias para com as ideias, embora isso possa ser feito inter alia mais tarde. A primeira tarefa dele é entender aquilo que acontece na prática, a segunda, perguntar qual é técnica e economicamente possível.
Aprendemos acima como o Óptimum de Pareto, como um tipo ideal na economia de bem-estar, tem nublado o juízo de alguns economistas e tornou-se um obstáculo ao entendimento deles dos processos de mercado. Algo muito similar tem acontecido na teoria de crescimento. Aqui, a noção de “crescimento de estado constante” tem chegado a ocupar a posição do tipo ideal. Nós tentaremos mostrar, primeiro, a natureza fictícia dessa noção, segundo a sua inadequação como um conceito fundamental da teoria de crescimento, e, terceiro, a consequente futilidade de todas as tentativas de entender o movimento de uma economia de mercado crescente nos termos disso.
A ideia da “economia uniformemente progressiva” do Cassel
A teoria de crescimento econômico tem chegado a ocupar um lugar proeminente no pensamento econômico durante o último quarto de um século. Esta novidade aconteceu em um clima social no qual uma obsessão com a noção de crescimento econômico nublava o juízo dos economistas e foi, é claro, influenciada por ela. Mas ela também teve suas raízes na história do pensamento econômico. Já em 1911 ou 1912, Cassel, insatisfeito com a noção de um equilíbrio estacionário como a base do sistema walrasiano, parece ter concebido a ideia de uma “economia uniformemente progressiva”, um sistema econômico em que labor, capital, quantia produzida e rendas aumentam anualmente a uma taxa uniforme, em que todas as magnitudes relativas permanecem constantes, a quantia produzida de todos os bens e serviços aumentam à mesma taxa, e em que todos os bens e serviços, portanto, permanecem constantes. A ideia foi evidentemente redescoberta independentemente pelo Sir Roy Harrod na década de 1930.[44]
Na controvérsia macroeconômica com que estamos preocupados a teoria de crescimento, com certeza, desempenha um papel proeminente. A escola neoclássica tem esperança de ter encontrado aqui um campo fértil em que suas teorias possam passar por verificação estatística. A Escola de Cambridge tem concentrado o seu fogo nas pressuposições das quais essas teorias se assentam em. Aderentes de ambas falam dos “fatos estilizados” sobre os quais, eles então nos dizem, suas visões estão baseadas. O Professor Solow aparentemente acredita que um crescimento de estado constante oferece uma aproximação toleravelmente boa para aquilo que acontece na economia de mercado.
“Se é demais dizer que o crescimento de estado constante é a situação normal nas economias capitalistas avançadas, não é demais dizer que as divergências advindas do crescimento de estado constante parecem ser razoavelmente pequenas, casuais, e dificilmente autoacentuantes. Você não reagiria* à vista de uma economia em crescimento a um estado estável como você reagiria à vista de um pêndulo equilibrado de cabeça para baixo, ou um vácuo sentando-se em plena luz do dia conquanto a Natureza abomina-o.”[45]
Isso é, por ventura, uma alegação menos modesta de se fazer do que parece.
Ambas as escolas, então, estão preocupadas com o crescimento de estado constante, um conceito de equilíbrio. As forças equilibrantes sob discussão são forças macroeconômicas. Algumas delas precisamos agora considerar como suspeitas: a razão capital-output, por exemplo, já que capital heterogêneo não pode ser mensurado no desequilíbrio, ou a taxa de lucro que discutimos longamente. Novamente descobrimos que as fundações microeconômicas de as quais essas forças macroeconômicas precisam dever de brotar são em grande parte ignoradas. A possibilidade de tal equilíbrio é discutido longamente. A questão de como isso teria de ser alcançado, do padrão de ação requerido para o “caminho” que leva em direção a isso, é, em geral, negligenciada.
Nem todos os planos podem ser bem-sucedidos
Conquanto, então, a preocupação com o estado de equilíbrio e a negligência das raízes microeconômicas das forças macroeconômicas permaneçam características do estilo de pensamento de ambas as escolas rivais na economia de crescimento, também descobrimos que parca atenção é prestada, via de regra, a outro conjunto de fenômenos refletindo atitudes subjetivas: as expectativas e os planos. Em um mundo de mudança e crescimento, pensar-se-ia que eles precisam ocupar um tão proeminente lugar no pensamento dos economistas interessados nisso quanto eles ocupam na realidade no pensamento dos agentes. Eles certamente ocuparam no pensamento de Keynes. Mas logo que perguntamos a simples pergunta: “Todos os planos podem ser bem-sucedidos?”, percebemos que a resposta, óbvia como pode ser, tem consequências muito perigosas para qualquer noção de equilíbrio macroeconômico. A Lei de Walras nos ensina que não pode haver equilíbrio algum no sistema econômico como um todo sem equilíbrio em todo mercado. Pode haver nenhum equilíbrio de mercado sem equilíbrio de cada indivíduo trocando nele. A fundação microeconômica essencial ao conceito macroeconômico central das duas escolas rivais, por conseguinte, torna-se aparente.
Nenhum espaço para as expectativas individuais na macroeconomia
As expectativas e os planos individuais atuam somente um papel menor, se algum, nos argumentos das duas escolas. Nos escritos neoclássicos eles mal são mencionados. O Professor Solow, no discutir da taxa social de retorno (seu conceito central), muito cuidadosa e intencionalmente os ignora. A abordagem “tecnocrática” escolhida oferece nenhum espaço a eles.
No trabalho da Professora Joan Robinson uma certa mudança tem acontecido. Em 1956, no The Accumulation of Capital, as expectativas foram mantidas ao comprimento de um braço pela pressuposição de que todo mundo espera que as condições presentes durem até o futuro.
“Quando alguma coisa ocorre, a qual causa uma mudança, pressupomos que as expectativas são imediatamente ajustadas, e que mais nenhuma mudança é esperada.”[46]
Em 1971, no Economic Heresies, elas encontram uma menção ocasional:
“Instabilidade surge das influências das experiências correntes sobre as expectativas. Quando o mercado de um vendedor é esperado a durar, isto leva ao investimento rápido que pode causar um excesso e matar o mercado de um vendedor. Mas no mercado de um comprador, a capacidade produtiva é mantida existindo tendo esperança de uma recuperação, tal que, se a recuperação não ocorrer, o mercado do comprador persiste.”[47]
Evidentemente essas não são as expectativas dos indivíduos, mas as expectativas em massa. O escopo do conceito usado aqui é estreitamente confinado às expectativas idênticas tidas por uma grande massa de comerciantes. Ele é simplesmente não amplo o suficiente para permitir a divergência de expectativas tidas por diferentes indivíduos, nem para explicar suas consequências importantes, tais como o equilíbrio dos mercados de ativos baseados em um equilíbrio das expectativas divergentes. Assim como a natureza abomina um vácuo, nossos ricardianos de Cambridge dos dias presentes também abominam as diferenças entre as mentes dos homens.
A “época de ouro” de Cambridge
Ambas as escolas se compromissam com a noção de crescimento de estado constante, um conceito de equilíbrio em moção. No ensino do formalismo neoclássico, ela ocupa um lugar central. A Escola de Cambridge tem a sua versão própria disso, a “época de ouro” da Sra. Robinson, definida nos seguintes termos:
“Com uma taxa desejada de acumulação igual à taxa possível, composta pela taxa de crescimento da população e de quantia produzida per capita, começando com um quase pleno emprego e uma composição do estoque de maquinaria apropriada à taxa desejada de acumulação, o quase pleno emprego é mantido. Isso é a época de ouro.”[48]
Essa noção de equilíbrio tem diversas variantes, como época de ouro “manquejante”* ou “contida”, “época de chumbo” (equilíbrio com desemprego), e vários tipos de “época de platina”.[49]
O equilíbrio de crescimento é equilíbrio em moção, equilíbrio ao longo do tempo. Aprendemos com o Sir John Hicks a distinguir entre equilíbrio em um ponto no tempo e equilíbrio sobre um período de tempo. Esse precisa claramente ser um equilíbrio assentado em um equilíbrio de expectativas. Este:
“Se há de haver um equilíbrio sobre um período, precisa haver equilíbrio em cada ponto do tempo dentro do período — um equilíbrio que é com certeza baseado, assim como todo equilíbrio de ponto de tempo precisa ser baseado, nas suas expectativas próprias. Mas para o equilíbrio de período há a condição adicional de que essas expectativas precisam ser consistentes umas com as outras e com aquilo que realmente acontece dentro do período. Equilíbrio de período é essencial, na teoria dinâmica, como um padrão de referência, mas é difícil ver como pode haver, em geral, qualquer ‘tendência’ a isso”.[50]
Estamos preparados para avançar um passo a mais. Achamos difícil ver, não meramente como pode haver qualquer tendência a isso, mas como tal coisa possa sequer ser pensada que exista.
