"Uma Visão Geral da Estrutura e do Argumento das Investigações Filosóficas", de P.M.S. Hacker

"Uma Visão Geral da Estrutura e do Argumento das Investigações Filosóficas", de P.M.S. Hacker

Nota Introdutória,

As Investigações Filosóficas são, sem dúvidas, a opera magna de Ludwig Wittgenstein. Contudo, feito grande parte das grandes obras, é muito mais fácil admirá-la do que realmente entendê-la, coisa que Wittgenstein se esforçou em tornar possível, embora, ele mesmo admite, tenha fracassado. Aqui, P. M. S. Hacker, um dos maiores comentadores e intérpretes do filósofo, se propõe a delinear a unidade do pensamento exposto nas Investigações, demonstrando que esses “pensamentos esparsos” formam uma cadeia completa de temas envolta da problemática da natureza da linguagem e do significado que contrapõem o autor do Tractatus. É irônico que o homem que disse que “tudo que pode ser dito o pode ser claramente” tenha que ser clarificado, mas, haja vista a necessidade, Hacker o faz muito bem neste ensaio.

Uma Visão Geral da Estrutura e do Argumento das Investigações Filosóficas

[Tradução: Allan Pacheco; Revisão: Allan Pacheco e Gabriel Marculino]

P. M. S. Hacker[1]

 

Velhos e Novos Pensamentos[2]

No prefácio das Investigações Wittgenstein reconta como ele fez diversas tentativas mal-sucedidas de fundir os resultados do seu trabalho filosófico em um todo desatado, no qual os pensamentos iriam proceder de assunto para assunto em ordem natural e sem pausas. No fim, ele teve que descansar satisfeito com um “álbum de esboços” — uma coleção de comentários filosóficos sobre diferentes assuntos, arranjados em sequências que ocasionalmente saltam abruptamente de um tópico para outro. É às vezes difícil ver o bom senso[3] e a razão da ordenação. Mas, uma vez que Wittgenstein trabalhou duro e longamente no arranjo das suas Bemerkungen[4], há uma presunção de que isso tem uma justificativa. Neste ensaio, eu tentarei dar uma visão sintópica do argumento em desenvolvimento no todo das Investigações. Isso tornará, eu espero, claro o grau de unidade e de integridade do livro.

Era do desejo de Wittgenstein que as Investigações fossem publicadas juntas do Tractatus em um único volume, pois a ele parecia que seus novos pensamentos poderiam ser vistos corretamente apenas em contraste com e contra o seu velho modo de pensar (Prefácio, p. X). O Tractatus pertence ao sublime, à tradição metafísica da filosofia ocidental. Ele trouxe, na visão de seu autor, trouxe essa tradição ao seu pináculo e a um ponto de virada. As Investigações, no entanto, quebram ainda mais radicalmente com a grande tradição. A concepção sublime da  filosofia que informa o Tractatus é abandonada e a concepção de análise da forma lógica que o Tractatus prescreve para a filosofia futura é rejeitada. As Investigações leva adiante uma concepção diferente de filosofia, uma nova forma de se entender os problemas filosóficos e novos métodos de combatê-los. É, portanto, pouco surpreendente que o primeiro um quarto das Investigações seja contrapontual. Por um lado, Wittgenstein critica, implícita ou explicitamente, os principais comprometimentos de sua primeira filosofia; por outro lado, ele os substitui com uma maneira bem diferente de combater os problemas. O tema central do livro é a natureza da linguagem e o significado linguístico. Aqui, Wittgenstein passa em grande parte pelos mesmos caminhos que ele cobriu nas considerações do Tractatus sobre a natureza da proposição, da representação proposicional e da intencionalidade, mas com resultados muito diferentes. Suas discussões, entretanto, se ramificam em investigações filosóficas do entendimento, querer dizer (meaning) algo por uma palavra ou sentença, interpretação, seguir uma regra, experiência subjetiva, pensamento e imaginação, que são raramente mencionados no Tractatus, embora ele proponha uma concepção particular, mal orientada, deles. Por outro lado, os temas sobre a natureza e o status da lógica e necessidade lógica, que foram tão centrais no Tractatus, são brevemente tocados aqui. Presumivelmente eles eram para ser discutidos no seu livro sobre filosofia da matemática e da lógica que nunca foi completado.

A Concepção Agostiniana de Linguagem

Wittgenstein abre as Investigações com uma citação das Confissões de Agostinho, na qual Agostinho esboça como ele pensa que aprendeu a linguagem quando criança. Em sua descrição, Wittgenstein detecta uma imagem (picture) da essência da linguagem: a saber, que palavras são nomes de objetos e que sentenças são combinações de objetos. Essa imagem primitiva do nomear como o fundamento da linguagem exibe a semente da qual inúmeras concepções filosóficas da linguagem e do significam surgem. Da imagem não-filosófica de Agostinho extrai uma concepção filosófica particular do significado linguístico: toda palavra tem um significado, o significado é correlacionado com a palavra, é o objeto que a palavra representa (stands for). Sentenças são essencialmente complexas, compostas de palavras em uma combinação apropriada. Subsequentemente, ele deixa claro que, central para essa concepção Agostiniana, é também a ideia de que é conectada com a realidade, i.e., que palavras (nomes) são dotados de significado por meio de conexões palavra-mundo. Assim, a definição ostensiva de termos primitivos é concebida como a forma fundamental de explicação da palavra-significado, e é tomada como o ponto no qual os nomes são conectados (linked) às coisas. Wittgenstein manteve que essa concepção filosófica da linguagem e sua relação com a realidade como tendo grande importância. Elementos ou aspectos dela afetam e infectam muito da filosofia tradicional, incluindo o Tractatus. Ela teve uma influência penetrante não apenas sobre a filosofia da linguagem e da lógica, mas também sobre a metafísica e epistemologia, filosofia da psicologia e filosofia da matemática. Erradicar sua influência sobre o pensamento filosófico é um dos objetivos das Investigações e dos escritos sobre psicologia e matemática de Wittgenstein.

§§1–27(a) são uma exploração preliminar da concepção Agostiniana de linguagem. Seu propósito é tanto abalar a força (shake the grip) da ideia de que a essência das palavras é nomear as coisas e a noção concomitante de sentenças como expressões necessariamente complexas (e.g. compostas por sujeito e predicado ou função-nome e argumento-expressão) cuja essência é ser asserível. Não devemos pensar que as distinções que traçamos entre tipos de palavras ligue o tipo de coisas que as palavras representam (stands for)[5]. Em vez disso, elas ligam os diferentes tipos de uso que as palavras têm. Sentenças não são essencialmente complexas. A forma assertiva não goza de nenhuma prioridade relativa às outras formas de sentença. Nem escondem em sua gramática profunda um componente de portador de valor-verdade (uma sentença-radical) que é comum à asserções, comandos e perguntas. (Assim, os conceitos de verdade e condição de verdade não podem ter o papel central em uma explicação adequada do significado que é comumente atribuído a eles.) No “capítulo” de abertura, Wittgenstein introduz alguns dos temas centrais do livro: a diversidade de usos das palavras, a analogia entre palavras e ferramentas, o papel da explicação do significado da palavra e sua diversidade, o conceito de uma amostra e a função das amostras na explicação do significado, jogos de linguagem e o uso do método dos jogos de linguagem na elucidação filosófica.