Em um mundo estacionário espera-se que o futuro seja como o passado, mas em um mundo de mudança o futuro é inconhecível ao homem. Homens têm de agir com base nas expectativas deles, fazer planos adequadamente, e tentar efetuá-los. Mas a experiência comum nos ensina que em um mundo incerto diferentes homens terão diferentes expectativas sobre eventos esperados a acontecer no mesmo ponto futuro de tempo. Se assim for, essas expectativas não podem todas se provarem corretas. Em cada caso, no melhor, uma pode. As outras se provarão ter sido erradas, e os planos baseados nelas falharão. Em um mundo incerto o sucesso universal dos planos é, portanto, impossível. Assim, o equilíbrio de crescimento é impossível. Não pode haver equilíbrio geral algum ao longo do tempo sem equilíbrio de cada indivíduo participando nele.
Mal-investimento inevitável no crescimento econômico
Nossa conclusão é de particular significância para a composição do estoque de capital. Na passagem citada acima a Sra. Robinson enfatiza como uma condição do crescimento da época de ouro “uma composição do estoque de maquinaria apropriada para a taxa desejada de acumulação”. Isso, é claro, não é suficiente. Para que o crescimento de equilíbrio seja possível a composição do estoque de capital inteiro (não meramente o “estoque de maquinaria”) precisa, a todo tempo, ser tal que logre todas as demandas feitas sobre ele, não meramente para mais acumulação, mas também para uso na produção de bens de consumo. Mas nos lugares em que os planos de investimentos têm de ser baseados nas expectativas divergentes, alguns desses planos serão malsucedidos. Assim, algum mal-investimento é inevitável; mas o mal-investimento é incompatível com o crescimento de equilíbrio. Alguns planos de investimentos irão possivelmente ser bem-sucedidos além das expectativas de seus investidores. Esses auferirão ganhos de capital. Outros investidores sofrerão perdas de capital. Nem os ganhos e nem as perdas são, é claro, compatíveis com crescimento de estado constante.
Não é preciso dizer que em um mundo de uma mercadoria não pode haver mal-investimento algum e o nosso problema desapareceria. Sua significância na realidade deriva-se da natureza heterogênea da quantia produzida em geral, e o estoque de capital em particular. Especificidade e complementariedade são da essência da questão.
Sabemos pela história que uma economia crescente não é “uniformemente progressiva” no sentido do Cassel. A composição da quantia produzida de consumo [que é] demandada, por exemplo, mudará. Conforme as pessoas enriquecerem elas demandarão alguns bens que elas não tinham tido antes. Elas podem reduzir suas demandas por outros bens que elas têm, agora, chegado a considerar como inferiores. E a demanda para muitos subirá, mas a uma taxa diferente para cada bem.
Essas mudanças na demanda acompanhando o crescimento não podem ser previstas. Se todo o capital fosse homogêneo (“maleável” é o termo usado nessas discussões), o capital seria mudado, de uma maneira ricardiana, afora de indústrias em que a demanda está sossegada para as indústrias em que a demanda está agitada*. No mundo real em que bens de capital são maioritariamente duráveis e específicos, tais movimentos de capital entre as indústrias são possíveis somente em uma escala pequena. A composição do estoque de capital conforme determinado pelos planos de investimento do passado e presente irá, portanto, ser diferente da composição conforme requerida pela estrutura da demanda de mercadoria presente. O estoque de capital nunca terá sua composição de equilíbrio. Mas sem isso, pode não haver crescimento algum de estado constante.
Crescimento de equilíbrio é uma ideia baseada em equívoco
Precisamos concluir que o conceito de crescimento de equilíbrio é uma ideia baseada em equívoco. Isso requereria um mundo de expectativas convergentes todas as quais são invariavelmente satisfeitas e, assentando-se nelas, de planos individuais todos os quais são consistentes uns com os outros. O equilíbrio geral walrasiano faz sentido somente em um mundo estacionário em que as expectativas atuam nenhum papel que poderia ser chamado de economicamente significante, e em que todos os planos dos lares e firmas, sintonizados para com* o mesmo conjunto de preços existentes, são consistentes.
O mundo real da economia de mercado com suas expectativas divergentes, planos inconsistentes e mercados competitivos (não, é claro, no sentido dos livros-textos), com seu mal-investimento e seus lances de aquisição feitos por aqueles quem conseguem ver usos mais lucrativos de capital mal-investido do que seus donos e gerentes existentes, é um lugar totalmente diferente daquele antevisto pelos macroeconomistas. Até falar aqui de uma “abordagem ao equilíbrio” por tâtonnement (um processo de tentativa e erro) é bastante enganoso. A natureza da constelação de equilíbrio, se há uma, continuamente mudaria conforme planos velhos são descartados e novas expectativas, divergentes e imprevisíveis por suas próprias naturezas, são formadas. Não é surpreendente que nossos ricardianos dos dias atuais deveriam achar muito não prazeroso, pois não é apropriado, um mundo em que diferentes homens, na mesma “situação objetiva”, agem diferentemente e, por conseguinte, com sucesso desigual, e que eles deveriam desejar escapar, como a Professora Joan Robinson faz, para mundos completamente diferentes de várias composições metálicas. Nem que os formalistas neoclássicos desejam tomar refúgio em um mundo que, conquanto tenha sido inventado para se parecer com o mundo real de mudança imprevisível, ainda os permite desempenhar seus trabalhos com suas ferramentas familiares.
Não há tal mundo no “entremeio”. Temos de escolher entre o estado estacionário e o mundo real em que os processos de mercado têm de ser descritos e interpretados sem muito benefício do inventário de ferramentas de equilíbrio. Sempre há forças de equilíbrio, mas também há forças desequilibrantes engendradas por mudança inesperada. Em muitas ocasiões estes são mais prováveis de ultrapassar esses.
VI. A FORÇA DESEQUILIBRANTE DO PROCESSO TÉCNICO
Uma tal força desequilibrante é o progresso técnico contínuo, uma característica feição da sociedade industrial do Ocidente e por ventura o mais forte elemento nos processos de crescimento econômico que observamos nisso. Como pode esta força desequilibrante ser conciliada com o equilíbrio macroeconômico? Já que ela é uma força emanando do empenho humano em centenas de laboratórios e milhares de oficinas, como pode um lugar para ela ser encontrado dentro de um sistema de macrovariáveis?
A Professora Robinson, perspicaz e lhana como sempre, vê o problema e, por um fugaz momento, até atraí nossa atenção a isso.
“Há alguma coisa contraditória no postulado de uma taxa uniforme de lucro por toda uma economia em que progresso técnico está acontecendo. Algumas firmas sempre estão aproveitando-se de novas ideias mais rápido do que as outras e desfrutando de uma taxa maior de lucro em seus investimentos. Ademais, o progresso técnico altera a natureza das mercadorias e os requerimentos de habilidade e treinamento dos trabalhadores.”[51]
Nenhuma tal admissão, de nosso conhecimento, há de ser encontrada nos escritos neoclássicos. Mas, logo que tais pensamentos perigosos são dados em expressões por essa macroeconomista eminente, eles são deixados de lado.
“Entretanto, não parece haver muita esperança de lidar com tais problemas até que as linhas principais de uma análise simplificada tenham sido estabelecidas. Nós, portanto, fazemos as drásticas pressuposições de que as commodities e os trabalhadores retêm suas características físicas e que toda mudança técnica está concentrada no design de equipamento.”
O leitor precisa notar que a “análise simplificada” significa aqui “em termos macroeconômicos”. Isso não significa, aquilo que afinal isso pode significar, “em termos dos elementos fundamentais dos quais isso é composto na realidade”, tais como desejos e expectativas.
Progresso técnico na macroeconomia
O processo técnico era, no começo, tratado por economistas como uma força que originava fora do sistema econômico e que intervinha nele, modificando as quantias produzidas e os preços. Em breve foi percebido que isso é uma pressuposição insustentável para a sociedade moderna. Sua criação e difusão têm se tornado atividades econômicas regulares. Também foi percebido que as decisões de investimentos especificantes[52]* são afetadas por ele.
Para o formalismo macroeconômico o progresso técnico apresenta diversos problemas: como dá-lo uma macroforma respeitável, e como torná-lo uma força equilibrante a qual se encaixa no sistema de equilíbrio dele. Este, em particular, foi nenhuma uma tarefa fácil: o equilíbrio geral requer conhecimento geral enquanto o progresso técnico implica uma mudança mais ou menos contínua de conhecimento. Veremos como a necessidade de formalizar conhecimento humano e seus modos de mudança, que desafia todas essas tais tentativas, têm produzido alguns resultados esquisitos.
Aqui, a Escola de Cambridge converteu um sucesso quando o Professor Nicholas Kaldor introduziu sua função de progresso técnico[53]
“que torna a taxa anual de crescimento de produtividade por trabalhador operando equipamento novo, uma função da taxa de crescimento de investimento por trabalhador”.[54] (Itálicos dele)
Nessa maneira ele granjeou tornar os resultados do progresso técnico em uma macrovariável, uma variável dependente de investimento bruto. Esta abordagem pareceu acarretar algumas conclusões interessantes. Somos ditos que:
“A principal conclusão “prática” para a política econômica que emerge desse modelo é que qualquer esquema que leva à aposentadoria acelerada de equipamento velho (tal como um tributo sobre o uso de maquinaria e equipamento obsoletos) é certo de acelerar, por um período temporário, a taxa de aumento de quantia produzida per capita.”[55]
Isto é seguido por uma solicitação por:
“gerenciamento de negócios de qualidades maiores que seja mais alerta no procurar as melhorias técnicas e menos resistentes a suas introduções.”
Será prontamente percebido por que que o amplo reconhecimento do aprendendo fazendo[56] como uma forma importante de progresso técnico ter ganhado nos recentes anos, tem causado agudo constrangimento ao formalismo macroeconômico. Quando os trabalhadores gradualmente aprendem pela experiência como manusear seus equipamentos mais eficientemente e, por conseguinte, melhorar suas produtividades, a ligação com o investimento bruto é quebrada, e a tentativa de restaurá-la pela pressuposição de que ela assume exclusivamente a forma de trabalhadores nas indústrias de bens de capital aprendendo produzindo suas várias “máquinas”, serve somente para sublinhar seu caráter altamente artificial.[57] Há nenhuma razão por que a maioria daquilo que pode ser aprendido aqui não deveria ser aprendido pelo uso de tais “máquinas” na produção de bens de consumo ao invés de no curso de suas produções atuais, que, é claro, significa o uso de outros recursos de capital existentes. Sem dúvidas é possível formalizar esse processo de “aprendendo fazendo” tornando-o simplesmente uma (possivelmente declinante) função de tempo. O ponto causando constrangimento é aquele de que os resultados produtivos do uso de equipamento bem podem ser ambos uma função de investimento bruto e uma função de tempo. Contanto que os ganhos de quantia produzida possam ser derivados do uso mais longo do equipamento existente, contrário à visão do Professor Kaldor, o atraso em sua substituição pode estar justificado; tudo depende de quais lugares os ganhos líquidos maiores possam ser feitos. Sobre isso, em cada caso concreto, opiniões podem diferir. Na economia de mercado tais diferenças de opiniões se exprimem em algumas firmas mantendo seus equipamentos velhos por mais tempo do que as outras.
O progresso técnico é imprevisível
Alcançamos agora aquilo que realmente é o cerne da questão. O formalismo macroeconômico de ambas as tendências tem de tratar como fato aquilo que, no momento em que as decisões relevantes tem que ser tomadas, precisa ainda ser opinião. Agora é razoavelmente em geral acordado que algum progresso técnico requer equipamento novo conquanto alguns podem ser derivados advindos do uso melhorado do equipamento existente, que o progresso técnico pode ser ou “encarnado” ou “desencarnado”.[58] Se “encarnado” (incorporado em máquinas específicas), quando mostramos que o investimento bruto é uma condição necessária do progresso encarnado ainda não tínhamos mostrado que isso é uma condição suficiente. Quais condições no design de equipamento se demonstrarão como sendo melhorias não é conhecido no momento em que a decisão de investimento especificante tem de ser feita; somente a experiência prática pode dizer. Mal-investimento sempre é possível. Não importa o quão alerta um gerente possa ser à introdução de equipamento novo, ele ainda pode fazer erros desastrosos. Nem toda mudança técnica é equipolente ao progresso técnico.
Isso pode ser visto ainda mais claramente se, desconsiderando as “pressuposições drásticas” da Professora Robinson, incluirmos a inovação de produto junto com a inovação de processo em nosso conceito de progresso técnico. Quando um novo produto é introduzido ninguém pode dizer a produção e venda dele será lucrativa, se o mercado o absorverá em quantidades suficientes. Ainda menos sabe alguém, se a condição for lograda, o quão longo isso durará, ou o quão breve outra firma pode pôr uma versão superior disso no mercado. Somente muitas e variadas experiências em oficinas e lares (em equipamento doméstico) podem mostrar quais das muitas mudanças tecnicamente possíveis são melhorias reais.
Os mercados são “o árbitro final”
Em uma economia de mercado as decisões de inovar e as correspondentes decisões de investimento que especifica são descentralizadas, com o resultado que tais planos individuais irão inevitavelmente se tornar inconsistentes. É o mercado que, no fim, decide o sucesso e fracasso, isto é, quais mudanças constituem “progresso” e quais constituem “regresso”. A descentralização no primeiro estágio do processo de mudança, a qual permite que uma vasta quantidade de conhecimento seja coletada pelos planejadores de planos inconsistentes, é seguido, uma vez que todo o conhecimento a ser coletado estiver disponível, pela decisão final do mercado, atuando aqui como o agente de tomada de decisão da sociedade.
Não é preciso dizer que no caso de “aprendendo fazendo”, em que nenhumas decisões de investimento estão envolvidas, alcançamos a mesma conclusão. Diferentes homens aprendem diferentes lições fazendo o mesmo trabalho. Tem mais, até aqueles que aprendem lições similares as aplicarão em diferentes orientações. Encontramos novamente descentralização no primeiro estágio no qual o novo conhecimento é coletado, e, no fim, o mercado como o árbitro final do que constitui “progresso”.
Pode ser que, após um tempo, somente um tipo do novo produto, ou um tipo de um novo design do equipamento sobre no mercado. É claro, acreditamos, que tal “estado de equilíbrio” marcaria o fim (temporário) do processo de progresso técnico. Aquilo que constitui progresso podemos saber somente quando isto não mais acontece.
O Professor Kaldor, ao exortar* seus gerentes para que sejam “mais alertas na procura por melhorias técnicas e menos resistentes às introduções delas”, não sugeriu que a procura sempre seria bem-sucedida. Mas não é sempre claro o que constitui uma melhoria nem, desde que essa questão possa ser respondida, certo de que uma melhoria ainda maior amanhã pode não recompensar aqueles dispostos a aguardá-la. É difícil derivar receitas úteis para ação concreta a partir de generalizações macroeconômicas.
Temos esperança de ter mostrado por que o formalismo macroeconômico é incapaz de fazer jus ao fenômeno de progresso técnico em uma economia de mercado. A simultânea perseguição por novo conhecimento por agentes rivais em termos de planos mutualmente inconsistentes não é susceptível a generalizações em termos de equilíbrio geral, conquanto os termos de seu vocabulário — “quantia produzida por homem com equipamento novo” ou “investimento bruto por trabalhador” — não têm homólogo algum identificável na realidade.
VI. CONCLUSÕES PARA A POLÍTICA ECONÔMICA E O FUNCIONAMENTO DA ECONOMIA DE MERCADO
Advindo daquilo que temos dito segue-se algumas conclusões para a política econômica.
Em muitos países uma política de rendas é hoje defendida como o único remédio remanescente para a inflação permanente de nossa época. Tal política, entretanto, ao pôr o mecanismo de preço fora da ação, privaria o mercado de sua função principal. Isso implica o controle de todos os preços e rendas e precisa, no fim, levar à direção central de toda atividade econômica.