Nomes

§§27(b)–64 examina equívocos sobre nomes e o nomear associados a análises filosóficas operando sob a égide da concepção agostiniana de linguagem. Por toda a história, filósofos e linguistas foram igualmente tentados a pensar no nomear como o fundamento da linguagem. Nomes, pensava-se, são ou complexos e definíveis ou simples e indefiníveis. Nomes indefiníveis apontam (stands for) objetos simples na realidade que são seus significados. Eles são univocamente ligados aos seus significados pela definição ostensiva. Mas, Wittgenstein argumenta, não são apenas nomes simples e indefiníveis que podem ser explicados ostensivamente. A definição ostensiva não “conecta linguagem e realidade” no sentido requerido, pois de forma alguma é uma descrição e o objeto apontado é tipicamente uma amostra que pertence aos meios de representação. A definição ostensiva é uma regra entre outras para o uso de uma palavra e não é menos capaz de ser mal-entendida do que qualquer outra forma de explicação. Entender uma explicação ostensiva de uma palavra pressupõe um grau de competência linguística, e.g., uma compreensão da categoria da expressão que está sendo explicada. Assim, a definição ostensiva não estabelece os fundamentos da linguagem. Nesse sentido, a linguagem não tem fundamentos.

A ideia de “nomes genuínos”, nomes logicamente próprios, simples e indefiníveis, que apontam (stands for) para objetos na realidade que são simples e indestrutíveis, é um mito do simbolismo. O que foi sustentado (por Russell) como sendo um nome paradigmático (i.e., “Isto”) não é de forma alguma um nome. A destruição do portador de um nome não priva o nome de seu significado, pois o portador do nome não é seu significado. O significado de uma palavra não é um objeto de qualquer tipo, mas é o uso da palavra, o qual é explicado por uma explanação do significado — que é uma regra para o seu uso. O que parece ter que existir como condição de pensamento e linguagem significativos não são simples sempiternos, mas sim amostras.  O conceito de simples, concebidos como os constituintes últimos e indestrutíveis da realidade (elementos simples platônicos, naturezas simples cartesianas, objetos simples tractarianos, individuais russellianos) são confusas, porque toma “simples” e “complexo” como absolutos, expressões predicativas, enquanto elas são, de fato, relativas, atributivas. O que conta como simples ou complexo tem que ser introduzido separadamente e definido para cada tipo de coisa. Assim, a concepção de análise que sustenta o atomismo lógico é quimérica. Tal paráfrase analítica pode, para certos propósitos, ser um uso elucidativo, mas a ideia de que isso penetra a estrutura lógica última do mundo é uma ilusão. O mundo não tem uma estrutura lógica.

Significado e Semelhanças de Família

§65–88 investiga a concepção de significado linguístico e explicação do significado que é correlata à concepção de nomes simples ligados a objetos que são os constituintes últimos da realidade. Esse é o pensamento de que a forma própria da explicação para palavras de conceitos complexos (complex concept-words) (por contraste com os nomes simples que não podem ser definidos pela análise) é a definição analítica. Isso é tipicamente definido pela especificação de marcas de características cuja posse é necessária e suficiente para um objeto recair sob um conceito. Definições analíticas especificam a essência do definiendum e a busca filosófica por definições analíticas que se origina em Sócrates e Platão é a busca pela essência das coisas. De acordo com essa concepção, a filosofia é uma sublime, supra-científica, investigação acerca da natureza do mundo.

Wittgenstein abre essa sequência de comentários com a observação de que minando as pressuposições de análise sobre o simples, ele evitava o que uma vez parecera para ele ser a mais profunda e mais importante das questões, a saber, “Qual a essência da linguagem?” No Tractatus ele argumentou que a linguagem é a totalidade das proposições que podem ser geradas a partir de proposições elementares por meio da operação de negação conjunta. A essência de uma proposição, ele argumentava, é dada pela forma proposicional geral, i.e., “Es verhält sich so-und-so” (“É assim que as coisas são”[6]). Isso encapsula as noções de que todas as proposições são funções de verdade de proposições elementares, que uma proposição elementar é uma afiguração (picture) de um estado de coisas, que um estado de coisas é uma concatenação possível de objetos simples e que a atualização de um estado de coisas é um fato atômico. A proposição elementar em si, argumenta ele, consiste em nomes simples que apontam para objetos simples que são seus significados. Aqui, nas Investigações, ele repudiou o conceito de nomes simples e de objetos simples que constituem a substância do mundo. Ele rejeitou a ideia de que o significado de um nome é o objeto que ele aponta. Ele negou que a definição ostensiva ligue as palavras ao mundo, constituindo, por assim dizer, a “saída” da linguagem. Com a rejeição da análise como previamente concebida, ele também minou uma ideia central do Tractatus: nomeadamente, que proposições são necessariamente isomórficas com o que elas verdadeira ou falsamente retratam. Qual é, então, a essência da linguagem?

Evitando uma abordagem direta, Wittgenstein concentra-se primeiro na demanda dogmática por definições analíticas de todos os termos não primitivos. Ele agora nega que um conceito-palavra se aplica a todas as coisas que recaem sobre ele em virtude da sua possessão de propriedades comuns. Não precisa ser assim e, no caso dos conceitos de semelhanças de família, não é assim. A unidade de tais conceitos consiste nas similaridades sobrepostas entre os membros da família. Não explicamos o que um jogo é por uma definição especificando as condições necessárias e suficientes para que uma atividade seja um jogo. Ao invés disso, explicamos o que a palavra “jogo” significa por meio da referência a exemplos paradigmáticos junto de um piloto de similaridade (similarity-rider): “e outras coisas como essa”. É uma característica distintiva dos conceitos de semelhanças de família que eles não são fechados, mas permitem a adição de novos membros (e.g., novas categorias de jogos) sem qualquer alteração no conceito. Além disso, o conceito de um jogo nem tem nem precisa ter fronteiras nítidas. Ele funciona proficuamente como um paradigma para um conceito de semelhança de família aqui, uma vez que Wittgenstein, por efeito, argumentado que uma linguagem é uma heterogeneidade de jogos de linguagem, e o conceito de uma linguagem, como o conceito de uma proposição ou de um número, é de semelhança de família.