Podemos adicionar que tal política daria surgimento a problemas bem ingerenciáveis na determinação de margens de lucro sobre os vários bens. Vimos acima que o fluxo de lucros em uma economia de mercado é um fluxo permanente de fontes sempre mudantes. Como isso será conciliado com uma política de rendas cujo principal propósito é “congelar” uma estrutura de preço e renda relativos e existentes? E até se isso fosse possível, quem há de decidir a sequência das fontes mudantes de lucros?
Após o que temos dito acima sobre o crescimento como o resultado cumulativo das ações de milhões de indivíduos, deveria ser claro que os “alvos de crescimento” não podem ser objetivos de política econômica e que taxas de crescimento projetadas de PNB são insignificantes. Em muitos casos, é claro, a política de crescimento é simplesmente um eufemismo para mais inflação. No lugar em que, entretanto, isso significa a “coordenação de expectativas” com o objetivo de reduzir suas divergências, e fazê-las todas convergir em uma única “taxa de crescimento alvo”, como é o caso com o “planejamento indicativo”, temos de perguntar quem há de determinar isso e com base em quê. Controlar as expectativas é tão incompatível com a economia de mercado quanto o controle de preço é.
Temos tentado mostrar por que a “aposentadoria acelerada de equipamento velho” pode nem sempre beneficiar a sociedade no curto prazo. No longo prazo a conclusão de que temos de procurar “gerenciamento de negócios que seja mais alerta na procura por melhorias técnicas e menos resistente às suas introduções”, nem sempre se sustenta. Mudança técnica não necessita significar progresso técnico.
A conclusão principal para a política econômica, entretanto, à qual o nosso argumento leva, precisa ser que os termos com os quais os economistas contemporâneos usualmente conduzem discussões sobre as questões de política econômica, tais como política de crescimento ou fiscal, levam ao engano.
O crescimento é apenas um tipo de mudança econômica, não obstante um importante. Não é um tipo de mudança que poderia acontecer isolada de outras. Agregados, tais como produto interno bruto ou investimento bruto em indústrias manufatureiras, não são, portanto, para ser considerados como magnitudes que iriam ou poderiam permanecer constantes, com exceção do crescimento. Suas composições estão passando por mudanças contínuas que afetam suas magnitudes totais. O crescimento dos agregados é sempre o resultado cumulativo de outras mudanças em quantidades de recursos e produtividade de fator, em preços e demanda relativos, e assim por adiante. Somente em um mundo de uma commodity poderia isso ser de outra forma.
É, portanto, impossível discutir medidas significativamente políticas designadas a afetar a magnitude de tais agregados sem também discutir aquelas mudanças em suas composições que precisam os acompanhar.
Por ventura um exemplo histórico elucidará o que queremos dizer. Políticas baseadas em receitas macroeconômicas keynesianas podem ter sido bem-sucedidas (se elas tivessem sido tentadas) em 1932 e foram bem-sucedidas em 1940 porque calhou de ser que no final da Grande Depressão assim como durante a Segunda Guerra Mundial, todos os setores da economia foram igualmente afetados. Em 1932 qualquer tipo de gasto adicional em quaisquer tipos de bens teria tido um efeito favorável nas rendas porque havia desemprego em todo lugar, assim como equipamento de capital ocioso e estoques excedentes de materiais brutos. Durante a guerra, a situação era exatamente o oposto, mas precisamente por essa razão as mesmas receitas, mas com sinais opostos, aplicaram-se. Com milhões de homens e mulheres nas forças armadas, tudo, não meramente pessoas que laboram, era escasso e qualquer redução na demanda em qualquer lugar era bem-vinda.
Essas são, é claro, situações anormais. Normalmente em uma economia industrial encontramos algumas indústrias declinantes (minas de carvão, cinemas) lado a lado com aquelas que expandem rapidamente. Problemas surgindo aqui requerem estudo detalhado e são resistentes às panaceias macroeconômicas.
Na política monetária, entretanto, essas conclusões não se sustentam sem certas qualificações e reservas. Nas questões de dinheiro o caráter dos relacionamentos entre as magnitudes macroeconômicas e os atos individuais de escolha que as governam é muito mais complexo do que em outro lugar.
A quantidade de dinheiro é uma magnitude macroeconômica que sempre ocupou um lugar proeminente no pensamento econômico. No lugar em que ela consiste de ouro e prata a microfundação é de certa forma remota, e o mesmo se aplica ao dinheiro de papel criado pela autoridade do governo. Neste contexto dois problemas necessitam atenção particular.
Em primeiro lugar, conquanto a oferta de dinheiro possa, algumas vezes, ser considerada como um dado social, a demanda por isso flui de atos de escolha (preferência pela liquidez), como Keynes ensinou e a Escola de Chicago reconhece. Em segundo lugar, a conhecidíssima dificuldade em distinguir entre dinheiro e crédito adiciona à complexidade de nosso problema. O volume de crédito, continuamente flutuante conforme empréstimos velhos são repagados e empréstimos novos são concedidos, é, é claro, razoavelmente intimamente ligado às escolhas dos credores e devedores. Os vários componentes da oferta total de dinheiro e crédito são, por conseguinte, vistos como tendo ligações aos vários graus de proximidade para com suas microfundações. No nosso mundo a oferta total está provavelmente mais intimamente ligada do que era 100 anos atrás. Nas discussões sobre política monetária essas considerações não deveriam passar despercebidas. O sucesso de uma política monetária precisa sempre depender, em grande extensão, de se o volume de crédito se moverá na mesma, ou oposta, direção que a oferta monetária determinada pelos legisladores.
Quaisquer que sejam as causas mais profundas das críticas sustentadas da economia de mercado que nós testemunhamos no nosso dia, algumas têm que ser irrogadas à imagem disso a qual encontramos nos escritos de economistas contemporâneos. Repetimos que pode haver nenhuma questão de chamar qualquer um tipo de perspectiva em que a economia de mercado possa ser vista de a “correta”. Um grande número de tais perspectivas é possível, na verdade desejável. Mas é verdade que algumas abordagens são inadequadas aos seus assuntos, já que suas ferramentas conceituais não permitem àqueles quem as manuseiam lidar com as feições importantes da matéria.
Neorricardianos da Escola de Cambridge não estão, pelas suas próprias admissões, interessados em quantidades e preços relativos, muito menos nas preferências e expectativas que as governam. Eles estão, portanto, mal-equipados para lidar com mudanças autônomas na demanda ou na gama das divergências de expectativas, às quais Keynes atribuiu importância e chamou nossa atenção, e das quais o padrão de decisões de investimento especificante depende. É difícil de ver aquilo que o estilo de pensamento deles possa contribuir ao nosso entendimento das maneiras em que a economia de mercado funciona, em particular os padrões de crescimento dela. Teorias macroeconômicas sem subestrutura microeconômica certamente se assentam em fundações ocas.
Os adeptos do estilo de pensamento que chamamos de “formalismo neoclássico”, hoje a escola predominante de pensamento econômico no mundo Ocidental, são dificilmente melhor equipados para nos fazer entender aquilo que acontece em uma economia de mercado. Decerto, de tempos em tempos eles reconhecem a existência das microfundações, mas na realidade, como vimos, essas afirmações perfunctórias são de nenhuma significância. As microfundações são, nos trabalhos deles tão completamente formalizadas, mudança técnica estilizada como mudança na produtividade de dados insumos, preferências consideradas imutáveis, expectativas totalmente ignoradas, que os fenômenos econômicos dessa esfera são tornados estéreis. As variáveis realmente importantes nos modelos deles parecem ser bastante impérvias à operação de quaisquer forças emanando da microesfera. As teorias macroeconômicas do formalismo neoclássico podem parecer, para seus autores, que assentam seguramente nas microfundações; elas certamente não têm suas raízes lá.
Uma boa parte da mal-apreensão contemporânea de, e hostilidade, a economia de mercado é, por conseguinte, culpa dos economistas.
Todas as teorias econômicas precisam, em última instância, estar relacionadas aos fatos. Os Professores Kaldor e Solow têm, em ocasião, enumerado o que eles consideram como “fatos estilizados” governando a situação das economias industriais modernas. Parece, a nós, que os seguintes são fatos ainda mais importantes, embora nas discussões modernas tais como aquelas que relatamos eles pareçam tão frequentemente quanto não, ser ignorados.