Vagueza e a Linguagem Ideal

A introdução da ideia de semelhança de família providenciou o trampolim para o criticismo da concepção de determinação do sentido que caracterizara tanto a filosofia da lógica de Frege quanto a do Tractatus. A determinação do sentido parecia ser requerida pela lógica. Pois, se conceitos possuem fronteiras indeterminadas, não se poderia argumentar a respeito de todo e qualquer objeto, que ele recai sob tal e tal conceito ou não. Assim, ao que parece, a lei do terceiro excluído não se aplicaria às proposições que incorporassem tais conceitos vagos. A estratégia de Frege foi, por um lado, assegurar que em sua  conceitografia (concept-script) toda expressão fosse bem definida e, por outro lado, descartar as palavras da linguagem natural que não são nitidamente definidas como não sendo palavras conceituais genuínas. Isso ele poderia fazer, desde que considerasse as linguagens naturais como sendo logicamente imperfeitas. Wittgenstein, em contraste, considerou toda linguagem como estando bem como estavam, uma vez que, de outra forma, não poderiam expressar qualquer sentido e não seriam uma linguagem. Pois, em sua visão, a lógica não era um ideal que as linguagens naturais ambicionam e em relação o qual ficam aquém. Pelo contrário, a lógica era a condição transcendental para a possibilidade de expressar absolutamente qualquer sentido. Assim, sua estratégia é bem diferente da de Frege. Ele argumentou que, embora as sentenças da linguagem natural possam parecer vagas, isso é meramente aparente. Sob análise, toda indeterminação é determinadamente indeterminada, i.e., analisável em uma disjunção de proposições em que cada uma tem um sentido determinado. Agora ele critica essa concepção do Tractatus. Uma linguagem não é um cálculo com regras rígidas que fornecem todas as circunstâncias possíveis. Há diversos conceitos vagos na linguagem natural. Se eles causam problemas em uma dada ocasião depende se estamos lidando com objetos que caem na penumbra da indeterminação ou não, e se isso importa para os nossos propósitos. Às vezes nós positivamente queremos um conceito vago e a indeterminação não tem problema. Mas se problemas são gerados, então podemos tomar uma decisão em um caso particular, para um propósito específico, traçando uma fronteira onde antes não havia nenhuma. A exclusão da mera vagueza, no entanto, não equivale à determinação do sentido. Esta última requer a exclusão de toda a possibilidade de vagueza. Isso é incoerente. Como uma placa de sinalização, uma regra (incluindo uma para o uso de uma palavra) está em ordem se ela cumpre sua função satisfatoriamente. Uma regra pode sempre ser suplementada por outra regra para prevenir desentendimentos. Mas o pensamento de que podemos estabelecer regras que irão excluir todos os possíveis desentendimentos é incoerente. Pois não há tal totalidade.

Crítica ao Tractatus e a Nova Concepção de Filosofia

A discussão acerca da vagueza e da determinação do significado do sentido trouxe à tona o temor fregeano e tractariano de que se há quaisquer palavras conceituais vagas, as leis da lógica não se aplicarão a elas. Como já notado, Frege e o jovem Wittgenstein têm diferentes concepções do que a lógica é. Agora, na discussão acerca da natureza da filosofia em §§89–133, o Wittgenstein maduro reconsidera estas questões. §§89–108 são criticismos dos mais profundos princípios metodológicos que guiaram o Tractatus e a repulsa da concepção “sublime” da filosofia e da investigação lógica que o embasava. Foi um equívoco supor que a lógica é sublime — o espelho da estrutura lógica do mundo. A investigação filosófica é gramatical e sua tarefa não é penetrar a natureza objetiva e independente da linguagem de todas as coisas, mas limpar certos tipos de mal-entendidos causados por analogias enganosas entres diferentes tipos de expressão. A essência da linguagem, i.e., sua função e estrutura, não está oculta, para ser desenterrada pela análise. Está à vista em nossas práticas linguísticas. Mal-entendidos nos inclinam a pensar que proposições fazem algo extraordinário — elas não apenas retratam como as coisas são, elas também retratam, quando falsas, como as coisas não são. O pensamento não para em nenhum lugar antes do fato — quando pensamos verdadeiramente que p, o que pensamos é precisamente o que é, de fato, o caso. Mais ainda, podemos também pensar o que não é o caso — como fazemos quando o que pensamos é falso. Estes truísmos podem parecer misteriosos e problemáticos e assim pareceram para o autor do Tractatus. Wittgenstein adia as discussões acerca desses quebra-cabeças da intencionalidade, e a explicação completa do que parece misterioso e problemático, até §§428–65. Aqui ele meramente nota que eles nos levam a fazer exigências sobre proposições e palavras, exigências que devem ser atendidas, se proposições são capazes de fazer o que fazem. Assim, sublimamos nossos conceitos ordinários de nome e proposição. Os nomes reais e as proposições elementares reais, pensamos, estão para ser encontradas apenas pela análise. Exigimos determinação de sentido, e, se não podemos achá-la na gramática superficial, então ela deve estar presente na gramática profunda. Caso contrário, as inabaláveis ​​demandas adamantinas da lógica não serão atendidas. Mas isso era uma ilusão. Isso repousa, entre outras coisas, em um equívoco acerca da natureza da lógica em si. E levou a distorções fundamentais dos próprios fenômenos sob escrutínio. A investigação inteira precisa ser rotacionada. A lógica não é a gramática profunda que nós descobrimos para fundamentar todas as linguagens possíveis, mas uma grade que impomos sobre os argumentos para testar e demonstrar a sua validade. Nomes, proposições, linguagem, não tem uma forma essencial para ser exposta pela análise — elas são famílias de estruturas abertas à vista, sendo clarificadas por descrição.

§§109–33 esboça a nova concepção de filosofia de Wittgenstein e seus métodos. A concepção sublime do assunto sendo rejeitada, a imponência da filosofia agora se refugia nas ilusões, incluindo a ilusão metafísica de sua sublimidade. Problemas filosóficos são formas de mal-entendimento ou falta de entendimento, que são resolvidos ou dissolvidos por descrições dos usos das palavras. Não há quarto na filosofia para teorias explicativas (hipotético-dedutivas), no modelo da ciência, ou para teses dogmáticas (essencialistas), no modelo da metafísica. Sua tarefa é a clarificação gramatical que dissolve perplexidades conceituais e fornece uma visão geral ou representação examinável de um segmento da gramática da nossa língua — uma visão geral sob medida para a perplexidade em questão. Seus métodos são descritivos, não hipotéticos. Descreve os usos familiares das palavras e os organiza de modo que os padrões de seu uso se tornam examináveis e nosso o emaranhado na teia da gramática torna-se claro. Ela não adiciona à soma de conhecimento, mas contribui para a ampliação do entendimento humano, por um lado, e para a dissipação das ilusões conceituais e mal-entendidos, por outro.

Significado e Entendimento

§§133–42 faz a transição da discussão metodológica com a faceta de Janus[7] da filosofia para a subsequente investigação do entendimento. O tema da forma proposicional geral que era o coração da teoria pictórica de representação e da concepção das proposições da lógica como sem sentido já surgiu um número de vezes. Pois ele era uma parte crucial do essencialismo do Tractatus. Agora, Wittgenstein brevemente examina e rejeita a ideia toda. Ele já argumentou que proposição é um conceito de semelhança de família. Assim, ele não possui uma essência que é dada pela forma “É assim que as coisas são”. Então o que exatamente é essa “forma”? De onde Wittgenstein a derivou? E se ela não é a forma geral da proposição, o que ela é? De fato, ela nada mais é do que uma variável proposicional usada para propósitos de referência anafórica. Não se poderia definir uma proposição como qualquer coisa que possa ser verdadeira ou falsa? Não informativamente, pois tudo que isso significa é que chamamos “uma proposição” apenas o que pode ser verdadeiro ou falso. “Verdadeiro” pertence ao nosso conceito de proposição, mas não o corresponde.[8]

Wittgenstein usa os termos “corresponder” e “pertencer” para introduzir seu próximo tema, um tema que deve ser examinado a fim de bloquear uma objeção, e uma falta de clareza, ao conceito de significado linguístico que ele está agora levando adiante. O significado de uma palavra, ele argumenta, é o seu uso. Nós tipicamente apreendemos o que uma palavra, enquanto usada em uma sentença, significa de uma só vez. Mas o complexo uso de uma palavra em toda a sua variedade de combinações e contextos é algo que é manifesto apenas no decorrer do tempo. Como pode o que apreendemos em um instante corresponder ao uso?[9] O que apreendemos não é o uso? É o significado, afinal, distinto do uso, algo do qual o uso se segue? O significado de uma palavra é o que é dado pela explicação do significado. Mas tal explicação, uma regra para o uso da palavra, nem sempre vem à mente quando alguém escuta e entende a palavra. Então como pode alguém apreender o significado de uma palavra ou elocução de uma vez só e ainda assim o significado ser o uso? Para responder isso, o conceito de entendimento deve ser investigado primeiro.

§143–84 faz isso. O propósito negativo é minar a ideia de que o entendimento é um estado que, em algum sentido, contém o uso ou aplicação de uma palavra (ou a aplicação de uma fórmula algébrica de uma série aritmética) antes de ser usada, e então que o uso flua desse estado mental feito a água de um reservatório. O propósito positivo é clarificar o status categorial do entendimento. Entender não é de forma alguma um estado mental. Falta-lhe a “duração genuína”[10] que caracteriza os estados mentais (tais como sentir-se alegre ou depressivo, sentir dor ou concentrado). Nem é o estado de um aparato da mente, tais como o cérebro ou alguma estrutura abstrata pressuposta por um modelo mental na psicologia. Entender é semelhante a saber e consequentemente carrega um parentesco (kinship) a uma habilidade. Entender ou saber que uma palavra significa é ser capaz de fazer certas coisas — por exemplo, usá-la corretamente, explicar o que ela significa e responder apropriadamente ao seu uso pelos outros. Fazer estas coisas são, na verdade, critérios de entendimento.

Sobre Seguir Regras

§189 marca o fim do Early Draft (FF), TS 220, composto em 1936-7.[11] Wittgenstein originalmente continuou com as discussões no TS 221 que, agora rearranjado, forma a Parte I do Remarks on the Foundations of MathFematics.[12] Mas, com o Intermediate Draft (ZF) de 1944[13], Wittgenstein decidiu abandonar a sequência matemática e continuou o livro em direção aos argumentos da linguagem que o preocuparam novamente em 1944 e o levaram a tais resultados iluminadores e originais. Como duas continuações tão diferentes puderam florescer do mesmo tronco é explicado no Volume 2 deste Comentário, no ensaio intitulado “Two fruits upon one tree”.

§§185–242 complementa a sequência anterior de comentários e clarifica a relação entre entender uma expressão, o significado ou uso da expressão, e a explicação do que ela significa (que é a regra para o seu uso). Como no exame do entendimento, aqui também o exemplo com o qual Wittgenstein trabalha é aquele de uma regra para séries gramaticais. Isso talvez seja porque ele originalmente intencionava continuar essas seções com as discussões matemáticas do TS 221. Mas também talvez seja por conta das concepções de estar de acordo com uma regra, de seguir uma regra, e de algo se seguindo de uma regra que ele está combatendo estão em sua maior força em tal exemplo aritmético. Uma regra para uma série aritmética, como uma explicação do significado de uma palavra, não contém suas aplicações in nuce.[14] É correto que agir dessa e dessa forma conta como aplicar a regra corretamente. Mas a regra não é um dispositivo mágico do qual as aplicações corretas se desdobram. Qualquer regra, dada por uma formulação de regra, pode ser mal-entendida, interpretada erroneamente e, por consequência, mal aplicada. A correta aplicação de uma regra (ou explicação do significado) é um critério de entendimento. Mas o que faz uma dada aplicação de uma regra correta? Não é a intuição; nem, salvo trivialmente, estar de acordo com o que o professor quis dizer; nem, salvo por petição de princípio, fazer o mesmo que alguém mostrou em um exemplo prévio; nem, salvo à custa da uma regressão fútil, uma interpretação. Em certo sentido, nada a faz correta. Mas isso não é um mistério. Pelo contrário, a questão é equivocada. Não há uma relação interna entre uma regra e sua extensão. Se uma regra requer alguém para V em circunstâncias C, então V-zar em C é o que é chamado “obedecer a regra”. A relação interna é forjada pela existência de uma prática, uma regularidade em aplicar a regra e uma comportamento normativo (de justificação, criticismo, correção de erros, etc.) que envolve a prática. Apenas quando tais formas complexas de comportamento estão em jogo faz sentido falar que uma regra e um comportamento de seguir regras que está de acordo com isso. Pois os meros sinais, a formulação de regras, não são mágicos. Eles expressam uma regra apenas se são usados como a expressão de uma regra, uma norma de corretude, uma justificação para agir assim e assim, uma explicação de ação, no contexto de uma prática persistente.

A conclusão da longa discussão de seguir uma regra é trazida para a linguagem e o significado linguístico. Seres humanos concordam na linguagem que usam, eles concordam no que conta como sendo aplicar uma dada regra (em particular, uma dada explicação de significado) corretamente. Tais concordâncias não decidem o que é verdadeiro e o que é falso. Determina conceitos compartilhados e entendimento mútuo. Mas a verdade empírica é determinada por como as coisas são, não por como nós concordamos que elas são. No entanto, se a comunicação linguística é possível, deve haver concordância não apenas em definições, i.e., no que as palavras significam, mas também, em uma ampla gama, em juízos. Pois a correta aplicação de uma expressão é um critério de entendimento. Discordância caótica em julgar (e.g. sobre as cores das coisas, ou sobre medidas ou sobre cálculos aritméticos) significaria a desintegração da linguagem comum e do entendimento mútuo.

Argumento da Linguagem Privada

§§243–315 incorpora os argumentos da linguagem privada. Uma “linguagem privada" é uma linguagem cujas palavras individuais (não-lógicas, não-sincategorimáticas) se referem às sensações privadas (ou, mais geralmente, experiências) do falante. Sensações ou experiências, como concebidas pela tradição filosófica dominante, são, Wittgenstein aponta, tanto privadamente portadas e inalienáveis, i.e., ninguém além do sujeito delas pode tê-las, quanto epistemicamente privadas, i.e., apenas seu “portador” pode realmente saber que ele as têm. Assim, se as palavras de tal linguagem têm as experiências subjetivas do falante como seu significado ou se tais experiências subjetivas funcionam como amostras definidoras do vocabulário básico da linguagem (cf. as ideias simples da tradição empirista), então ela é radicalmente privada, na medida em que não pode, à princípio, ser entendida por mais ninguém. É tal linguagem possível?