Labor, no sentido de horas de trabalho feitas, tem por si só nenhum valor econômico. Isso tem tal valor quando é devotado à prestação de serviços pelos quais há uma demanda. A atividade de direcionar labor à produção de objetos úteis, e não inúteis, é, portanto, uma função econômica importante.
O valor dos bens de capital e títulos a eles (garantias) é governado não pelos seus custos de produção, não, portanto, por labor passado (passados são passados), mas por fluxos de renda futuros que se espera que fluam da combinação deles. As expectativas sempre se diferem entre os homens. Em uma economia de mercado há um mercado central para ações em combinações de capital, a Bolsa de Valores, na qual os preços dessas ações, governados por um equilíbrio das expectativas entre os “especuladores que esperam uma alta de preços das ações e que as compram para revende-las” e “especuladores que esperam uma baixa de preços nas suas ações e que as vendem com intenção de compra-las novamente a uma preço mais baixo”*, é fixado duma maneira diferente todo dia. Assim como esse equilíbrio de expectativas inclina dia a dia, os preços também inclinam. É a existência da Bolsa de Valores, e não as respectivas magnitudes dos setores “privados” e “públicos”, que caracteristicamente distingue uma economia de mercado de uma socialista.
Toda atividade econômica consiste em criar, efetuar e revisar planos. Em uma economia de mercado cada um tem de solver problemas, e nenhuma de duas pessoas solvem os delas precisamente da mesma maneira. Nenhum dentre dois consumidores têm gostos idênticos. Nenhuma dentre duas donas de casa com as mesmas quantidades de dinheiro de administração caseira os gastam de modo idêntico. Com o passar do tempo, é claro, a composição desses maços de bens muda até para o mesmo lar.
A mera mudança de gerações, se não aquela de humores humanos, por conseguinte, causa mudança contínua na composição de agregados. Crescimento econômico é nada senão um subproduto dessas mudanças contínuas e fundamentais. Não podemos entender o crescimento se nos abstraímos delas.
Da mesma maneira, toda firma é diferente de todas as outras. Cada uma tem uma combinação de capital (construções, máquinas, estoques de materiais) não exatamente idêntica àquela de qualquer outra. Uma dúzia de ferramentas de máquinas, fisicamente parecidas, bem podem ser usadas em uma dúzia de firmas diferentes para servir diferentes mercados. Firmas podem aprender com os sucessos e fracassos umas das outras. As malsucedidas podem emular as bem-sucedidas, elas podem trocar informações de várias maneiras, mas diferenças importantes sempre sobram.
Em uma economia de mercado sempre há, por conseguinte, algumas forças contribuindo à similaridade pela competição e emulação, mas também [há] outras contribuindo à dissimilaridade pela inovação. Esse nunca consegue extirpar este, e até o padrão de similaridade muda a todo o tempo.
Pode haver nenhum pensamento sistemático sobre qualquer coisa sem uma medida de abstração. Por conseguinte, em algum estágio, temos de abstrair dessas diferenças individuais. Podemos, então, falar de padrões de consumo e a composição do produto interno bruto. Não temos direito algum de pressupor que esses agregados possam, com o tempo, levar uma vida própria. A todo tempo eles serão talhados e retalhados por forças emanando da microesfera, forças que ultimamente derivam da escolha e decisão humana.
PERGUNTAS SUGERIDAS PARA DISCUSSÃO
- Que precisamente queremos dizer quando falamos de “formalismo macroeconômico”?
- “Lucros são uma renda permanente que flui de fontes variáveis”. Elucide.
- Que forças econômicas previnem uma “taxa uniforme de lucro” de chegar a existir?
- Por que não poder haver algo como “crescimento de equilíbrio”?
- Trace algumas das consequências, para o planejamento e sucesso da ação econômica, a partir de uma divergência de expectativas.
- Como se pareceria um mundo no qual todos os planos são bem-sucedidos?
- Explique a natureza e as consequências do mal-investimento.
- “Nunca podemos dizer quais mudanças técnicas constituem o progresso técnico antes que ela tenha sido suplantada por outra mudança”. Discuta as implicações desta afirmação.
- Por que uma “política de rendas” precisa falhar no longo prazo?
- “Crescimento econômico é um tipo de mudança entre outras. Não temos direito algum de assumir que, a qualquer tempo, esse é o único tipo que ocorre”. Comente.
LEITURAS COMPLEMENTARES
Bronfenbrenner, Martin, Income Distribution Theory, Aldine, New York, 1971.
Ferguson, G. E., Neoclassical Theory of Production and Distribution, Cambridge University Press, 1969.
Fisher, Irving, The Theory of Interest, The Macmillan Co., New York, 1930.
Dewey, Donald, Modern Capital Theory, Columbia University Press, New York, 1965.
Hayek, Friedrich A., Profits, Interest and Investment, Routledge & Kegan Paul, London, 1939.
Hicks, John, Capital and Growth, Oxford University Press, London, 1965.
Kaldor, Nicholas, Essays on Economic Stability and Growth, Duckworth, London, 1960.
Kirzner, Israel M., An Essay on Capital, Kelley, New York, 1966.
Knight, Frank H., Risk, Uncertainty and Profit, London School of Economics, 1933.
— On the History and Method of Economics, University of Chicago Press, Chicago, 1956.
Lachmann, L. M., Capital and its Structure, Bell, London, 1956.
Ricardo, David, Principles of Political Economy and Taxation, London, 1817.
Robinson, Joan, The Accumulation of Capital, Macmillan, London, 1956.
— Essays in the Theory of Economic Growth, Macmillan, London, 1962.
Samuelson, Paul, Foundations of Economic Analysis, Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1947.
Schumpeter, Joseph A., The Theory of Economic Development, Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1934.
Sen, Amartya (ed.), Growth Economics, Penguin Modern Economics Readings, Penguin Books, 1970.
Solow, Robert M., Capital and the Rate of Return, North Holland Publishing, Amsterdam, 1963.
— Growth Theory, Oxford University Press, London, 1970.
Sraffa, Piero, Production of Commodities by Means of Commodities, Prelude to a Critique of Economic Theory, Cambridge University Press, 1960.
Notas
* Nota do Tradutor: do inglês (AUTHORITATIVE), que, neste contexto, significa “contendo informação completa e precisa, e, portanto, respeitada” ou “que você pode confiar e respeitar como verdadeiro e correto". Esta nota do tradutor só existe porque ‘autoritativo’ não está previsto nos dicionários da língua portuguesa e quando está, trata-se de um neologismo.
[1] A análise econômica pode também ser aplicada a quem pratica e quem recebe a caridade: The Economics of Charity, IEA Readings n.°12, em breve.
[2] Wadsworth Publishing, Belmont, California, 3rd edn., 1972; no Reino Unido, Prentice-Hall International, Hemel Hempstead, Herts.
* N. T.: Output nos dicionários de inglês possui várias acepções, mas “a quantidade de algo que uma pessoa, organização, sistema, etc., produz” é a adequada ao assunto economia. Já nos dicionários de português, encontra-se acepções como “Volume de produção”, “O resultado da combinação de diversos fatores de produção”, “Aquilo que se tem como resultado num processo de produção” e “Ação ou efeito de produzir, de dar origem a; produção”. A fim de aproximar o máximo possível a tradução com a
[3] Macromancy: The Ideology of ‘development economics’, IEA, Abril de 1973.
[4] “Cambridge (U.K.) v Cambridge (Mass.)”, The Public Interest, Spring 1973.
* N. do T.: “enganar” aqui não é no sentido de deliberadamente mentir, mas sim de “levar ao erro”.
* N. do T.: no inglês não parece existir uma distinção entre lago e lagoa. No português este caracteriza-se por um lago pequeno e estima-se que a formação delas sejam mais específicas e “banais”.