Por que Wittgenstein levanta a questão neste ponto? §§185–242 se concluiu com a afirmação de que a linguagem, se deve ser um meio de comunicação, requer concordância tanto em definições quanto em juízos. Mas os empiristas e os racionalistas, semelhantemente à tradição Idealista, haviam involuntariamente se comprometido a uma concepção de linguagem consistindo de nomes que significavam ideias na mente do falante e conceberam ideias como privadamente portadas e epistemicamente privadas. Além disso, a tentação de conceber as “ideias” ou a “representação mental” como o lastro de ouro para o papel-moeda das palavras é poderosa e profunda. De acordo com isso, não se poderia haver concordância em definições. E se não há acordo nas definições, não pode haver acordo nos juízos também. Claro, aqueles que sucumbem à tentação não pensam que esses comprometimentos excluem a possibilidade de comunicação por meio da linguagem. Eles tipicamente tem uma história elaborada para explicar como a comunicação é efetivada. Mas, se Wittgenstein está certo, essa história é incoerente. Assim, ao abordar essa questão, Wittgenstein também está questionando a tradição filosófica dominante e se esforçando para dissipar uma ilusão perene.

 

Além disso, a exclusão do conceito fundacionalista, idealista da linguagem repousando sobre nomes de experiências subjetivas é necessária para a vindicação da própria concepção normativa de Wittgenstein da linguagem e do significado linguístico. Palavras, ele insiste, são atos. Falar uma linguagem é uma prática normativa acessível a todos, enraizada na forma de vida (form of life) de uma cultura, moldada pelas habilidades, necessidades e interesses humanos, e condicionada pelas circunstâncias da vida humana, nossa apreensão delas e nossa reação natural a elas.

Wittgenstein começa argumentando que as ideias de portar experiências privadamente e privacidade epistêmica são incoerentes. Diferentes pessoas podem e frequentemente tem a mesma dor (assim como seus cabelos podem ter a mesma cor) — não qualitativamente a mesma ou numericamente a mesma, mas apenas a mesma. Alguém pode saber se o outro está com dor — se ele demonstra comportamento de dor nas circunstâncias apropriadas. Pois isso não é evidência indutiva nem analógica. Comportamento de dor é um critério lógico para estar com dor. O uso primitivo de “Eu tenho dor” é como um substituto para o comportamento de dor natural. É tipicamente uma elocução que manifesta ou expressa a dor do falante (ao invés de descrever como estão as coisas com ele). Não possui mais fundamento do que um gemido tem, e a sua elocução em si é uma forma aculturada de comportamento de dor e um critério para os outros atribuírem dor ao falante. No nosso próprio caso, tendemos a confundir o fato gramatical de que não faz sentido duvidarmos se estamos com dor com o absurdo de que, quando estamos com dor, sabemos que estamos. “Eu sei” pode funcionar como um operador informativo de formação de sentenças em uma sentença apenas se serve para excluir a possibilidade do meu desconhecimento. No caso da frase “Eu estou com dor” ele é redundante, pois não há tal possibilidade a se excluir (e na boca de um filósofo, apresentando a proposição epistêmica putativa como um exemplo de uma certeza empírica que constitui os fundamentos do conhecimento, é sem significado).[15]

O nexo conceitual entre dor e comportamento de dor é precisamente o que é impedido pela concepção de uma linguagem privada. Eu sei que eu estou com dor pela introspecção ou apenas por uma dor. Então, meu domínio do conceito de “dor” deve ser independente de apreender os fundamentos comportamentais para sua atribuição de outro. Assim, a palavra dor deve ter seu significado dado pela associação com a sensação privada de dor ou deve ser definida pela definição ostensiva privada na qual a sensação de dor e sua reprodução mnemônica funciona como uma amostra definidora. Mas isso, Wittgenstein demonstra, é incoerente. Uma sensação (ou a reprodução mnemônica dela) não pode suprir a função de uma amostra. Então a cerimônia da definição ostensiva privada é vazia. Não pode produzir uma regra que possa possivelmente guiar ou fundamentar a aplicação de uma palavra. Portanto, não apenas os outros não podem entender a linguagem privada, o falante também não pode. Palavras não podem ser definidas pela referência a amostras mentais privadas na imaginação. Portanto, não pode existir tal coisa como uma linguagem privada nesse sentido. Alguém aplicar o predicado “dor” (e muitas outras expressões psicológicas) para si mesmo repousa sobre absolutamente nenhum critério, mas a própria possibilidade de tais aplicações infundadas de tais predicados pressupõe domínio do uso da terceira pessoa que repousa sobre critérios de comportamento público.

Wittgenstein se esforça para tornar claro que ele não está argumentando como um behaviorista faria, que não poderia haver dor sem comportamento de dor, mas, pelo contrário, que faz sentido atribuir dor a uma criatura apenas se ela é do tipo de criatura que pode (logicamente) exibir dor em seu comportamento. Mais geralmente, apenas para seres humanos e ao que se comporta feito seres humanos se pode atribuir predicados psicológicos. Por consequência, é sem sentido atribuí-los à mente ou ao corpo ou a partes do corpo (feito o cérebro). Wittgenstein não está negando que a dor seja distinta do comportamento de dor. Ele está argumentando contra a má compreensão da gramática da "dor", a tendência em se construir sua gramática sob o modelo de nome e objeto significado. (Aqui de novo a concepção agostiniana de significado está sob ataque).

Psicologia filosófica e a intencionalidade

§§316–62, e a investigação subsequente da imaginação em §§363–97, podem dar a impressão equivocada de abandono das investigações sobre a linguagem e significado linguístico em favor de temas da filosofia da mente. Mas Wittgenstein teve que incluir um exame de tais conceitos psicológicos como pensar e imaginar (bem como entender e querer dizer algo). Quando escreveu o Tractatus, ele tomou uma concepção particular de pensamento, significado e entendimento como garantidos e negligenciou sua análise. Ele pensava que isso era assunto próprio da psicologia, não da filosofia. Isso era um erro, pois o que ele assumira pertencer à psicologia era, na verdade, metapsicológico, e demandava elucidação filosófica como parte do empreendimento geral de clarificar a natureza da representação linguística. Equívocos sobre o pensamento, imagens e imaginação tem reflexo distorcido na natureza da linguagem do surgimento da filosofia até os dias de hoje.

O principal alvo da investigação sobre o pensamento são as ideias de que o pensamento é um processo interno que informa o discurso, então o discurso pensativo (thoughtful speech) é o discurso acompanhado pelo processo de pensar, e que pensar em si é um tipo de linguagem, para que o discurso manifesto é uma tradução do pensamento em palavras. Wittgenstein concede que se pode falar sem pensar e pensar sem falar, o discurso pensativo não consiste em um par de processos concorrentes e dizer o que pensamos não é traduzir nossa linguagem em palavras da linguagem falada. Para fazer algo com o pensamento, não é preciso nem dizer algo em voz alta nem dizer algo para si mesmo. Falar com e sem pensamento é comparável a tocar uma peça musical com e sem pensamentos. O que um ser pode pensar é o que esse ser pode expressar em seu comportamento. Dizemos que um ser pensa com base em comportamento (incluindo o discurso). Embora nossa habilidade em dizer o que pensamos não repouse em nossa observação do que estamos fazendo, uma condição para termos tal habilidade é que podemos exibir ou dar expressão aos nossos pensamentos em nosso comportamento. Os limites do que pode ser pensado por uma criatura são os limites do que pode ser expresso em seu comportamento. Não dizemos que máquinas podem pensar, pois é o que dizemos apenas de um ser humano e do que se comporta feito um ser humano que pensa — e isso não é uma opinião. É uma verdade conceitual, gramatical, indicativa do lugar que o conceito de pensamento ocupa na trama da vida.

A discussão do pensamento leva naturalmente ao exame das imagens mentais e da imaginação. Sua relevância para a preocupação geral é tripla. A suposição de que para uma palavra ter um significado é para ela representar uma ideia ou imagem mental na mente dominou o pensamento empirista e é incompatível com a concepção de significado que Wittgenstein está avançando. O pensamento mal orientado de que imaginabilidade determina os limites do sentido, que imaginabilidade é um critério da possibilidade lógica, tentou muitos filósofos empiristas. E o fato de que podemos conjurar imagens mentais das coisas nos inclina a supor que se pode pensar sem palavras — em imagens. Os breves esboços que Wittgenstein nos oferece aqui não lidam sistematicamente com todas essas questões, mas elas lança luz o suficiente sobre os conceitos de imagem mental e de imaginação para permitir que alguém se defenda por si mesmo.

§§398–427 lida bem brevemente com grandes temas: o “mundo subjetivo” dos sentidos, experiência e imaginação, o “si mesmo” (“self”) e a auto-referência, os conceitos de consciência e autoconsciência. A discussão antecedente da imaginação leva ao pensamento da privacidade do “mundo das representações” (Vorstellungswelt)[16] — a propriedade inalienável do “quarto visual” da experiência subjetiva. Mas esta ilusão idealista está enraizada em uma má interpretação das formas gramaticais. A função do pronome em primeira pessoa não é se referir a um indivíduo (deixado só por uma substância mental ou "proprietário da experiência”), mas para indexar uma elocução. A discussão do “quarto mental” leva naturalmente a um breve exame da consciência, da ilusão de um “abismo intransponível” entre consciência e processos cerebrais e o equívoco de que a consciência é um objeto de conhecimento introspectivo indubitável. Aqui a conexão com os temas centrais do livro parecem ter se perdido, e os insights, embora tão profundos quanto até agora, estão muito fragmentados.

É digno de nota que §421 marca o final do Intermediate Draft (ZF) que Wittgenstein compôs em 1944. A sequência foi adicionada em 1945 e demonstra uma ordenação menos coerente do que seus antecedentes.

§428 abruptamente abre uma nova linha de investigação. Está diretamente ligado com §§93–5 e §110, em que a ideia de que uma proposição é uma coisa notável ou estranha é identificada como a fonte de sublimação de toda a investigação filosófica. Esta discussão alude à teoria pictórica de representação do Tractatus, que propunha uma resposta metafísica aos problemas da intencionalidade. Ela explicava como uma proposição pode ser falsa mas significante, como pode descrever não apenas o que é o caso (o que é verdadeiro), mas também o que não é o caso (o que é falso). Explicava como pode ser que a proposição atinge a realidade, assim, quando alguém pensa o sentido da proposição, e pensa verdadeiramente, então o que alguém pensa é o que é o caso (mesmo quando alguém pensa falsamente, o que ele pensa é o que não é o caso, e ainda assim o que se pensa em ambos os casos é, no entanto, o mesmo). A explicação oferecida envolve uma metafísica, uma ontologia e uma análise lógico-linguística complexa que postula uma harmonia pré-estabelecida entre pensamento, proposição e mundo. Agora Wittgenstein se volta em demolir e substituir sua antiga solução aos problemas da intencionalidade. Este é seu criticismo mais profundo e de maior alcance à teoria pictórica de representação. Foi, provavelmente, um erro tático enterrá-lo aqui, tão longe dos criticismos do Tractatus no primeiro um quarto do livro e sem indicar uma conexão explícita entre essa discussão e a teoria pictórica que é, sem dúvidas, parte do seu alvo. De fato, sua conexão com o Tractatus é escondida pelo fato de que os problemas da intencionalidade, discutidos lá em associação com o que ele chamou de “o mistério da negação”, são aqui tratados em conexão com expectativa e seu cumprimento, desejo e satisfação, e uma ordem e sua execução, as quais não são nem mesmo mencionados no Tractatus. É a discussão mais compreensiva e profunda dos problemas da intencionalidade, mas é lamentavelmente super comprimida.

Linguagem e pensamento

Tendo clarificado os conceitos de entendimento, pensamento e imaginação, Wittgenstein pode agora, nos §§428–65, voltar-se à ideia mal concebida, que embasou não apenas o Tractatus, mas também muito da tradição prevalente, de que o significado dos signos, sua habilidade de representar seja lá o que eles representam, é parasitário ao processo mental do pensamento (“pensamento” sendo construído aqui incluindo querer dizer (meaning), imaginação, crença, expectativa, etc.) A intencionalidade dos pensamento fora tratada envolvendo uma relação interna entre um pensamento e a realidade que corresponde a ele, a qual foi explicada em termos de uma harmonia metafísica pré-estabelecida entre pensamento e realidade (como o Tractatus argumentara), ou uma relação externa, causal, como os empiristas (incluindo Russell) argumentaram. Ambas as concepções são agora sobressaltadas. Se a relação entre o desejo e sua satisfação fosse externa e causal, então o objeto de desejo seria o que quer que faça o sentimento de desejo desaparecer (feito um soco no estômago) — o que é absurdo. A relação é, de fato, interna. Mas uma relação interna é meramente o reflexo de um nexo intra-gramatical, não o resultado de uma relação linguagem e realidade. A gramática não é “o grande espelho”. Ela não reflete a essência das coisas. Que o pensamento de que p é o pensamento que é feito verdadeiro pelo fato de que “p” é uma proposição gramatical, não uma verdade metafísica. Ela meramente diz que a expressão “o pensamento de que p” é intersubstituível  com a expressão “o pensamento que é feito verdadeiro pelo fato de que p”. Assim, o que satisfaz a crença, a expectativa ou o desejo de que p não é o estado de coisas ou o evento que o corresponde (e cuja obtenção ou ocorrência é garantida corresponder a ele por uma harmonia metafísica pré-estabelecida entre pensamento, linguagem e realidade), mas, ao contrário, que lhe pertence. Pois o que chamamos “a expectativa de que e” é a expectativa que é satisfeita pela ocorrência de e. Então, a expectativa e seu cumprimento fazem conexão na linguagem. O pensamento não é a vida do signo, é o seu uso governado por regras em uma prática, na aplicação que um ser vivo, que tenha dominado a técnica de seu uso, faz dele.

O problema da indução

§§466–90 são uma breve discussão do problema da justificação do raciocínio indutivo. Não há nenhuma razão óbvia do porquê isso deveria estar localizado aqui. Nem há nenhuma razão do porquê deveria estar no livro de qualquer forma, salvo pelo fato de que Wittgenstein é ansioso em repudiar o fundacionalismo em todas as suas formas. O pensamento de que o raciocínio indutivo precisa de um fundamento que irá validá-lo é, ele argumenta, uma ilusão. Não faz sentido buscar por um justificação do método indutivo.