* Nota do Tradutor: labor é uma palavra que existe no inglês — no inglês britânico possui a grafia labour — e no português, porém se origina do latim. Comentarei sobre a acepção que é comum aos três e sobre três acepções que demandam outras palavras no português, mas não em inglês ou latim; todas relevantes ao assunto economia. Dicionários de inglês definem labor, enquanto substantivo, como “trabalho prático, especialmente quando se envolve esforço físico duro”, “trabalho, especialmente físico”, “trabalho” — este encontrei em apenas um deles —, “trabalho, especialmente físico e duro” e “trabalho muito duro, usualmente físico” ; já em dicionários de português a palavra labor só existe enquanto substantivo e as suas acepções são: “trabalho árduo; faina, tarefa”, “trabalho; atividade muito difícil e demorada” e “labuta; trabalho penoso que causa muito cansaço”. No dicionário de latim há as acepções: “trabalho (com um sentido acessório de esforço cansativo), fadiga, carga”, “sofrimento, dor, fadiga (ao se executar um trabalho)”, “trabalho, esforço, labor” e “empresa, plano, trabalho, obra”. Por mais que essas outras palavras além de “trabalho”, tanto no latim quanto no português, sejam comumente usados em contextos de força física, não é claro que labor necessariamente implique nisso, pois, elas servem para descrever trabalhos em que há uma pouca, senão nenhuma, força física como ser cantor, autor, escritor, gerenciador, etc.; contudo, em muitas traduções de autores diversos a palavra labor é tratada como uma palavra intercambiável à palavra trabalho, ou seja, quando aparece “labor” a tradução é “trabalho”, sem qualquer adição.
No inglês, ainda enquanto substantivo, há o uso de “labor” com a acepção de “trabalhadores, especialmente pessoas que fazem trabalho prático com suas mãos”, “labor também se refere aos próprios trabalhadores, especialmente aqueles que fazem trabalho prático com suas mãos”, “as pessoas que trabalham ou estão disponíveis a trabalhar dentro um país ou companhia”, “os trabalhadores em um país, indústria ou companhia particular considerados como um grupo” e “refere-se aos trabalhadores de um país ou indústria, considerados como um grupo”. Essa utilização da palavra “labor” como referência àqueles que fazem o ato de labor não existe no português, embora, porventura, seja por causa do “trabalho prático com as mãos” que tradutores escolhem “mão de obra” como a tradução de aqueles que laboram. Além disso há o “LABOR/LABOUR PARTY” que no português traduz-se como Partido dos Trabalhadores.
Também em inglês a palavra “labor” é usada como verbo com as acepções: “fazer trabalho físico duro” — este repete-se em 4 dicionários —, “fazer algo lentamente com esforço físico e mental grandes”, “trabalhar duro, especialmente fisicamente”, “por bastante esforço para realizar algo”, “tentar muito fazer algo difícil”, “alguém que labora, trabalha duro usando suas mãos”; no português usa-se a palavra laborar, porém, nos dicionários, as acepções presentes, ainda pertinentes ao assunto economia, são: “realizar trabalho; ocupar-se”, “exercer a sua função”, “trabalhar; lidar; esforçar-se”, “exercer um mister, uma atividade profissional ou com fins produtivos”. Percebam que aqueles adjetivos lá no primeiro parágrafo não estão aqui, talvez seja esse o motivo das traduções tratarem labor como sinônimo de trabalho.
* Nota do Tradutor: a palavra usada aqui é “FEATURE” e não “CHARACTERISTICS”, fiz uma pesquisa tanto nos dicionários e quanto no Google e percebi que esta é usada num contexto mais genérico enquanto que essa, em todos os dicionários, embora de uma maneira figurada no português, possui também a acepção de se referir a uma das partes da face de alguém, da mesma forma que a palavra feições, por isso a escolha por ela. Não sei se o autor estava ciente disso tudo, mas eu pressupus que sim.
[5] Um livro de leituras contendo excertos advindos da maioria das contribuições importantes ao debate tem recentemente sido publicado no Penguin Modern Economics Readings. Ele provê uma excelente introdução a elas: G. C. Harcourt and N. F. Laing (eds.), Capital and Growth, Selected Readings, Penguin Books, 1971. Joan Robinson, Economic Heresies. Some old-fashioned questions in Economic Theory, Macmillan, 1971, é quase na sua totalidade uma contribuição ao debate; também J. A. Kregel, Rate of Profit, Distribution and Growth: Two Views, Macmillan, 1971.
Um comentário quase de ponta a ponta sobre os vários problemas em jogo no debate está em G. C. Harcourt, Some Cambridge controversies in the theory of capital, Cambridge, 1972. Ao estudante sério isso é indispensável. O autor esconde nem a sua simpatia pelo lado de Cambridge nem sua falta de simpatia pela economia de mercado.
* N. do T.: “espremidos”, aqui, tem a mesma acepção de “apertar”, isto é, “reduzir(despesas); cortar, diminuir, limitar”.
[6] Cf. a nota sobre David Ricardo, abaixo, pág. 17, nota de rodapé 4.
[7] American Economic Review, Papers and Proceedings, Maio de 1971, pp. 63-65.
[8] O C. E. Ferguson dá uma afirmação concisa e polida das visões neoclássicas no The neo-classical Theory of Production and Distribution, Cambridge, 1969.
[9] “Glossário”, pág. 10.
* N. do T.: observância aqui significa o “pleno acatamento às regras, leis, etc.”
[10] “Glossário”.
[11] “Glossário”.
[12] “Glossário”.
* N. do T.: no inglês está escrito “FOBBED OFF”, neste contexto ele significa “dar a alguém algo que não é aquilo que eles queriam ou é de pior qualidade do que eles queriam”, infelizmente não encontrei correspondente direto nos dicionários, só palavras com descrições próximas.
[13] The Accumulation of Capital, Macmillan, 1956, p.v.
[14] Piero Sraffa, Production of Commodities by Means of Commodities. Prelude to a Critique of Economic Theory, Cambridge University Press, 1960.
[15] David Ricardo (1772-1823) tentou encontrar uma medida invariável de valor, isto é, um denominador comum o qual todo fenômeno econômico poderia ser reduzido a, da mesma maneira que na vida diária usamos libras e centavos de libras, mas que não seria distorcido por inflação e deflação. Ele achava que isso poderia ser encontrado no labor, porque todos os bens e serviços requerem horas de trabalho para chegarem a existir. Esta teoria de valor-labor [trabalho] nunca foi bem satisfatória, até para o próprio Ricardo, mas Karl Marx a assumiu com algum ardor. Ele perguntava como, se o labor é a única fonte de valor, pode haver lucro, isto é, uma renda indo aos não trabalhadores.
Na década de 1870, os economistas chegaram a ver que não o labor, mas sim a utilidade que é a fonte de valor, que quantas horas de trabalho um bem requeria pouco tem a ver com o seu valor, e que valor não é uma qualidade objetiva inerente nos bens e serviços mas uma qualidade subjetiva conferida a eles pela mente avaliadora do comprador.
[16] “Conjecturar e pressupor sobre o que está acontecendo ou prestes a acontecer são, eles mesmos, a fonte desses acontecimentos, homens fazem história quando procuram apreendê-la. Esta é a mensagem da Teoria Geral.” (G. L. S. Shackle, The Years of High Theory, Cambridge, 1967, p. 130.)
* N. do T.: no inglês está escrito “CONGENIAL” aqui, porém quando algo é “CONGENIAL a alguém”, o sentido expresso é diferente daquele de “CONGENIAL a algo”, sentido este que significa “prazeroso porque isso é conforme ao seu caráter/índole” e isto não está expressado nas acepções da palavra “congenial” no português. Mas não se engane, a palavra “congeniais”, escrita lá na página 17, tem a acepção prevista no dicionário, isto é, “Conforme a essência ou o gênio de alguém”.
* N. do T.: do inglês “LIP-SERVICE TO MICRO-FOUNDATIONS”, a tradução direta do “LIP-SERVICE” seria “serviço labial” entretanto esta falha em repassar adiante o significado, este seria “dizer que você concorda com algo mas nada faz para apoiá-lo” ou “publicamente apoiar ou aprovar algo, enquanto realmente toma nenhuma ação para produzi-lo”, seria o nosso “falar por falar”.
[17] “Para erguer um modelo causal, precisamos começar não pelas relações de equilíbrio mas sim pelas regras e motivos que governam o comportamento humano. Nós, portanto, temos de especificar qual tipo de economia o modelo se aplica a, pois vários tipos economias têm diferentes conjuntos de regras. (O Teoria Geral estava enraizado na situação da Grã-Bretanha na década de 1930; Keynes foi imprudente em aplicar suas conclusões igualmente à Inglaterra medieval e ao Egito antigo.) Nosso presente propósito é encontrar o mais simples tipo de modelo que refletirá as condições do mundo capitalista moderno.’ (Joan Robinson, Essays in the Theory of Economic Growth, Macmillan, 1962, p. 34.) O leitor não falhará em notar, até aqui, a caracterização um tanto ambígua das fontes da ação como ‘regras e motivos’. Quais são os mais importantes?
* N. do T.: em inglês está escrito “EXPLOIT”, palavra comumente traduzida como “explorar”, entretanto, em que sentido ele está sendo empregado com, no português, nem sempre é óbvio. Aqui, explorar tem sentido de “tirar proveito”.
[18] “Glossário”.
[19] Uma posição um tanto precária de ter. ‘A conclusão precisa ser que a adequabilidade da função Cobb-Douglas para cronometrar séries não tem rendido, e não consegue render, a realização estatística da função de produção. Ela consegue descrever as relações entre as taxas históricas de crescimento de labor, capital, e o produto, mas os coeficientes que fazem isso não mensuram a produtividade marginal’. (E. H. Phelps-Brown, ‘The Meaning of the Fitted Cobb-Douglas Function’, Quarterly Journal of Economics, Novembro de 1957, p. 551).
[20] Robert M. Solow, Capital Theory and the Rate of Return, North Holland Publishing, Amsterdam, 1963, especialmente pp. 72-93.
[21] R. M. Solow, Growth Theory. An Exposition, Clarendon Press, Oxford, 1970.
* N. do T.: razão aqui significa proporção, caso não tenha ficado claro.
[22] Em itálico no original.
[23] Economic Journal, Junho de 1970, p. 336. O leitor não falhará em notar, acreditamos, que uso efetivo, no calor do combate, nosso eminente neorricardiano está fazendo de um argumento que soletra puro subjetivismo! Um século disso tem deixado sua marca até nas mentes de nossos contrarrevolucionários Ricardianos.
[24] “Glossário”.
* N. do T.: em inglês está escrito “TO JUMP OVER”, não encontrei uma acepção própria disso, mas acredito que isso quer dizer “superar”.
* N. do T.: em inglês está escrito “TO BE KEPT AT ARM’S LENGTH”; existe uma expressão idiomática inglesa “TO KEEP SOMEONE/SOMEBODY AT ARM’S LENGTH” que significa “não permitir a alguém que se torne muito amigável com você”, obviamente que “expectativas” não se trata de uma pessoa, então o que sobra aqui é a outra expressão idiomática “AT ARM’S LENGTH” que significa “o mais longe possível do seu corpo”. Visto que esta exigiria que o leitor entenda “corpo” como “corpo de pensamento” e no inglês não encontrei indícios disso, preferi deixar a tradução literal.
* N. do T.: o verbo usado aqui é “IMBIBE”. Os dicionários de inglês possuem acepções: “Beber, especialmente álcool”, “receber e aceitar informação, etc.”; “beber algo, especialmente álcool”, “receber e entender ideias ou informação”; “beber algo, especialmente álcool”, “absorver algo, especialmente informação” e “beber algo”, “se você IMBIBE ideias, sentimentos, ou qualidades, você as experiências e é influenciado por elas”. Como a frase se refere ao estilo formalístico é obvio que as primeiras acepções não servem. Porém, as variações entre os dicionários sobre a segunda acepção tornam difícil escolher uma palavra em português, fazendo com que a decisão da escolha fique dependente do contexto. 2 dos 3 dicionários que eu uso discordam que o verbo “absorver” sirva aqui e todos concordam que “assimilar” sirva. Apesar de o verbo “beber” servir para englobar esses dois sentidos, isto somente ocorre em um dos dicionários
[25] Joan Robinson, Collected Economic Papers, Blackwell, 1960, Vol. II, pp. 114-131.
[26] The Accumulation of Capital, op. cit.
* N. do T.: no inglês está escrito “CANDIDDLY”, ou seja, “IN A WAY THAT IS CANDID”. É comum que “CANDID” é traduzido como “cândido”, porém após uma pesquisa nos dicionários não parece ser o caso que isso deveria ocorre. Nos dicionários de inglês hão as acepções: “honesto e dizendo a verdade, especialmente sobre algo difícil ou doloroso”, “verdadeiro e honesto”; “dizer aquilo que você pensa aberta e honestamente; não esconder seus pensamentos”, “uma fotografia “CANDID” é uma que é tirada sem que as pessoas nelas saibam que elas estão sendo fotografadas” — repete-se em dois dicionários; “honesto e direto, até quando a verdade não é prazerosa”, “uma fotografia “CANDID” de alguém é natural e informal e é tirada sem que eles saibam que estão sendo fotografados”.
É comum que a palavra seja traduzida como “cândido”, porém nas acepções dos dicionários não parece ser este o caso: “de grande alvura; branco, imaculado”, “que não tem malícia ou maldade; ingênuo, inocente, puro”; “que é excessivamente branco; alvo ou imaculado”, “(figurado) desprovido de culpa; que é puro e inocente; que expressa candura; inocente”; “alvo”, “(figurado) ingênuo, puro, inocente”, indivíduo ridiculamente ingênuo”.
Tendo em vista tudo isso, procurei palavras que mais se aproximassem nas acepções do inglês e escolhi “lhano”.
[27] Production of Commodities by Means of Commodities, op. cit.
[28] Joan Robinson, Collected Economic Papers, Blackwell, 1965, Vol. III, p. 13.
[29] L. L. Pasinetti, “Switches of Technique and the ‘Rate of Return’ in Capital Theory”, Economic Journal, Setembro de 1969. A passagem de abertura está na pág. 508.
* N. do T.: em inglês está escrito “THE FRAY”; os dicionários que eu uso possuem acepções diferentes sobre isso: “um esforço, atividade, luta ou desacordo energético e frequentemente não bem-organizado”, “uma luta, competição ou discussão, especialmente uma que é empolgante ou vista como um teste de sua capacidade” e o último, que possui duas acepções em si, “uma atividade ou situação empolgante em que alguém compete com outras pessoas”, “uma luta ou discussão”. Por conseguinte, procurei nos dicionários de português uma palavra que abarcasse a descrição de “luta” e “discussão”.
[30] Discutido com algum detalhe em L. M. Lachmann, Capital and its Structure, Bell, 1956, pp. 3-12.
[31] Irving Fisher, The Theory of Interest, The Macmillan Co., New York, 1930.
* N. do T.: “LETTING BYGONES BE BYGONES”, é uma expressão idiomática que é “usada para dizer a alguém que ele deveria esquecer as coisas não prazerosas que aconteceram no passado, e especialmente para perdoar e esquecer algo ruim que outrem fez para ele.”
[32] J. M. Keynes, General Theory of Employment, Interest and Money, Macmillan, 1936, Ch. 17.
[33] Capital Theory and the Rate of Return, op. cit., p. 16.
[34] Ibidem, p. 17.
[35] “Glossário”
[36] John Hicks, Capital and Growth, Oxford University Press, 1965, pp. 268-90.
* N. do T.: do inglês “CAPITAL DISPOSAL”. Esta palavra significa “o ato de se livrar de algo, especialmente jogando-o fora”, “o ato de se livrar de algo” — este se repete em todos os outros. Fiquei em dúvida entre escolher o verbo “dispor”, com a acepção de “desfazer-se de (alguma coisa)”, “deixar de possuir alguma coisa” e “deixar à disposição (de outrem)”; e o substantivo “disposição”, com a acepção de “ação/ato ou efeito de dispor”. Escolhi este pois a palavra “DISPOSAL” é usada como um NOUN, ou seja, um substantivo
[37] “Glossário”.
[38] G. L. S. Shackle, A Scheme of Economic Theory, Cambridge University Press, 1965, Ch. IV.
[39] Como o Professor Solow pôs: “Eu tenho alguma boa notícia e alguma má notícia para o Professor Pasinetti. A má notícia é que ele terá de se resignar com a igualdade da taxa de juro e taxa de retorno, porque é assim.” (Economica Journal, junho de 1970, p. 427).
[40] Joan Robinson, Economic Heresies, Macmillan, 1971, p. 48.
[41] J. M. Keynes. op. cit., Ch. II.
* N. do T.: no original está escrito “RESOURCEFULNESS” e tem as acepções: “a capacidade de fazer decisões e agir por conta própria”, “[a qualidade de ser] bom em encontrar maneiras de fazer coisas e resolver problemas”, “qualidade de ser bom em encontrar maneiras efetivas de lidar com problemas”. A palavra “despachada” aqui significa “que demonstra iniciativa e presteza na resolução de problemas; ativo, expedito” e “qualidade de despachada” era para ser uma única palavra mas ela não está prevista nos dicionários.