O significado, outra vez

§§491–570 se revertem para um exame do significado, em uma multitude de problemas relacionados em uma maneira relativamente desordenada. Wittgenstein começa pela consideração de teorias causais de significado defendidas por Russell, Ogden e Richards. Mas a concepção de uma linguagem não pode ser definida pela referência a propósitos estranho que a linguagem cumpre e as regras da gramática são regras constitutivas do significado, não normas técnicas (instrumentais) especificando como as palavras devem ser usadas se tais e tais propósitos devem ser cumpridos (e.g. produzir tais e tais efeitos nos ouvintes). Uma prática normativa, governada por regras. As regras da gramática não são certas ou erradas, corretas ou incorretas, na medida em que elas concordam com a realidade. As regras da gramática são, nesse sentido, “arbitrárias”, e não respondem à realidade por verdade ou corretude.

Os limites do sentido não são determinados pela limitação intrínseca dos poderes humanos de querer dizer isso ou aquilo, nem pelas limitações do nosso próprio poder de pensar ou imaginar. Nem são eles determinados pelas possibilidades combinatórias objetivas dos significados das palavras (concebidas — no modelo agostiniano — como objetos que as palavras representam). O que é logicamente possível é determinado, não refletido, pelo que as regras da gramática permitem. Mas as regras da gramática não excluem nem proíbem qualquer possibilidade — uma impossibilidade lógica não é uma possibilidade que é impossível. O que elas excluem são concatenações sem sentido de palavras — frases as quais nós não atribuímos sentido. As regras em si são autônomas; e os significados das palavras é imanente.

Essas conclusões gerais são trazidos para sustentar a concepção de Wittgenstein do significado como uso nos casos especiais do significado da negação (§§547–57) e de “é” (§§558–70), ambos para ilustrar a ideia de autonomia do significado e para qualificar a identificação de significado e uso. A sinonímia e a ambiguidade das palavras são dependentes de contexto e relativas a um propósito, frequentemente requerendo uma decisão ao invés de um discernimento de fatos indescritíveis. Uma reflete um grau de indeterminação nas noções de igualdade e diferença de uso, assim como no critério flutuante do que é essencial e o que é acidental acerca do uso de uma palavra.

Psicologia filosófica II

§§571–693 exploram um grupo de conceitos psicológicos: expectativa, esperança e crença (§§571–93), seguidos por lembrança e reconhecimento e concluindo com conceitos conativos[17] tais como disposição, pretensão e querer dizer (meinen). Todos estão sujeitos a formas relacionadas de interpretações erradas e mal-entendidos, as quais Wittgenstein é perspicaz em expor. Ter expectativa, opinar, esperar, crer, saber, etc. parece que são verbos significando estados; ver, ouvir, pensar e sentir parece que significam processos. Estar disposto, querer e pretender parecem gramaticalmente como verbos de ação. Em cada caso, por uma variedade de diferentes razões, as aparências enganam. É evidente que Wittgenstein se tornou interessado em uma multitude de problemas locais nesses domínios que têm apenas uma consequência indireta nos principais temas do livro. Essas discussões são digressões fascinantes, na quais o gênio de Wittgenstein é evidente de novo e de novo. A metodologia da investigação em filosofia da psicologia é exibida e brevemente discutida aqui, embora, é claro, é mais elaborado e aplicada nos escritos subsequentes de Wittgenstein sobre esse assunto (RPP I e II, LW I e II)[18]. É somente com o exame conclusivo do querer dizer algo que somos trazidos de volta à preocupação central da investigação que começou com imagem agostiniana do significado. Ele é, com certeza, apoiado pelo exame antecedente da pretensão.

Reflexões sobre a vontade

§§611–28 são uma breve porém poderosa discussão acerca da vontade e da ação voluntária. É difícil ver qualquer razão para isso, salvo que ela provê os panos pretos (blackcloth) para a investigação subsequente da pretensão, a qual, por sua vez, é preparatória para o exame final do querer dizer algo. No entanto, é evidente que Wittgenstein aqui está revisitando uma perplexidade schopenhauriana de sua juventude, evidente nos Notebooks 1914–16 (NB 86–9), a qual ele agora está em posição de dissolver. Quando se age voluntariamente, faz-se algo porque se quis fazer isso (e não acidentalmente ou involuntariamente), a disposição ou o querer de alguém não é, contrário à tradição empirista, uma experiência — algo que acontece a alguém. Mas também não é algo que alguém faz, como a reação schopenhauriana ao empirismo sugere. O que se faz quando se levanta o braço voluntariamente é levantar o braço, não querer e deste modo provocar o movimento do braço. O que provocamos são as consequências causais do que fazemos voluntariamente. Ter vontade (ou querer) não é uma ação que se performa de forma alguma — não é algo que se faz. Assim, nem levantar o braço nem a ascensão do braço são algo que se provoca quando se ergue voluntariamente o braço.

A breve discussão da ação voluntária leva suavemente a uma discussão sobre intenções e ação intencional (§§629–60). Ela é executada com grande sutileza através de um exame da lembrança do que alguém estava prestes a fazer ou dizer antes de ser interrompido. Lembrar a intenção de alguém não é lembrar de um fenômeno mental, um evento, estado ou experiência, que fora a intenção. Nem é o resultado de interpretar qual quer que seja o fenômeno mental que possa ter ocorrido ou obtido no momento em que se pretendia. Intenções, como tantas outras instanciações de outros conceitos psicológicos, estão integradas ao contexto no qual elas surgem. O Urphänomene[19] aqui não é uma experiência ou evento que é reportado no enunciado “Eu ia…”, mas o jogo de linguagem. As raízes do jogo de linguagem com expressões de intenção se fundam no comportamento de ação intencional incipiente. O jogo de linguagem primitivo é o uso de “Eu vou…” para anunciar uma ação. Se alguém usa essa elocução para anunciar uma ação, ele deve prosseguir em performar a ação. “Eu ia…” não é a descrição de um episódio que alguém se lembra, mas um enunciado de memória ou uma declaração distintiva daqueles que dominaram o uso de “Eu vou…”. Lembrar que alguém ia fazer fazer algo se assemelha a lembrar que alguém poderia ter continuado. Então, se lembrar de uma intenção se assemelha a lembrar de ter entendido. Estes pensamentos proveem a conexão para a discussão final do livro — o exame do querer dizer algo (meaning something), um assunto que é complementar às discussões antecedentes sobre entendimento e pensamento.

O tema final das Investigações

O tema do querer dizer algo por uma palavra ou sentença surgiu recorrentemente ao longo do livro. É um resíduo de equívocos que encalçam a primeira filosofia de Wittgenstein, onde querer dizer algo por um expressão fora concebido como um método de projeção conectando palavras e mundo, sentenças e seus sentidos. Mas é também um componente crucial em uma imagem mal orientada da linguagem e da comunicação que tem sido o principal alvo através de todas as Investigações: a saber, a concepção de que os signos da linguagem como recebendo “vida” pelos atos do querer dizer (pelo lado do falante) e da interpretação, como um pré-requisito para o entendimento (pelo lado do ouvinte). De acordo com essa concepção, linguagem, significado linguístico e comunicação por meio da linguagem devem ser redutíveis aos, ou serem capazes de serem explicados em termos de, conceitos psicológicos de querer dizer, pretender e pensar, por um lado, e interpretar e entender, do outro lado. Isso implicaria que, ao contrário da descrição de Wittgenstein, a normatividade da linguagem é meramente um fenômeno superficial, redutível ao alicerce psicológico subjacente dos atos e atividades de querer dizer, interpretar e entender. Mas isso é uma ilusão, repousando sobre interpretações erradas desses conceitos psicológicos. “Seguir de acordo a uma regra”, como Wittgenstein observara em outro lugar, “é FUNDAMENTAL para nosso jogo de linguagem” (RFM 330)[20] e a tentativa de soterrar o nível das práticas normativas de se falar uma língua leva apenas mais ilusão e confusão. Pois abaixo do nível da normatividade a intencionalidade da linguagem se desintegra. Pois a explicação das múltiplas características da intencionalidade é inteiramente gramatical e normativa (cf. §§428–65). Assim, para encerrar as tentações de se reduzir o normativo ao psicológico, é ainda necessário desmitificar a noção de querer dizer algo pelas palavras.