[42] Um comentador tão simpático à causa de Cambridge quanto o Professor G. C. Harcourt tristemente conclui: “A mais fraca, e, porém, a mais vital, ligação nesta corrente de raciocínio é a pressuposição de uma taxa uniforme de lucros: pois, sem isto, o sistema de preço relativo parece permanecer indeterminado.” (G. C. Harcourt, op. cit., p. 169n. Itálico no original.)
[43] Excelentes críticas são feitas pelo Professor G. A. Duncan, “Growth Delusions”, em Toward Liberty. Essays in honor of Ludwig von Mises, Institute for Humane Studies, Menlo Park, California, 1971, Vol. I., pp. 276-288.
[44] “An Essay in Dynamic Theory”, Economic Journal, Março de 1939.
* N. do T.: no inglês está escrito “REACT”, parece óbvio o motivo da escolha do verbo aqui, porém há um detalhe importante. Nos dicionários de português hão as acepções: “ter uma reação contra; opor a uma ação outra contrária”, “manifestar reação ou protesto; protestar” e “(química) entrar em reação”; “Exercer ação contra”, “opor a uma reação outra que lhe é contrária”, “opor-se, resistir, lutar” e “(química) entrar em reação”; “exercer reação”, “(química) entrar em reação”, “responder de uma certa maneira a uma ação, a um acontecimento: reagir bem a uma crítica”, “opor a uma ação outra que lhe é contrária” e “resistir, lutar”. Repare que “contra” ou palavras afins estão em quase todas as acepções e em todos os dicionários menos o último.
Nos dicionários de inglês hão as acepções: “agir de uma maneira particular como um resultado direto de alguma outra coisa”, “(química) mudar em uma maneira física ou química quando posto com outra substância”; “mudar-se ou comportar-se de uma maneira particular como um resultado de ou em resposta a alguma coisa”, “tornar-se enfermo após comer, respirar, etc., uma substância particular”, “(química) experienciar uma mudança química quando entra-se em contato com outra substância”; “mudar-se ou comportar-se de uma maneira particular como um resultado de ou em resposta a alguma coisa”, “tornar-se enfermo após comer, respirar, etc., uma substância particular”, “(química) experienciar uma mudança química quando posto em contato com outra substância”; “comportar-se em uma maneira particular de alguma coisa que está acontecendo ao seu redor ou alguma coisa que alguém está fazendo a você”, “(química) se uma substância química reage com outra substância, essa muda conforme elas se misturam”, “tornar-se enfermo quando você come uma comida específica ou toma uma droga específica”. Repare que nestes dicionários a palavra “reagir” parece ter um caráter neutro enquanto que nesses, parece ter um caráter de oposição.
E a situação complica ainda mais, pois, no site de sinônimos que eu uso, uma das acepções de “reagir” é “responder de uma certa forma”. Peço que o leitor entenda “reagir” assim — e “reação” como “comportamento manifestado perante um acontecimento” —, não só porque é exatamente aquilo que está escrito nos dicionários de inglês mas também porque todo mundo a quem eu apresentei as acepções do dicionário de português, e não foi pouca gente, ficou surpreso com elas e afirmou com ênfase que nunca ouviu nem usou “reagir” pensando nelas.
[45] R. M. Solow, Growth Theory. An Exposition, op. cit., pp. 11-12.
[46] Op. cit., p. 67.
[47] Op. cit., pp. 22-3.
[48] Joan Robinson, Essays in the Theory of Economic Growth, Macmillan, 1962, p. 52.
* N. do T.: no texto original está escrito “LIMPING”, isto é utilizado tanto como verbo, substantivo e adjetivo de “LIMP”. Enquanto verbo ele tem as acepções de: “andar devagar e com dificuldade por causa de uma perna ou pé contundido”, “mover-se ou desenvolver-se devagar e com dificuldade” — este aqui é informal pois é usado para com processos e coisas — e “andar com a passos irregulares, especialmente porque seu pé ou sua perna está machucado”. Enquanto adjetivo tem as acepções: “ter nenhuma força ou energia” ou “carente de força ou energia”. Tendo em vista o uso de gerúndio, a acepção informal mencionada acima, nos exemplos de “LIMP” como adjetivo “força” tem claramente um teor de fisicalidade e o outro adjetivo ser “contido”, o correto é tratar o termo como verbo. Temos, no português, muitos verbos cujas acepções coincidem com aquelas do inglês menos a mais apropriada à situação descrita, isto é, “(...) desenvolver-se devagar e com dificuldade”. Coxear, mancar, claudicar, renguear e manquejar são eles, porém eu encontrei somente neste uma descrição próxima àquela mais apropriada: “movimentar-se com lentidão (embarcação)”. Por mais que não esteja previsto o uso dele para descrever um processo que se desenvolve devagar e com dificuldade, mesmo assim eu o escolhi pois os outros verbos são menos qualificados.
[49] Ibidem, pp. 53-9.
[50] John Hicks, Capital and Growth, op. cit., p. 24.
* N do T.: no original está escrito “BUOYANT”. Apesar da escolha por “agitada”, em oposição a palavra “sossegada”, há um detalhe que não é passado adiante, isto é, “tendendo a aumentar ou ficar num nível alto, usualmente mostrando sucesso financeiro”.
* N. do T.: no inglês está escrito “ATTUNED TO”, nos dicionários que eu uso há acepções próximas mas não iguais: “especialmente capaz de entender ou lidar com”, “familiar com alguém ou alguma coisa tal que você possa entender ou reconhecer ele ou isso, e agir de uma maneira apropriada” e “familiar com alguma coisa e capaz de lidar com isso de uma maneira sensitiva”. Não encontrei uma palavra que, de maneira satisfatória, cumprisse com essas acepções, somente descrições próximas, estas que, mesmo que eu as colocasse aqui, acredito que falhariam em transmitir o teor que o autor se propôs a querer dizer no parágrafo. Entretanto, durante a procura, vi que vários sites recomendavam traduzir aquilo por “sintonizar”, não tenho certeza do motivo disso, mas chuto que a escolha por o verbo se dá pela acepção de “ajustar sistema de recepção de sinais à frequência do sistema de transmissão”, junto com uma interpretação apropriada à situação em que está sendo empregada. Talvez aqui o “sistema de recepção” seja os “planos dos lares e firmas” e a “frequência” seja “o mesmo conjunto de preços”.
[51] Economic Heresies, op. cit., p. 128.
[52] “Glossário”.
* N. do T.: do original “SPECIFYING INVESTMENT DECISIONS”. A palavra “SPECIFYING”, neste contexto, é um verbo tornado adjetivo, quando isto ocorre, ele não mais funciona como verbo mas ainda tem um significado como um, isto é, um significado ativo ou contínuo, como se fosse um verbo no gerúndio (ando, endo, indo). Para expressar isso no português utilizamos o “-ante” como sufixo na palavra, porém não está prevista a palavra “especificante”. [N. do Editor., optamos em prol de uma leitura mais fluida por empregar o vocábulo “especificante”, que se trata de um neologismo.]
[53] “Glossário”.
[54] N. Kaldor e J. A. Mirrlees, “A New Model of Economic Growth”, reimpresso em A. Sen (ed.), Growth Economics, Penguin Modern Economics Readings, Penguin Books, 1970, p. 346.
[55] Ibidem, p. 366.
[56] “Glossário”.
[57] Contanto que somente trabalhadores em indústrias de bens de capital possam “aprender fazendo”, a ligação com o investimento bruto é mantida já que suas quantias produzidas iguala o investimento bruto e quanto mais eles produzem mais eles presumivelmente “aprendem”.
[58] “Glossário”.
* N. do T.: no original está escrito “EXHORT”, em todos os dicionários menos um este termo significa “fortemente encorajar ou tentar bastante persuadir alguém” infelizmente a palavra EXORTAR não passa adiante esses adjetivos.
* N do T.: estas duas caracterizações que estão entre apóstrofos são termos específicos do mercado financeiro, “BULL” e “BEAR”, respectivamente. Fiz uma pesquisa e descobri eles não possuem uma tradução no português, além disso uma tradução literal deles não faz sentido.