§§661–93 faz isso. Os pontos negativos a serem estabelecidos são de que querer dizer algo não é um ato, atividade ou processo mental. Querer dizer algo também não é uma forma de pensamento. Em particular, ter querido dizer a alguém ou algo pelo que se disse não é o mesmo que ter pensado nele ou nisso enquanto se dizia o que se disse. Querer dizer, feito intencionar, não tem conteúdo experiencial e não pertence à categoria da experiência. Querer dizer algo pelas palavras não é algo que se faz nem algo que acontece a alguém. Longe de querer dizer ser um ato mental portador de intencionalidade intrínseca, que dota os signos da linguagem que se usa com intencionalidade derivada, a intencionalidade de querer dizer algo pelas palavras é uma função parcial dos significados dessas palavras e depende do domínio de alguém na técnica do seu uso.

As Investigações terminam nesse ponto. É possível que Wittgenstein pensasse que a desmistificação de querer dizer algo levasse a investigação da linguagem e do significado linguístico a um círculo completo. As má-compreensões concernentes à natureza da linguagem e sua relação com a realidade, por um lado, e ao pensar, por outro lado, que se iniciaram com a citação de Santo Agostinho, foram inteiramente desvendadas. Uma concepção da linguagem e do significado linguístico, da gramática e sua autonomia, da intencionalidade, do pensamento e do entendimento, foram apresentados para tomar o lugar dos mal-entendidos extirpados. Um método de se lidar com os problemas filosóficos foi exemplificado de novo e de novo, e uma concepção radical da filosofia e do que ela pode alcançar foi avançada. Embora apresentada como um álbum de esboços, as Investigações nos dão uma imagem compreensiva da vasta paisagem percorrida.  Se seguimos as pegadas de Wittgenstein, e também usamos nossos próprios olhos, agora devemos saber como contornar nosso caminho.

Notas

[1] Texto retirado de Wittgenstein: Understanding and Meaning (An Analytical Commentary on the Philosophical Investigations, vol. I, part. II, second edition). Tradução não oficial feita sem fins lucrativos, todos os direitos reservados a P. M. S. Hacker e G. P. Baker. (N.T.)

[2] O artigo original não possui essa divisão tópica, mas optei aqui por fazê-lo, uma vez que isso torna a leitura mais simples e fluida. (N.T.)

[3] Aqui o autor utiliza a palavra rhyme que quer dizer rimar ou fazer rima, podendo também ser versar ou fazer verso. Nenhuma dessas traduções parece fazer sentido ao contexto, de forma que usar bom senso, que me pareceu a melhor escolha. (N.T.)

[4] Palavra alemã para Comentários. Hacker aqui se refere às Philosophischen Bemerkungen, nome original da obra de Wittgenstein.

[5] A expressão “stands for” não possui tradução adequada para o português da forma que é usada por Hacker, querendo, literalmente, dizer algo como “apoiar” ou “aguentar”. Aqui optei por “representar”, uma tradução não literal. (N.T.)

[6] No original: “This is how the things stand”

[7] No original: “Janus-faced methodological discussion”. A expressão se refere a Janus, deus romano que simbolizava a mudança, a transição, e era representado com dois rostos opostos em sua cabeça: um apontando o futuro e a outra, o passado.

[8] Os termos no original são “belongs” e “fit”. O termo fit significa algo como, agarrar-se, adequar-se, encaixar-se, ou, menos literalmente, corresponder, tradução aqui seguida. (N.T.)

[9] No original não existe a interrogação, mas a frase é construída em forma típica de pergunta no inglês, o que sugere um erro de edição. (N.T.)

[10] Para uma explicação desse termo técnico, veja "Understanding and ability”, sect. 4(c).

[11] O Early Draft (em alemão, Frühfassung (FF), ou “Rascunho Inicial”), também referido como TS 220 — pela numeração de Von Wright — é um texto datilografado feito a partir do Manuscrito 142 de Wittgenstein, o qual por vezes também é citado como “PPI”: Proto-Philosophycal Investigations. Wittgenstein tinha o plano de publicar o texto no período entre guerras em uma edição bilíngue inglês-alemão com a tradução de seu aluno Rush Rhees, sob o título de “Philosophical Remarks”. Insatisfeito com o resultado, Wittgenstein adiou a publicação — tanto, que o próprio nem viveu para vê-la. (N.T.)

[12] Livro póstumo publicado em 1956 por Elizabeth Anscombe, Rush Rhees e von Wright, alunos de Wittgenstein, com base nos manuscritos de 1937-44. (N.T.)

[13] O Intermediate Draft (Zwischenfassung) é o texto que introduz uma das (senão a) mais célebres partes das Investigações: o argumento da linguagem privada e os comentários sobre filosofia da psicologia. Trata-se de um manuscrito de 195 páginas com 300 observações numeradas e correspondem, grosso modo, ao que hoje são os §§1–421 das Investigações. Subsequente ao ZF vem o Later Draft (SF) ou TS 227, escrito em 1945 e consistindo em 324 páginas. Este e os manuscritos acima citados formam o que hoje se conhece como “Parte I” das Investigações Filosóficas. A “Parte II” foi escrita entre 1947 e 1949 e é discutível se ela realmente é uma “parte II” da obra de Wittgenstein. Em seus comentários, Hacker se limita a analisar tão somente a chamada Parte I. (N.T.)

[14] Expressão latina para “em suma” ou “em síntese”.

[15] “Eu sei que estou com dor” deve ser vista aqui como sendo do mesmo nível que “Eu sei que isso me parece como se eu estivesse percebendo…” ou “Eu sei que sensivelmente me parece como se…”, estas sendo tomadas na função de fundamentos do conhecimento empírico.

[16] Isso, provavelmente, é um eco de Schopenhauer.

[17] Conceitos que conotam vontade, esforço, desejo de fazer algo. (N.T.)

[18] Referem-se, respectivamente, aos escritos Remarks on Philosophical Psychology I e II e Last Writings on Philosophical Psychology I e II, publicados postumamente pelos alunos de Wittgenstein em 1980 e 1982. (N.T.)

[19] Termo cunhado por Goethe em sua teoria das cores, quer dizer “Fenômeno original”. (N.T.)

[20] A sigla se refere a Remarks on the Foundations of Mathematics, publicado pelos alunos de Wittgenstein em 1978. (N.T.)

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